Atingido pela cólera,
o Sr. Le Prevost esteve muito perto da morte. A provação é uma ocasião de
progresso espiritual. A situação matrimonial de V. Pavie sempre incerta.
16 de
novembro de 1833
Pobre amigo, a você também sofrimentos, e Deus sabe, bem mais agudos que
os meus. Os meus estavam perto da morte, os seus duplicam a potência de sua
vida mas para duplicar também a pena. Sendo que você o quer, caro amigo, e
também para desviar um instante sua atenção, vou lhe dizer que aprouve ao Céu,
como lho disse Gavard, mandar-me uma provação um pouco mais rude que de
costume. Uma investida bastante violenta da cólera foi o início de minha doença
e, durante vários dias, acidentes tão pavorosos me assaltaram que muitas vezes
aguardei a última hora; um dia sobretudo, tenho a firme certeza, a morte estava
em ação. Eu
sentia que ela agia em mim, os laços os mais íntimos eram quebrados um a um.
Oh! como, nesse momento, a vista de um padre, que foram buscar às pressas, me
fez bem, como Deus foi bom e terno para comigo. Sem ele, sem meu título de
cristão, nunca teria suportado essa horrível angústia; e depois ainda, durante
as semanas que seguiram, com o corpo esgotado, o espírito abatido, apavorado,
perseguido por terrores, por fraquezas nervosas, num profundo desânimo,
assustado desde que por um momento estava sozinho, como uma criança nas trevas,
meu único apoio ainda, minha única paz estava em Deus. Chorava, gemia
sob sua mão e levantava-me menos triste, menos desanimado. Hoje enfim, estou
longe de toda recaída e de todo perigo, mas arrasto-me numa convalescença
triste e lenta. Eu sou fraco de corpo e minhas faculdades continuam ainda tão
abaladas que todo trabalho me é impossível; mas tenho, todavia, alguns
instantes suaves e consoladores, quando Deus me faz sentir no coração que ele
me quer assim, que posso agradar-lhe assim em langor e submissão.
Este remédio eterno, em todas as fases do meu mal, possa você também, meu
querido irmão, tomá-lo, aceitá-lo também pelo seu. Infelizmente, devo dizê-lo,
minha fé não é tal que a consolação divina recobrisse absolutamente a ferida,
amortecesse a dor. Oh! não, um rude, bem rude sofrimento restava; o mesmo
acontecerá talvez para você, caro amigo. No entanto, haverá, creia-me, no mal
assim suportado, algo inefável e se, terminada a provação, você se achar mais
perto de Deus, será preciso se queixar das dores de uma estrada percorrida?
Haveria em outra esfera, na realidade das coisas, muitas outras consolações a
lhe oferecer. Não sei se a falta de todo detalhe em sua carta é a causa disso,
mas não pude encontrar nela essa certeza irrevogável de uma ruptura definitiva.
A situação está talvez bem menos ruim do que você pensa: uma mãe perto de uma
filha doente, mesmo se já a tivesse dado, a arranca para retomá-la em seu seio;
é para ela, nesse momento, o fruto que carregava, a frágil criança de peito que
amamentava outrora, e você quer que ela a deixe pegar, que, passado o mal,
deixe, de tão longe que seja, alguém aproximar-se de sua filha: é impossível.
Sinta isso, caro amigo. Tenha confiança no tempo ou antes em Deus que não fará
se espalhar sobre terra árida todos os tesouros de seu coração. Aí está a
preciosa semente que deve perpetuar sua boa e santa família, e Deus a
conservará, acredite em mim; depois, lá em cima, todos os ascendentes extintos
dessa família, suas mães sobretudo, pelas quais você tem tanta piedade, oram
por você, velam por você. Aconteça o que acontecer, portanto, tudo caminhará
para um final feliz. Confie somente. Espere em Deus!
Escreva-me logo, esperava desde há muito tempo a sua carta. Adeus, caro amigo,
em minhas horas mais penosas, sua lembrança estava presente comigo; oxalá a
minha, com minha terna, minha mui terna afeição, lhe sirva também de alguma
consolação.
Abraço como filho o seu pai; você como irmão.
Léon
Le Prevost
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