A Sra. Levassor se
opõe ao projeto de associação. A educação de que precisariam esses jovens.
Lugar das instituições privadas após a Revolução. Convicções cristãs do Sr. Le
Prevost.
Paris, em 3
de setembro de 1834
As mágoas que você experimenta, meu caríssimo amigo, tocar-me-iam
vivamente, mesmo se não me atingissem tão pessoalmente em algum ponto. Minha
terna e sincera amizade por você seria suficiente o bastante para
fazer-me participar delas.Sua carta, portanto, afligiu-me e escrevo-lhe sem
demora para que essa mágoa, bem colocada em comum, se alivie, se é possível,
para um e outro. Fora disso, quanto à questão fundamental do assunto, tenho-o,
de antemão, tão completamente abandonado à vontade de Deus, que qualquer que
seja a solução que acontecer, saberei, espero, resignar-me. Deveria talvez, meu
caro amigo, limitar-me a esses protestos de simpatias e de vontade igual à sua.
Aconselhá-lo na situação grave na qual se encontra parecer-me-ia ao menos
ousado e pouco prudente. Limitar-me-ei, portanto, a examinar com você o
obstáculo que encontra hoje nosso projeto e os meios que poderiam existir,
cristãmente, de ultrapassá-lo.
A extrema repugnância que manifesta a Senhora sua mãe pelo tipo de
estabelecimento que nos propomos a empreender parece-me vir do fato de ela não
ter uma idéia bastante precisa da natureza desse estabelecimento, dos deveres
que impõe, da situação que confere na sociedade, nem, antes de tudo, dos meios
e facilidades que oferece Paris para a direção de um tal empreendimento. Não
duvido que, suficientemente esclarecida sobre esses diversos pontos, a Senhora
sua mãe não o visse, com toda segurança e mesmo com alegria, seguir o caminho
que parecia abrir-se tão naturalmente diante de nós. Ela objeta a
responsabilidade, mas essa responsabilidade é bem menor que a dos professores,
já que não se trata aqui de crianças, mas de moços já tendo força e razão quase
suficiente para se dirigirem. O chefe de estabelecimento entre nós não é pai, é
amigo, irmão, já não prescreve mais, mas aconselha. Um conselho não dá
responsabilidade, ou ao menos é um cargo somente para a consciência. Há,
portanto, aqui pouca coisa a desembaraçar com os homens; é com Deus que se
trata e a conta é mais fácil. Um jovem colocado sob nossos olhos, apesar de
nossos avisos, sai do rumo e extravia-se, mas sua família é avisada por nós e
assume a partir daí toda responsabilidade, se houver. Não prometemos
conservar os jovens constantemente sob nossos olhos, detidos e vigiados;
prometemos segui-los com o olhar, enquanto for possível, informar suas famílias
a respeito do rumo que estão tomando, de sua assiduidade e de seu progresso no
estudo, prometemos afeição e conselho; feito isso (e o faríamos) nossa tarefa
está cumprida, nenhuma responsabilidade sobra para nós. Quanto à doença, não
iríamos recuar, nem você nem eu, diante do dever de cuidar de um ser que sofre,
de assisti-lo, encorajá-lo na hora da morte.
A direção de uma
grande casa apavora a Senhora sua mãe. É porque ignora talvez que imensa
diferença oferece Paris, a esse respeito, sobre o interior. No interior é
preciso ver tudo, tudo indicar, tudo acompanhar, tudo fazer até, se precisar,
pôr a mão em tudo. Aqui,
nada é igual, os criados são preparados de outra forma, as facilidades para as
produções e objetos de consumo são multiplicadas, de tal sorte que tudo
funciona, tudo anda, senão sozinho, ao menos com um simples impulso, uma
simples vigilância e direção. Assim, um eclesiástico aqui, como o padre Dufour,
por estado, por gosto, estranho a todo cuidado de caseiro, assegura sem
dificuldade, sem muito tempo nem cuidados, a manutenção de uma casa que
assustaria a 4 das melhores donas de casa do interior. Mas, eu sei, tudo isso
se persuade dificilmente, é preciso verificá-lo, é preciso tê-lo visto muito
tempo e em cem lugares e em cem posições diferentes para acreditá-lo, para não
mais duvidar. É também, você sabe, uma inquietude de bem pouco fundamento, a de
ficar destacado, designado como carlista e Jesuíta. Quem ocupa aqui
Instituições privadas? Entre as pessoas interessadas, mal é conhecida a
eminente e tão religiosa casa do Sr. Poiloup58; eu, que desde sempre
acompanhei as coisas no campo da instrução, faz apenas três meses que sei de
sua existência. Quem, sob a Restauração, foi mais metido nas coisas de partido,
foi mais destacado do que o Sr. Bailly, diretor dos Bons Estudos, alma das
Congregações? Ora, o Sr. Bailly foi inquietado após a Revolução? E nós,
estranhos a tudo isso, fazendo o bem segundo as nossas forças, em algum humilde
recanto, seríamos assinalados, atormentados? Não poderia acreditá-lo; e, para
dizer a verdade, em todo o caso, não veria nisso para homens, para cristãos, de
jeito nenhum, uma razão de recuar diante de uma resolução boa e tomada diante
de Deus. Não insistirei sobre as mil razões que poderia acrescentar, seriam
supérfluas, pois você e eu já tínhamos encarado de perto tudo isso, tínhamos
visto, tínhamos conversado com homens encarregados de tais estabelecimentos,
que não pareciam nem acabrunhados, nem apavorados pela responsabilidade, pela
má sorte, pelos temores de desconfiança. Por isso, a verdadeira dificuldade não
está em nós, não somos nós que é preciso convencer, mas, sim, a Senhora sua
mãe, e, confesso, convencê-la parece-me difícil, porque o espírito pega
pouca luz de cada vez, e aqui, em todos esses pontos, precisaria montanhas,
rios de luz. Que Dona Levassor relaxasse um pouco, se poderia esperar, mas que
cedesse absolutamente, pelo que se antevê, não se pode contar com isso. Quanto
à decisão a tomar definitivamente, acho como você, meu amigo, que deve-se orar
muito, não melindrar sua mãe, esclarecê-la pouco a pouco, se possível, senão,
abandonar absolutamente este assunto. A Sra. Levassor, você me disse, é muito
piedosa, os eclesiásticos que têm acesso a ela e em quem ela confia não
poderiam aconselhá-la utilmente, reduzir a seu justo valor a seus olhos
as objeções que opõe, livrar enfim sua resistência de toda exaltação, tirar
dessa resistência toda intervenção das causas secundárias, estranhas à
razão pura, à ternura cristã e esclarecida de uma mãe pelo seu filho? Espero
nesses meios, espero em Deus sobretudo; peçamos a ele e contemos com sua graça.
Veja o Sr. Lecomte59 ou seu confesssor, o consentimento de seu pai, com
calma e de modo racionalmente dado, me parece de um grande peso.
Adeus, seu amigo devotado.
Léon Le Prevost
Encontrei o Sr. Gardet; ele conta sempre com o jovem. Vamos mais ou menos bem
na rua dos Grès.
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