As
dificuldades em
Grenelle. Faltam as condições para fazer o bem. Face ao zelo
do Sr. Planchat para a obra de Charonne, o Sr. Le Prevost o convida à
paciência. “As obras cristãs dão fruto pela paciência”, virtude praticada pelo
Sr. Le Prevost frente à Sociedade de São Vicente de Paulo.
Allevard, 8 de agosto de 1865
Caríssimo
amigo e filho em N.S.,
Ainda não
respondi à sua boa e cordial carta, datada de já vários dias atrás. No entanto,
era minha intenção e, coisa pouco credível em minha posição, o tempo, sobretudo,
me faltou para realizá-la. Hoje ainda, não estou muito folgado. Quero, ao
menos, escrever-lhe algumas linhas para responder aos pontos mais essenciais de
sua carta.
Não vejo,
para saldar a pequena dívida de que me fala, relativa aos caloríferos,
muita coisa fora de uma coleta ou dos pequenos bilhetes de 10 ou 25 centavos;
mas, esses últimos vão cansar todo o seu mundo e o impedirão de recorrer à
caridade de seus conhecidos para coisas mais essenciais. Seria preciso, aliás,
um pretexto para essa emissão de pequenas folhas e não se vê muito aquele que
se poderia imaginar.
No que diz
respeito ao nosso estabelecimento em Santa Ana, o obstáculo, que você assinala
humildemente nas poucas imperfeições de seu modo habitual de proceder, não
passa do menor entre todos e do mais fácil, sem dúvida, a superar, já que você
se esforça para isso com uma constante e cristã boa vontade. Mas há vários
outros que pedem, da nossa parte, um pouco de espera e de cautela prudente.
Trata-se, antes de tudo, da insuficiência de nosso pessoal para fundar em Santa Ana um
estabelecimento um pouco consistente e confiável. É também a disposição
presente do Arcebispado que precisa ser melhor entendida e definida, antes de
podermos avançar. Para que serve, com efeito, criar em Paris instituições
numerosas, se, nelas, nos são recusadas as condições mais essenciais para fazer
o bem: um pouco de liberdade, um pouco de estima, um pouco de encorajamento?
Tudo isso falta em Grenelle e poderá, eventualmente, nos faltar em outros lugares,
se formos abandonados à arbitrariedade dos Srs. Párocos, mesmo dos Srs.
Vigários, sem nenhuma defesa nem garantia. Se os Irmãos das Escolas tivessem de
estabelecer suas casas em semelhantes condições, as abririam?
Podemos
dizer outro tanto, e ainda mais, a respeito da Sociedade de São Vicente de
Paulo, onde seriam encontradas ainda menos garantias, pois a experiência, a
razão elevada, a estabilidade têm menor proporção. Será possível assentar
fundações, por modestas que sejam imaginadas, num solo tão pouco sólido? O
próprio Senhor chama de insensatos os que põem na areia os alicerces de sua
casa; você verá essa parábola expressa em pintura sob o pórtico de Saint
Germain l’Auxerrois.
Eis por
que, caríssimo amigo, sem rejeitar suas aspirações tão legítimas para um
assentamento melhor e menos incômodo de nossa obra em Santa Ana, acredito que
é preciso ter paciência ainda um pouco, deixar as nuvens se dissiparem e o céu
clarear. Mas, você sabe, nada, neste mundo, é persistente: quando o tempo está
sombrio e vem a chuva, parece que vai durar sempre. Mas, logo o vento muda,
varre os vapores e o sol reaparece. Tenhamos um pouco de paciência, as obras
cristãs dão fruto pela paciência. Rezemos, tenhamos confiança em Deus, adoremos
sua divina sabedoria, Ele nos mostrará o quanto adoráveis e misericordiosos
eram seus desígnios.
Ofereça, na
ocasião, meus respeitosos sentimentos a seu excelente Pároco; fico muito
consolado por sua benevolência, mas, infelizmente, a do Sr. Pároco de Grenelle
não era menor outrora, fizemos de tudo para conservá-la e, no entanto, hoje, e
há anos, que guerra implacável ele nos fez!
Gostaria de
continuar esta carta, caro amigo, de lhe falar um pouco de você, de nós, de Deus
sobretudo, para quem somos unicamente, para quem somente queremos agir,
trabalhar; mas quero que esta carta não seja atrasada por mais tempo,
termino-a, portanto, aqui.
Acabo de
receber uma carta de nosso caro Sr. de Varax. Ele me escreve de Nossa Senhora
dos Eremitas e está chegando ao término de sua viagem. Sua carta, como sempre,
está repleta de ternos sentimentos para com toda a pequena família. Creio que
Deus nos dá nele e no Sr. Chaverot uma dupla e feliz esperança.
Adeus,
caríssimo amigo, renove a todos os nossos irmãos meus afetuosos sentimentos e
tome uma ampla parte deles para você. Mil respeitos, na ocasião, à sua boa mãe,
dê-me notícias dela se você me escrever.
Seu amigo e
Pai
Le Prevost
P.S.
Escrevi ontem ao Sr. Lantiez a respeito do projeto de escola paga em Arras. Falo-lhe
sobre minha rejeição para esse caso. Mostro que se pode ocupar bem utilmente,
bem caridosamente os irmãos, sem tomar uma função que a Comunidade não se achou
chamada até agora a desempenhar. Cito diversas obras de caridade que se
poderiam fazer, mas há uma melhor do que todas as demais, que omiti, que se
poderia empreender facilmente, sob a proteção e com os apoios de Monsenhor de
Arras: é uma obra de primeira comunhão proporcionada, para as formas que lhe
seriam dadas, ao pessoal, aos recursos, ao tempo que poderia ser-lhe
consagrado. Sugira esta idéia aos nossos Srs., para que a amadureçam e, se for
o caso, a façam apreciar pelo Sr. Laroche374.
L.P.
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