Regra para a correspondência dos irmãos com o
Sr. Le Prevost. Conduta a levar frente a um seminarista residente na casa.
Conselhos de direção. O combate espiritual sempre há de se travar.
Vaugirard,
14 de janeiro de 1860
Caríssimo filho em N.S.,
Havia muito tempo que não tinha recebido de você uma cartinha escrita de
coração aberto, tenho necessidade, às vezes, de meus caros filhos falarem assim
comigo; por isso, convidei nosso bom padre Lantiez a me trazer algumas palavras
suas escritas com simplicidade e confiança. Você entendeu meu desejo, caro
filho, e respondeu-lhe bem: sua carta me foi bem agradável e reencontrei nela
meu filho Alphonse. Combinei com nosso caro Sr. Halluin que os irmãos de Arras
me escrevessem de vez em quando diretamente, sem ter necessidade de lhe
comunicar suas cartas e que minhas respostas lhes fossem também entregues
seladas. Determinei também a mesma coisa com o Sr. Caille para os irmãos de
Amiens. É um uso que existe em todas as Congregações e cuja utilidade real foi
reconhecida. Não é por querer encorajar assim os irmãos a faltar de abertura
com seu Superior ordinário; não, mas quer-se proporcionar a eles mais um meio
de expansão para com o Superior comum, a fim de que ele continue bem a par das
disposições de todos os seus filhos; quer-se também, se eles têm alguma pena,
que a possam confiar a ele ; muitas vezes, um pequeno conselho, uma palavra de
encorajamento pode consolar uma alma entristecida e devolver-lhe a
tranqüilidade. Você usará portanto, caro filho, dessa faculdade, assim como
nossos outros irmãos, em toda liberdade, sem prejuízo para a confiança que você
guardará em seu padre Halluin tão bom, tão capaz de bem aconselhá-lo.
Espero como você, caro filho, que a presença do jovem seminarista que reside na
comunidade não atrapalhe nada nos costumes da casa; é uma experiência que vamos
fazer. Se não desse os bons resultados que esperamos para o alívio do Sr.
Halluin e o seu, procuraríamos outros meios. Infelizmente, nossa boa vontade é
maior do que a nossa força e, até agora, conseguimos bem pouco dar um apoio
eficaz num ponto, sem pôr alguma outra parte a descoberto. No entanto, nossa
intenção é fazer esforços mais do que ordinários para preparar, daqui até o mês
de setembro, algum auxílio verdadeiramente eficaz para sua casa. Esperemos que
o Senhor digne-se dar-nos, para essa finalidade, sua divina assistência.
Você evitará, caro filho, toda suscetibilidade para com o jovem seminarista que
tem a boa vontade de ajudá-los, você respeitará as santas ordens às quais já
foi admitido, você viverá em caridade e benevolência com ele e, se não tem,
como é natural obrigação de obediência para com ele, você cuidará ao menos de
não feri-lo por alguma falta de cortesia e de boa vontade; conto com seu bom
espírito para seguir essa linha prudente e caridosa ao mesmo tempo; você
esforçar-se-á para que nossos irmãos ajam da mesma maneira e você não terá
assim, espero, senão motivo de felicitar-se de seus relacionamentos com o Sr.
Lemaire.
Entendo bem, caro amigo, que o Sr. Halluin, estando muito carregado e
preocupado, não possa ter a liberdade e a folga de atraí-lo a si e de
proporcionar-lhe um pouco de efusão afetuosa de que você tem necessidade.
Ofereça momentaneamente esse sacrifício ao Senhor e procure redescobrir, numa
terna intimidade com Ele, o que lhe falta do lado dos homens; tenha plena
certeza disso, se voltar-se para esse lado, encontrará ali muita força e
consolação. Daqui a pouco, aliás, o Sr. Myionnet tornará a vê-lo, vou escrever
para você e, enfim, espero que, numa época não muito distante, consigamos
apoiá-lo melhor.
Quanto
às tentações que o aborrecem, faça como no passado; reze, exerça a vigilância
sobre seus sentidos, humilhe-se diante de Deus, faça um pouco de mortificação.
São elas para você uma ocasião de gritar mais vezes para Deus a fim de
pedir-lhe socorro, e também de provar-lhe que você o ama. Seria uma ilusão
pensar que você poderia evitá-las melhor em outra situação; o mal nos segue, o
carregamos em nós mesmos. É um combate que dura, mas cada vitória conta e é
meritória; por isso, Deus não quer pôr fim a ele.
Adeus, caro filho, todos os nossos irmãos os abraçam, você e os que estão com
você; rezamos por vocês, unimos nossos trabalhos aos seus e nossos corações
também se unem a vocês nos Corações sagrados de Jesus e de Maria.
Seu afeiçoado amigo e Pai
Le Prevost
Recebi para você uma cartinha, para você e para seu irmão, de seu jovem
sobrinho Godé; como contém absolutamente apenas algumas frases de feliz ano
novo e que minha carta de hoje está bastante carregada, adio seu envio para o
próximo correio.
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