Um jovem do
patronato está mal disposto com sua mãe. Sábios conselhos do Sr.Le
Prevost para levá-lo a melhores sentimentos.
Vaugirard, 15 de julho de 1865
Caro Senhor padre,
Recebi, com sua carta, a de nosso pobre Maillard. Entristeceu-me muito. Os
sentimentos ali expressos são bem maus. Esse menino é bem mal aconselhado pelas
pessoas que o rodeiam na oficina, a ponto de se entregar a atos tão
ultrajantes. Nunca viu sua mãe, escreve-lhe pela primeira vez, e são injúrias e
ameaças que lhe dirige. A pobre mulher, já tão tristemente punida, está sendo
castigada bem duramente neste caso! Ela não quis abandoná-lo nas mãos de um
homem desconhecido, operário bastante grosseiro, segundo parece, e em quem, à
primeira vista, não podia confiar. Eis o crime que lhe censura seu filho. Desde
seu nascimento, ela o seguiu constantemente, providenciou o que necessitava, na
medida de seus recursos, que são muito restritos, pois não levou nada a seu
marido. Pode dispor somente de pouca coisa sem sua autorização. Há vários
meses, esteve doente e não pudera nos dar sinal de vida. No começo da semana,
tem de sofrer uma cirurgia dolorosa e não sem perigo. Prometeu-me mandar-lhe
algum dinheiro. Não se recusa também a ajudar um pouco Maillard, enquanto
puder.
Não entendo como esse infeliz menino entende tão mal, neste caso, sua própria
vantagem. Se, como sua carta mal inspirada indicava, tinha o pensamento ruim,
diabólico e perverso, de perturbar o lar de sua mãe, o que aconteceria? Seu
marido, enfurecendo-se e retirando-lhe sua confiança, a colocaria na
impossibilidade absoluta de lhe dar auxílio algum. Se, ao contrário, voltando a
idéias mais sensatas e melhor inspiradas, aceitar uma situação que não depende de
ninguém mudar, ela fará como fez enquanto pôde: o ajudará um pouco a se manter
e a tornar-se um bom e honesto operário. Você seria o primeiro, Senhor padre, a
dizer-lhe, e seríamos unanimemente desse parecer, que, agindo de outra maneira,
atrairia sobre si o desprezo e a rejeição de todas as pessoas honestas,
mostrando-se ao mesmo tempo sem inteligência e sem coração.
Espero melhor dele. Tinha, quando mais novo, a alma bastante amorosa e
suscetível de alguns bons sentimentos. Que os desperte em si e aja como lhe
aconselharão todos aqueles que têm, para com ele, um verdadeiro interesse.
Queira receber, caro Senhor padre, os protestos costumeiros de meus sentimentos
bem respeitosos e bem devotados em N.S.
Le Prevost
Afirmo, em
plena verdade, que a posição da mãe de Maillard lhe permite somente sacrifícios
restritos. Quando tínhamos seu filho em Vaugirard, sempre pagou em casa uma pensão
inferior à taxa ordinária, porque estávamos seguros de que não podia fazer mais
do que isso. Acho, portanto, que, se Maillard quiser agir com bom senso e
entender seus interesses, contentar-se-á com os auxílios que ela puder lhe
fornecer. Peço-lhe, Senhor padre, para ver com ele o que pode ser-lhe
verdadeiramente útil e para informar por carta a mim ou ao Sr. Emile
[Beauvais]. Faremos o possível para resolver o caso. Ele fará bem em
escrever à sua mãe algumas linhas de um melhor espírito, mas que ele evite
escrever diretamente; que endereça sua carta ao Sr. Emile Beauvais, que a fará
chegar
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