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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 24 - ao Sr. Levassor
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24 - ao Sr. Levassor55

Projeto de um lar para jovens. Associação com A. Levassor. Atitudes de prudência do Sr. Levassor, pai. Obra dos jovens detentos. Notícias das pobres visitadas por um amigo.

 

Paris, 25 de agosto de 1834

            Minha resposta, meu caro amigo, terá demorado mais ainda que sua carta e não sei se, como você, poderia dar a isso alguma boa desculpa. Não é, todavia, negligência nem preguiça, mas sim por não poder dar conta das ocupações momentâneas que me surgiram, ou um pouco de falta de habilidade na distribuição de meu horário, ou na ordem de minhas ações. Sei de antemão que você possui uma reserva de indulgência para tais delitos. Sem mais apologia, portanto, passo adiante para os nossos negócios.

 

            Fico sabendo, com uma satisfação bem viva que o consentimento de seu pai, base essencial e fundamental de nosso projeto foi conseguido, ou antes, o que é ainda melhor, plena e livremente concedido. Bem adquirida essa segurança de consciência, não teremos mais obstáculos, a não ser secundários, e nossa vontade firme poderá, espero, facilmente enfrentá-los. E em primeiro lugar, meu amigo, a objeção levantada pelo Sr. seu pai a respeito da associação pura e simples entre nós, não será um problema. As inquietudes que manifestou aqui o Sr. Levassor não me ofendem em nada, sendo que não tenho a honra de ser seu conhecido. Aliás, elas não me teriam, em nenhum caso, ferido; eu as teria, como se deve, atribuído à sua terna solicitude, à sua prudência que deve ajudar a sua em toda decisão importante para você. Dou portanto, aqui, pleno consentimento às disposições que você me propõe e desejo que minha diligência em fazer-lhe esta concessão possa aparecer ao Sr. seu pai um penhor de inteira segurança.

 

            No entanto, meu amigo, você me permite fazer-lhe a esse respeito algumas observações, deixando-as aliás à sua livre decisão. Prometi-lhe que tudo o que seria de meu interesse pessoal seria logo sacrificado e não poderia fazer sombra de  obstáculo para o sucesso de nosso projeto. Assim será, o asseguro de novo, e é unicamente no interesse de nossa própria obra, que insisto um pouco nesta ocasião. Pensa, meu amigo, que a nova combinação proposta por você não destruirá o equilíbrio, a harmonia desejável de uma inteira igualdade entre nós? Acredita que não vai criar superioridade de um lado, subordinação do outro lado? Nesse caso, você está bem seguro de minha completa abnegação? Será esta suficiente para sustentar meu ardor em uma obra que, em mim mesmo, não terei mais o direito de dizer minha? Apesar de minha confiança sem limite em sua delicadeza, em sua generosidade mesmo, não tem medo de que, em algumas horas ruins, este pensamento desanimador se infiltre em mim: “aqui nenhuma autoridade direta, nenhum direito para você, amanhã, você poderia encontrar porta fechada e seria certo, seu lar não está ali”.

 

            Não acreditar, meu amigo, que estas reflexões tendam a fazê-lo mudar de parecer; de jeito nenhum, desejo somente voltar um instante sua atenção para elas; se você confia em mim o suficiente para que elas não o preocupem, estou demais ufano com sua confiança para ater-me nisso; por outro lado, se você pensasse que, afinal, não se deve demasiadamente presumir de suas forças nem das dos outros, sem mudar em nada o fundo de sua proposição, talvez fosse possível, por algumas palavras faladas ou escritas, mas sem nenhum valor legal, restabelecer mais equilíbrio, criar entre nós alguma obrigação mais precisa, moralmente ao menos e religiosamente. Você me dirá a esse respeito seu parecer definitivo e, depois, não se falará mais sobre isso.

 

            Não preciso dizer que vi o Sr. Dufour56. Em uma primeira visita, o encontrei ausente; voltei outra vez e conversamos algum tempo juntos. Ele parece absolutamente na mesma disposição em que você mesmo o achou; somente o parecer de seu bispo devia resolver definitivamente sua determinação, quanto ao momento preciso de sua aposentadoria; mas seria, disse ele, ao mais tardar no ano  que vai começar, de qualquer jeito. Não devo dissimular para você que este ano, ao menos, parecia-lhe desejável para suas disposições de partida; isso seria subordinado, porém, entrevejo eu, às ofertas que ser-lhe-iam feitas para um emprego mais ou menos próximo em sua diocese. Deve partir amanhã; daqui a pouco, se cumprir sua promessa, ele deverá  escrever-me. Não deixarei de comunicar a você sua carta pelo correio, logo ao recebê-la, a fim de combinarmos a resposta. Seu retorno para é fixado para o começo de outubro ou, até, o fim de setembro. Ele partiria de novo para visitar algumas das famílias que confiam-lhe seus filhos. Não pareceu achar que minha ajuda lhe fosse necessária em sua ausência; o repetidor de direito atual continua provisoriamente a vigiar a sua casa.

 

            Quanto ao arrendamento, objetou numerosas dificuldades em seu interesse e no nosso, para prolongá-lo durante 3 anos. Todavia, insisti, pedindo-lhe para ao menos sondar o terreno e assegurar-se precisamente de que haveria impossibilidade, ou desvantagem grave, em dar-lhe uma duração menos longa. Não sei o que ele terá feito e se a promessa que para tanto obtivera dele terá sido levada em conta. Coloco-lhe, caro amigo, todas essas coisas bem sumária e apressadamente; voltarei sobre isso, pois ambos o tempo e o espaço me faltam.

 

            Estamos instalados perto de nossos jovens presos57. Falar-lhe-ei deles mais longamente, quando tiver visto melhor o que se há de esperar deles; à primeira vista, os consideraria de bom grado como outros tantos santinhos: pobres meninos, a realidade é bem diferente! Um deles, de excelente família, separado dos outros, com quem conversei ontem bastante tempo, está encarcerado por ter batido em seu pai. Tem mais de dezenove anosquase vinte. É o único que conheça; por ele, julgue o resto. Muitos não sabem ler, alguém lhes ensina mal ou nada; vamos cuidar disso. Adeus, meu amigo, visitei suas pobres protegidas, todo o mundo ali esmorece de saudade, você é sua vida: a caridade e a graça chegam ali através de você; volte, portanto, para o bem delas e também um pouco por seu amigo devotado em J.C.

L. Le Prevost

 





55 Louis Adolphe Levassor (1809-1899). Jovem advogado, havia entrado na Conferência de caridade desde o mês de novembro de 1833, graças a seu amigo Le Prevost, o qual acabava de entrar pouco tempo antes. Após ter passado pelo seminário de Chartres e pelo de Saint-Sulpice, em Paris, será ordenado padre no dia 19 de setembro de 1840, por Dom Clausel de Montals. Exercerá seu ministério em Chartres, onde será pároco de Saint-Aignan. O Sr. LP. escreverá muitas vezes a esse amigo íntimo (ASV, cópia de 60 cartas).



56 O padre Dufour é diretor de uma instituição de jovens que o Sr. LP. encara retomar.



57 No decorrer de suas visitas caridosas, o Sr. LP. tinha tido a ocasião de descobrir, perto do Panthéon, na rua des Grès, (hoje rua Cujas), uma casa de correção para jovens. Concebeu o projeto de apoiar e catequizar esses jovens detentos. Graças à intervenção de seu amigo advogado Levassor, o Sr. LP. conseguiu a licença no dia 8 de julho de 1834. Com  Ozanam, e outros confrades, o Sr. LP. começou a obra em agosto de 1834. As visitas continuarão até em 1836. Nessa data, os detentos serão transferidos à cadeia da Roquette, na outra extremidade de Paris. A Sociedade de SVP. se voltará então para os aprendizes-órfãos.





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