Dissentimento
persistente com a Sociedade de São Vicente de Paulo. O Sr. Le Prevost vai
celebrar a Missa, no relicário de São Vicente de Paulo, para tornar mais fácil
a solução da disputa.
Vaugirard,
7 de fevereiro de 1861
Senhor
Presidente Geral,
Estou
vivamente entristecido pela pena que você parece ressentir a respeito das
disposições que tratava-se de resolver entre nós concernente às casas de
Nazareth e de Notre-Dame de Grâce. Sinto-me na urgência de dizer-lhe que não
desconheci suas intenções em nenhum instante, estive associado de perto demais
à ação da Sociedade de São Vicente de Paulo para ignorar qual nobre e reto espírito
preside constantemente à sua direção; portanto, não pensei, de maneira alguma,
Senhor Presidente, que a preocupação de vantagens materiais fosse seu motivo na
discussão que se levantou entre nós; acreditei sinceramente, e sempre acredito,
que você tinha em vista somente o bem das obras e a união de nossas forças para
procurar a glória de Deus. Mas, permita-me assegurá-lo ainda de que estou, com
todos os meus irmãos, nos mesmos sentimentos e que acreditei tender a esse fim
nas propostas que tive a honra de lhe submeter. Não posso aceitar a decisão que
você me notificou no dia 4 deste mês, já que ela não parece dar-lhe satisfação
e que ela tende, com efeito, a dividir mais as posições entre nós, longe de
realizar uma mais íntima aproximação. Continuo, portanto, disposto a buscar de
novo em toda cordialidade alguma combinação que possa melhor concordar com seu
ponto de vista. Acho, Senhor Presidente, que matizes bem fracos separam suas
opiniões das nossas. Não acho que a co-propriedade entre nós dos imóveis em
questão seja um meio feliz, porque ela me parece uma causa constante de
embaraços, de conflitos e de dificuldades, mas achava sinceramente dar seu
equivalente por minha proposta. Não entendo reproduzi-la aqui, renunciarei a
ela se você a recusar definitivamente; no entanto, parecia-me que, se a
Sociedade de São Vicente de Paulo, terminando o que tinha começado para
completar a fundação de Nazareth, por exemplo, tivesse sido garantida por nós
de um reconhecimento regular, constatando que ela tinha concorrido por uma
importância de (suponho 140.000f, não tendo documentos precisos, mas somente
aproximativos), ela teria, mesmo sem hipoteca, sido realmente co-proprietária,
sendo que essa importância representa mais ou menos a metade do valor do
imóvel. Ela teria tido, por isso mesmo, uma garantia da constância de nossa
associação, pois como uma Comunidade pobre como a nossa poderia, sem se reduzir
ao perigo extremo, reembolsar uma tal importância, tendo ainda, ao mesmo tempo,
de fornecer também indenizações para a casa de Notre-Dame de Grâce?
A
associação assim firmemente assentada e garantida, os interesses continuavam
sendo comuns sem que houvesse, porém, nos laços essa contextura absoluta que
poderia amedrontar, parece-me, ambas as partes igualmente. Ficava, é verdade,
nessa solução, uma pequena vantagem de posição para a Comunidade e é, na
verdade, o único motivo de minha insistência a esse respeito; mas não foi ela
preparada pela Providência? não é uma sorte de balança, talvez indispensável na
condição subordinada e dependente que temos escolhido, enfim, não teria ela, em
sentido contrário, uma larga compensação no enorme crédito que deixávamos pesar
sobre nós? Essas observações não visam, repito, Senhor Presidente, reproduzir
outra vez a combinação que eu tinha proposto, mas mostrar, num espírito de
conciliação, como ela estava bem pouco longe de suas vistas ou, para melhor
dizer, como ela podia facilmente realizá-las.
Ouso
pedir-lhe, Senhor Presidente, quaisquer que sejam as combinações a intervir
definitivamente, para levar em conta as dificuldades de nossa posição. Temos,
no espírito da época, no enfraquecimento da fé, nas desconfianças do clero,
obstáculos quase insuperáveis; nossos encargos são esmagadores: 20 jovens de 20 a 30 anos estão no Noviciado
em Vaugirard e, para serem formados, instruídos, moídos nos sacrifícios, pedem
cuidados, penas, recursos que só imperfeitamente estamos conseguindo. Não seria
bom que a Sociedade de São Vicente de Paulo, para a qual temos sobretudo
desejado trabalhar, nos estendesse a mão, em lugar de procurar, sem razão, com
certeza, garantias contra nós? Espero, Senhor Presidente, que o Sr. tenderá
para esse parecer. Em todo o caso, desejo vivamente, repito, que encontremos,
para a questão entre nós posta uma solução satisfatória para ambas as partes, e
continuo disposto totalmente a procurá-la de novo de acordo com você. Não
pensei que a entrevista proposta por uma de suas cartas, Senhor Presidente,
fosse presentemente um meio bem vantajoso, porque, no que me diz respeito,
estou fisicamente fora de condição para sustentar uma discussão, e porque me
parecia bem difícil evitar assim choques que, com grande dificuldade, pudemos
afastar numa correspondência; mas sinto como você, Senhor Presidente, a
necessidade de relacionamentos mais freqüentes entre nós para concertar nossa
ação em nossas obras comuns. Proporei, portanto, que os Srs. Myionnet e
Lantiez, que me assistem mais constantemente, tivessem todos os meses ao menos
algum colóquio regular com o Sr. Decaux, ou mesmo com você quando o julgaria
possível; eu iria, de meu lado, quando minha saúde, sempre mais fraca, não me
impediria. Enfim, Senhor Presidente, eu proporia ainda que, num dia próximo,
escolhido por você, fossemos, você, o Sr. Decaux e aqueles de nossos Confrades
que você acharia dever levar à Capela de São Vicente de Paulo, onde alguns de
meus irmãos estariam igualmente. Eu ofereceria ali o Santo Sacrifício,
rezaríamos, comungaríamos juntos; acho que essa aproximação na caridade do
Salvador e sob os olhos de nosso pai São Vicente, revivificaria, cimentaria
nossa união e tornaria mais fácil, em seguida, a solução dos penosos
desentendimentos que nos entristeceram de ambas as partes.
Continuo
sendo, Senhor Presidente, com uma sincera e respeitosa afeição,
Seu
humilde servo e irmão em N.S.
Le Prevost
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