A
obediência, remédio contra a versatilidade. Não fugir a cruz. Lutar em paz
contra as tentações.
Vaugirard,
21 de setembro de 1861
Caríssimo
filho em N.S.,
Lamentava,
com efeito, que você me escrevesse tão raramente, mas acusava-me a mim mesmo
por sua pouca diligência, lembrando-me de que, às vezes, não tinha podido
responder sem atraso às suas cartas; procuro fazer melhor, escrevo somente
algumas palavras, mas mantenho minha correspondência em dia. Tenho também
notícias de você por nosso bom padre Planchat que está contente, no conjunto,
com as duas casas de Arras e de Amiens. Não acho, nem ele acha, que haja motivo
para inquietar-se de suas alternativas tão variadas de disposições, nem desse
humor móvel que faz com que você não se sinta muito bem em nenhum lugar; isso
vem de seu caráter em grande parte, seu irmão tem também a cabeça extremamente
móvel. Deus, sem dúvida, que sabe de que barro somos feitos, olha para suas
pobres criaturas com indulgência e dignar-se-á fazer-lhes misericórdia; Ele
pôs, aliás, em você, como contra-peso a essa instabilidade de espírito, um
certo sentimento do dever que o segurará sempre, espero, e o impedirá de
comprometer seu futuro de cristão e de religioso. Ame a obediência, caro filho,
acredite nas luzes dos outros antes do que nas suas, pois, no que lhe concerne
pessoalmente, seu próprio juízo o extraviaria infalivelmente.
Tenha
paciência com as pequenas contrariedades que pode encontrar em sua função; é a
cruz aqui, como era a cruz em outro lugar; você foge a cruz com impaciência e
aversão, ela o seguirá em toda parte; melhor seria tomá-la bravamente do que
levá-la com descontentamento e repulsão; você teria, então, a paz e um socorro
maior da graça de Deus.
Leia
os capítulos XI e XII do 3o livro da Imitation; acho que você
encontrará ali consolação.
Quanto
às suas lutas contra a carne, é a sorte comum, aí estão os combates do Senhor;
através de tudo, você fica de pé. Deus não o abandona, o tempo passa e cada dia
traz algum mérito; assim é a vida. Em uma outra condição, tal como a sonha sua
imaginação nos maus momentos e sob a inspiração do espírito de malícia, você
não estaria mais tranqüilo, se quisesse continuar sendo cristão realmente;
portanto, permaneça onde Deus o colocou, onde seu apelo ainda o solicita e onde
você encontrará a paz, se a procurar no seu bel prazer, no cuidado de sua
glória e na aplicação à sua salvação.
Adeus,
caro amigo, faça o bem a todos aqueles que o rodeiam, você estará contente e
você gostará de estar em Amiens ou em qualquer outro lugar que Deus lhe marcar.
Abraço-o
ternamente em Jesus e Maria.
Le Prevost
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