Peregrinação
do Sr. Le Prevost em La Salette. Irmão Paillé o acompanha. Descrição
da estação termal. Benefícios que recebem. Força e confiança renovadas.
Allevard, 2 de agosto de 1865
Caríssimo
amigo e filho em N.S.,
Sua pequena
carta transpôs valentemente as montanhas e, atravessando o famoso vale de
Grésivaudan, chegou até mim em Allevard, não mais no hotel do Comércio, mas no
hotel do Dauphiné, onde estamos instalados definitivamente, porque não nos
sentimos à vontade na primeira morada. O barulho, a falta de ar, em uma rua
estreita e movimentada, nos pareciam pouco campestres demais. Emigramos para a
periferia da cidade, onde encontramos muito mais paz. O céu aberto, a vista das
montanhas e das árvores nos lembram melhor que este mundo não é a obra dos
homens, mas de Deus. Era tanto mais penoso para nós, em Allevard, enfiarmo-nos
na cavidade mais abafada de um vale, que nos tinham deixado profundamente
emocionados a grandeza dos espetáculos que se encontram para chegar à La Salette, assim como as
impressões mais elevadas ainda que deixa na alma esta piedosa peregrinação.
Aqui, bem naturalmente, caríssimo amigo, você espera que lhe conte, e também
para seus caros noviços, nossa ascensão a La Salette, os santos exercícios que fizemos ali, os
sentimentos que experimentamos. Talvez possa fazê-lo numa outra carta; hoje,
receio não chegar a concluir uma narração forçosamente um pouco comprida.
Limito-me a dizer-lhe agora que essa piedosa excursão nos tocou profundamente e
que tudo, na Santa Montanha (os vestígios da passagem da Santíssima Virgem, os
monumentos erguidos para assinalar o local, o magnífico santuário edificado
para eternizar essa mensagem celeste), tudo é edificante e produz na alma a
convicção, uma doce alegria, uma terna gratidão. Os Padres que asseguram os
serviços da peregrinação, as religiosas que, de seu lado, nos edifícios que
lhes são próprios, os ajudam a exercer a hospitalidade para com os peregrinos,
contribuem também, por sua piedade e seus cuidados bondosos, a tornar a estada
na Salete amável e de boa lembrança. Se, como acredito, essas poucas palavras
não podem satisfazer a impaciência de seus caros filhos de Chaville e se estão
com pressa de melhor acompanhar nossos movimentos na Santa Montanha, faça com
que peçam ao Sr. Hello uma longa carta, que lhe escreveu anteontem o Sr.
Paillé. Esta carta tem muitos detalhes, é piedosa e capaz de edificá-los.
O Sr. Jules
Ginet pode, de viva voz, dizer-lhe sobre Allevard tudo o que poderia desejar,
pois passou um mês ali no ano passado, pelo mesmo motivo que nos levou a esse
lugar. É uma região que tem seus pontos de beleza, sem dúvida, mas que não se
assemelha, sob esse aspecto, a outras em que aprouve a Deus nos fazer passar
uma temporada em diversos tempos. Encontramos ali uma linda igreja nova de bom
estilo, um Pároco piedoso e homem edificante, muito atencioso para todos, para
conosco em
particular. Ofereço todos os dias o Santo Sacrifício, quase
no mesmo horário em que se faz em nossa casa, às 7 horas. Tenho a capela do
Sagrado Coração, meu Irmão Paillé é meu coroinha. Os cuidados de saúde, até
agora, não impedem nenhum de nossos exercícios. Tentei beber água das minas
sulfurosas, não me dei bem com ela, longe disso; deverei, porém, experimentá-la
ainda. Por enquanto, vou 4 ou 5 vezes por dia à sala de inalação (quer
dizer respiração) e tomo alguns banhos de água enxofrenta. Há, por aqui, mais
ou menos 1.500 doentes. Nenhum parece estar nas últimas, mas quase todos estão
aqui para um tratamento real e por uma verdadeira necessidade de sua saúde.
Allevard não é, como outras estações de águas, um lugar de distração e de
divertimento. Há um grande número de eclesiásticos e de religiosos e
religiosas. O ensino e a pregação são grandes causas de cansaço e de
esgotamento. Tome, caro amigo, algum tempo de repouso, para não ter necessidade
de vir a Allevard.
Será
preciso dizer que pensamos muito em você, que rezamos muito por nosso caro
Chaville, e por todos os seus habitantes, e por todos aqueles que para lá
forem? que na montanha da Salete, sobretudo, rezamos com todo o fervor de nossa
alma, e que meu Memento, nas duas missas que celebrei ali, foi bem
demorado? tinha tantas coisas a pedir! O espírito de nosso divino Senhor ainda
tão imperfeitamente entrado em nós, o espírito de nosso Pai São Vicente de
Paulo, que põe, por assim dizer, ao nosso alcance e modela para nosso uso as
virtudes e a vida de nosso bem-amado Salvador. Além disso, o espírito
religioso, o espírito de nossas obras na abnegação de nós próprios e o zelo
verdadeiro e ardente pelo bem das almas. Tenho confiança de que algo de tudo
isso virá em nós, pois será possível voltar de mãos vazias quando se visitou a
Mãe por excelência, a boa, a terna e misericordiosa Mãe? Confiança! O futuro
será bom para nós.
Adeus, caríssimo
amigo, adeus também para todos os nossos caros irmãos. Vejo-os a todos pelos
olhos do coração, e os abraço com muita ternura em Jesus e Maria.
Seu amigo e
Pai afeiçoado
Le Prevost
Respondi à
Sra. Busquet que sua oferta não podia ser aceita.
Nosso irmão
Audrin pode dar uma prestação ao comerciante de lenha, se acha conveniente.
Sacuda um
pouco as melancolias do Sr. François [Bokel]. Se não cuidar, seu humor inquieto
e sensível iria prejudicar seu futuro espiritual. Acompanhe-o de perto,
converse com ele, cuide de penetrar esse interior que ainda não vemos bastante
intimamente.
Apresente
meu respeito ao Sr. Pároco. Teria gostado de vê-lo antes de minha saída, mas
estava exausto e num extremo cansaço.
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