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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 701 - 800 (1860 - 1861)
    • 741 - ao Sr. Baudon
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741 - ao Sr. Baudon319

Seqüência da controvérsia sobre a propriedade dos imóveis de Nazareth e de Grenelle.

 

Vaugirard, 30 de janeiro de 1861

 

Senhor Presidente Geral,

 

Como você, resigno-me com um sentimento penoso às explicações que exige o caso das duas casas de Nazareth e de Notre-Dame de Grâce. É bem difícil, com efeito, que, ao se prolongarem, não levem a alguns choques que podem esfriar a caridade entre nós e pôr embaraço em nossos relacionamentos. Mas, já que você julga, Senhor Presidente, que é preciso continuar o exame dessa questão, esforçar-me-ei por trazer somente nisso os detalhes estritamente necessários e nada dizer que possa prejudicar a união que temos tanto interesse, de ambas as partes, em poupar.

 

Não estava acostumado até agora a calcular com a Sociedade de São Vicente de Paulo: eu lhe era cordialmente demais dedicado para definir, de costume, bem rigidamente seus interesses e aqueles dos quais estou mais diretamente encarregado. Todavia, quando nosso amigo, Sr. Decaux, me falou, há uns dois anos, da casa de Nazareth em particular, respondi que me parecia justo que ela ficasse sob o nome da Comunidade; desde então, não pensei mais nisso, mas nada disse nem nada escrevi num sentido contrário, meu pensamento nunca tendo mudado sob esse aspecto. Quando, em último lugar, na véspera de minha ordenação, fui avisado, um pouco bruscamente, que tinha que ocupar-me ainda desse caso e do de Notre-Dame de Grâce, procurei de novo, diante de Deus, a quem esses dois estabelecimentos haviam sido confiados pelo mundo caritativo, a quem os operários e os pobres os atribuíam, a quem a autoridade diocesana havia entendido confiar as capelas em particular, a quem, enfim, o Sr. Pároco de Grenelle havia querido entregar a fundação que ele desejava estabelecer em sua paróquia; pareceu-me que era a nós; esses testemunhos me pareceram de um grande peso, acho que não poderiam ser recusados.

 

Você parece persuadido, Senhor Presidente, de que nossa Comunidade contribuiu fracamente na fundação da casa de Nazareth notadamente, que ela não pode reivindicar muito mais do que a iniciativa e o primeiro pensamento desse estabelecimento, e que, em todo o caso, a Sociedade de São Vicente de Paulo, levando-lhe seu socorro num momento crítico, o salvou de sua ruína e de uma catástrofe iminente. Acho que as coisas podem ser encaradas sob um outro aspecto. Se, desde o início, o empreendimento foi realizável, se ele pôde tornar-se recomendável por fora, se seu lugar encontrou-se preparado, em uma palavra, ele o deveu a meus trabalhos, durante 25 anos, e às obras que nossa Comunidade tinha, quase sozinha, fundado. De outro lado, quando, com a recusa da Sociedade, entrei pessoalmente em entendimento com o Sr. Hamelin, Pároco da Abbaye-aux-Bois, para o local dos Capuchinhos, ele me declarou, muito prevenido contra as associações não paroquiais, que não entendia tratar senão comigo somente. Foi, portanto, a mim unicamente que cedeu as vantagens que sua posição lhe permitia fazer nesse ajuste, a saber: para 6.000f a capela começada, a qual havia custado 34.000f, e o terreno a 22f o metro, embora seu valor fosse então de 45 ou 50f. Foi também pela intervenção do Sr. Hamelin que obtive, desde então, o apoio dos Srs. de Kergorlay e de Fontette. Paguei naquele tempo e sucessivamente, com dons recolhidos por mim, 5.000f para despesas de aquisição, 15.000f sobrando devidos ao Sr. Desgenettes para a obra dos Capuchinhos, e para trabalhos da capela e outros, uns 50.000f; no conjunto, eu tinha reunido, incluindo nisso alguns empréstimos, uma importância total de 128.000f, sobre os quais 12 ou 13.000f, acho, haviam sido tomados dos fundos próprios da Comunidade. Longe de mim o pensamento de diminuir em nada o preço dos bons ofícios de nosso amigo, Sr. Decaux; o movimento generoso que o levou a vir ao nosso socorro não se apaga de nossa lembrança, continuamos sendo profundamente gratos por ele, e os detalhes em que estou constrangido a entrar neste momento não diminuem de maneira nenhuma o valor de sua nobre ação. Mas não é exato que o empreendimento iniciado por mim fosse ameaçado então por uma catástrofe nem iminente nem mesmo provável. A operação se tornava difícil, sem dúvida, para meus irmãos mais acostumados aos trabalhos de suas obras do que a buscar recursos, mas estavam eles totalmente desprovidos de meios e inquietados por necessidades urgentes? O pagamento da aquisição estava garantido, o primeiro terço dos trabalhos, único exigível nesse momento, estava pago, sobrava alguns fundos na caixa e algumas obrigações de vencimento próximo; os ajustes feitos por mim com os empreiteiros estipulavam longos prazos para os pagamentos, meus amigos não haviam sido solicitados todos e só esperavam uma viva impulsão, enfim a Providência, e isso será a seus olhos, Senhor Presidente, o melhor argumento, teria Ela abandonado os que nela se haviam confiado? Na ordem das coisas positivas, acrescento que o Conselho da Comunidade aceitara comigo a responsabilidade do empreendimento e que ele podia e teria querido, declaro-o com ele, prevenir-lhe a ruína; uma catástrofe, portanto, não havia de se temer, de jeito nenhum, ela nem era, até, possível.

 

No que diz respeito, de outro lado, a Notre-Dame de Grâce, você opõe, Senhor Presidente, a minhas disposições presentes algumas palavras que pareceriam contradizê-las. As coisas mudaram em lugar de meu pensamento e de minhas disposições. Tratava-se, no início, de estabelecer no terreno a adquirir com os fundos do Sr. Pároco de Grenelle, uma casa, em aparência bastante ampla, e cuja despesa devia ser paga pela Sociedade de São Vicente de Paulo; nessas condições, a dúvida era possível sobre a posição respectiva. Mas, na realidade, as coisas tomaram outro rumo; os fundos do Sr. Pároco pagaram uma parte da construção; as importâncias quase inteiras recolhidas para concorrer às despesas a partir de outras fontes, o foram pelo Sr. padre Roussel, de sorte que a Sociedade, nos encargos da fundação, não interveio muito, a não ser pelos dons generosos do Sr. Blondel, os quais, fora, acho, de 4.000f, foram afetados por ele aos móveis do oratório, à ginástica, etc. Em último lugar, trata-se hoje de erigir uma capela cuja responsabilidade nos é deixada e cujo preço quase igualará o da propriedade toda inteira; essas circunstâncias não modificam a situação? Se quiser, além disso, Senhor Presidente, lembrando-se da origem e do desenvolvimento das obras de Grenelle, considerar qual parte teve nisso nossa Comunidade, você pensará que, sendo que há necessidade, afinal, em Notre-Dame de Grâce como em Nazareth, de guardiões, temos algum direito a conservar esse título. Guardiões, com efeito; escrevi, dizem, essa palavra, e, se não o fiz, inscrevo-a aqui com muito gosto. Qual outro nome nos conviria melhor na realidade? O de proprietário não seria aqui uma pura ficção, os únicos e verdadeiros proprietários desses imóveis não são os operários, as crianças e os pobres? Quem os usufrui, depois deles, como donos senão os Confrades de São Vicente de Paulo? Poderíamos alienar, segundo nosso bel-prazer esses estabelecimentos, poderíamos, até, mudar-lhes, arbitrariamente, o destino? onde, portanto, estão nossos direitos de propriedade? Repito, guardiões e servos, não somos outra coisa. Nossos irmãos, nas obras da Sociedade, aceitaram os trabalhos incessantes, a pobreza e a dependência; como repouso e ponto de apoio, sobra para eles unicamente seu papel de guardiões em título dessas duas instituições. Não acredito que se deva, sabiamente, não acredito que se possa, de um modo eqüitativo, tirá-lo deles.

Lamento, Senhor Presidente, ter tido de falar assim de direitos, de serviços; tudo isso tendo sido posto aos pés de Deus não queria ser realçado, mas eu tinha que justificar aqui minhas palavras, meus atos, quase minhas intenções; tive que sair da reserva ordinária, volto a ela muito apressado e muito resolvido, aconteça o que acontecer, a não mais sair dela. Espero também que esse penoso debate esteja para acabar; você acha mais admissível, após exame, Senhor Presidente, a acomodação proposta por mim, e você não recusa procurar os meios de executá-la. Estou convicto, do meu lado, de que as dificuldades de realização, se há, podem ser tiradas pela boa vontade e o espírito de conciliação de ambas as partes.

 

Queira ter a certeza, Senhor Presidente, de que permaneço disposto, assim como meus irmãos, a tudo fazer, como pelo passado, para o bem das obras, de acordo com nossos amigos e Confrades de São Vicente de Paulo. Minha união com eles é de data bem antiga e me é particularmente cara, desejo não quebrá-la, senão no dia em que Deus me chamar de volta a Ele.

 

Sou, com uma respeitosa afeição, Senhor Presidente,

 

Seu humilde servo e irmão em N.S.

 

                                   Le Prevost

 





319 Uma cópia desta carta, como das duas seguintes ao Sr. Baudon, cf. infra no745 e 749, se encontra também nos ASV. Nessa cópia, o Sr. LP. acrescenta, com seu próprio punho, mais tarde: “20 000f  foram, depois, dados pela Comunidade a Nazareth e 30 000 a Grenelle”.





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