Reflexões
sobre a velhice. O Patronato de Sainte-Anne. Chegada do Sr. Audrin. Visita do
padre Braun. Uma comunidade não deve depender de seus benfeitores. O Santíssimo
Sacramento na obra de Metz.
Vaugirard,
24 de março de 1862
Caríssimo
padre e filho em N.S.,
Não
ficará muito bem se eu exortá-lo a nos escrever mais vezes, já que eu mesmo sou
tão vagaroso em minhas correspondências; os anos são a causa disso; os
movimentos dos idosos tornam-se pesados e a atividade de seu espírito desfalece
ao mesmo tempo; portanto, caríssimo amigo, indulgência e suporte para com esses
pobres velhos servos que o Senhor guarda em sua casa ainda por um pouco de
tempo a fim de que os jovens amadureçam e que eles mesmos sejam menos
imperfeitos para o Céu. De resto, não temos acontecimentos notáveis; tentamos,
desde ontem somente, prestar nossos serviços no patronato de Sainte Anne,
situado no bairro da Roquette; ele é muito numeroso, quase 300 crianças, e até
agora não constituído de forma alguma; teremos êxito, faremos algum bem ali?
Você o pedirá conosco ao Senhor que é o único que pode nos dar graça e
capacidade para agir. O Sr. Emile [Beauvais] e o jovem Moutier, aluno do Sr.
Maignen, começam esse empreendimento, sem, porém, se destacarem de Vaugirard
onde o primeiro é necessário e onde o secundo precisa ficar ali com folga,
sendo que seu noviciado começou somente há dois meses. Um outro sujeito [Sr.
Audrin] jovem operário de Nazareth, com 24 anos de idade, tendo valor em
virtude, em inteligência, em experiência, acaba também de entrar no Noviciado,
temos boa esperança a seu respeito.
O
padre Braun escapou-se, no meio dos exercícios de uma missão, e veio nos ver às
escondidas; sempre um pouco tímido para se arriscar, mas, porém, ele saiu muito
contente, me disse ele, e completamente decidido a vir a nós pela época do Bom
Pastor. Reze sempre bastante por ele e por nós; Deus o envolveu nessa vocação,
Ele tencionou, seguramente, que você contribua por seus méritos para trazê-lo a
algum final feliz num sentido ou noutro.
Você
me pediu, com nosso irmão Georges [de Lauriston], um parecer sobre seus
relacionamentos financeiros com seu Conselho de administração. Não posso responder
muito mais do que por considerações de ordem geral. É bom, de costume, que uma
comunidade não seja dependente, nos pormenores, das pessoas de fora que,
raramente, têm o espírito bastante amplo para não tornar sua intervenção
mesquinha, enredadora, embaraçante; mas, o que é freqüente pode às vezes não
existir: alegra-me pensar que é assim em Metz. Pode também haver dificuldade e
inconveniente em voltar para trás, se já você adiantou-se por comunicações que
já são uma sorte de laço com esses Senhores. Não posso julgar a situação de
outra forma, não a vendo com meus próprios olhos; você estará mais em
condições, de seu lado, para assentá-la conforme as circunstâncias puderem
pedi-lo. Ficarei sabendo com prazer da decisão que tiver tomado.
Nosso
caro Sr. André [Brouant] vai bem; ele está muito mais à vontade aqui do que em
Metz, onde as críticas destes, as observações daqueles o põem em inquietude e
alarmam sua consciência; bem esclarecido aqui sobre o plano de Deus a seu
respeito, ele anda bem direto e constantemente. Os outros vão bem também; o Sr.
Leon [Guichard] em Amiens dá satisfação, Ferdinand [Bosmel] sempre bom menino,
Sr. Pierre [Reisdorfer] sempre um pouco a arrastar-se em saúde, vai indo, no
entanto, com um pouco de esquisitice e originalidade de espírito.
Alegro-me
com você de que tem enfim o Santíssimo Sacramento. A casa terá seu verdadeiro
Superior; quanto a você, caro amigo, será seu representante, fará esforços para
que sintam bem que Ele fala através de você, age através de você, que sua
caridade, seu divino Espírito o anima, é a alma de sua alma; vou pedir-Lhe essa
graça que será a verdadeira e definitiva fundação de sua obra.
Todos
aqui o amam com uma cordial afeição; a pequena casa de Metz, a caçula, não é
nem a menos acompanhada com o olhar, nem a menos querida pelo coração.
Abraço-o
em N.S. e na Santíssima Virgem, nossa Mãe, e também em São José,
nosso Padroeiro.
Seu
todo afeiçoado Pai e amigo
Le Prevost
Não
poderei escrever hoje ao irmão Georges, o farei logo. Nosso retiro é adiado
para a semana que segue o Bom Pastor.
Mil
respeitos à sua querida família, não deixe, quando se apresentar a ocasião, de
me dar sempre notícias dela.
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