Resposta à
Sociedade de São Vicente de Paulo a respeito da propriedade dos imóveis de
Nazareth e de Grenelle.
Vaugirard,
24 de dezembro de 1860
Meu
excelente amigo,
Respondo
com o menor atraso possível ao convite que me fez de procurar com você os meios
de assegurar os direitos que pode ter a Sociedade de São Vicente de Paulo sobre
os dois estabelecimentos de Nazareth e de N. D. de Grâce. Pedi a Deus, antes de
tudo, para me esclarecer, a fim de nada dizer que não fosse segundo a caridade,
segundo o coração de você, conseqüentemente314.
Parece-me
em primeiro lugar que, com a boa vontade que nos anima de ambas as partes, não
é muito difícil encontrar, sobre o ponto de que se trata, uma solução
satisfatória. Basta, para isso, a meu ver, estudar as condutas da Providência
na formação dos estabelecimentos em questão, e conformar-se a isso em toda a
simplicidade. Em primeiro lugar, aprouve à sua divina Sabedoria que a
iniciativa e a responsabilidade desses estabelecimentos fossem aceitas por mim,
na recusa da Sociedade de São Vicente de Paulo, e que o fundo essencial da
fundação fosse o resultado de minha labuta e de meus cuidados; acho que convém
levar em conta esse primeiro fato. Por um efeito da vontade de Deus, minhas
forças tendo enfraquecido na execução da obra de Nazareth em particular, nossos
amigos, e você à sua frente, meu excelente amigo e irmão, vieram a meu socorro
por um puro movimento de generosidade e de afeição no princípio, e, mais tarde,
no interesse também da Sociedade de São Vicente de Paulo, cujas obras você
desejava assim favorecer. Aceito, como a primeira, essa segunda disposição onde
vejo ainda a ação do Deus de caridade. Ele quis, estou profundamente convicto
disso, que nossos esforços fossem unidos e, ajuntando suas penas e as de nossos
Confrades às minhas, Ele tendeu a estreitar os laços que deviam nos associar no
interesse do bem. Mas aqui, você observa justamente que, se o movimento inicial
e os trabalhos de nossa Comunidade para a fundação das casas em questão são
constatados pelas garantias e títulos que ficam entre as mãos dela, o concurso
dado em seguida por você e por nossos Confrades permanece até agora sem
reconhecimento expresso e sem direito formal. Penso com você, meu bom amigo,
que os homens melhores e mais dedicados têm seus momentos de paixão ou de
ilusão, que os mal-entendidos acontecem até entre os servos de Deus, que pode
ser sábio, conseqüentemente, que a Sociedade de São Vicente de Paulo se
assegure algumas garantias representando o apoio e o concurso que deu a esses
dois estabelecimentos. A meu ver, ela as teria vantajosamente tomando sobre os
dois imóveis uma hipoteca proporcionada às importâncias que forneceu ou que
poderia ainda fornecer. Esse meio, que salvaguardaria de um modo eqüitativo
seus direitos, confirmaria ao mesmo tempo para o futuro a associação de nossos
trabalhos e dos da Sociedade, pois as hipotecas em questão representariam
necessariamente importâncias consideráveis demais para que se pudesse
facilmente desligar-se de um lado ou de outro.
Não
vi, meu caro amigo, após exame amadurecido, meio mais simples e mais seguro de
dar satisfação ao pedido que você me fez; espero que vá parecer-lhe, assim como
a nossos Confrades, tal como você o desejava. Não saberia, de resto, lembrar-lhe
bastante que suas intenções e as nossas são absolutamente idênticas: procurar à
Sociedade de São Vicente de Paulo como à nossa Comunidade que lhe é toda
dedicada, um local para as obras, fazer dessas obras ocasiões de santificação
para aqueles que trabalham nelas e meios de salvação para os seus
destinatários; é, para você como para nós, o único fim que almejamos.
Alguma
vez o pensamento me veio que, esmagado pelos cargos multiplicados que suas
obras fazem pesar sobre sua pessoa, você me agradeceria se eu retomasse, ao
menos momentaneamente, o cuidado de procurar os recursos para diminuir as
dívidas que pesam ainda sobre Nazareth e N. D. de Grâce. Fiquei parado
sobretudo pelo medo de não conseguir isso senão fracamente nas condições de
saúde e de retiro obrigatório em que me encontro, e de recuar assim
indefinidamente o momento em que nossas obras usufruirão, sem despesas de
aluguel, dos locais que as abrigam. Deixo, todavia, a questão à sua apreciação
e, se você achasse nisso algum alívio, tenha certeza, meu bom amigo, que eu
utilizaria, nem bem nem mal, meu resto de forças para procurá-lo a você.
Continuo
sendo como sempre, com uma cordial e inalterável afeição,
Seu
todo devotado amigo e irmão em N.S.
Le Prevost
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