Continuação das
providências para o emprego proposto ao Sr. Levassor. Atividades caridosas do
Sr. Le Prevost. Ele confia a Deus sua última esperança a respeito de sua
associação.
Paris,
3 de outubro de 1834
O atraso que sofreu nossa correspondência, meu caro amigo, não se deve a
qualquer motivo de negligência, assim como sua engenhosa caridade o fez de
antemão presumir, mas simplesmente a essa persuasão em que me encontrava, de
que você devia passar por aqui nos últimos dias de setembro. Imaginava que era
na ida para Rouen e não na sua volta de lá que você atravessaria Paris. Se não
me engano, sua carta me tinha primeiramente dado esta impressão. Assim sendo,
parecia-me inútil escrever-lhe na véspera de sua chegada. Estava pronto para
responder verbalmente às diversas perguntas que você tinha-me dirigido, e
tinha-me preparado para isso. Sua última pergunta não me pega, portanto, em
falta nem despreparado; se minha resposta não partiu pelo próximo correio, a
fim de encontrá-lo ainda em Chartres, é que me foi impossível, ontem, obter o
endereço de Dona Delatre. A Sra. Pianet pediu-me que voltasse para isso hoje à
casa dela, e me obrigou assim a um atraso de um dia.
O Sr. Gardet, a quem
perguntei de novo, segundo seu desejo, sobre a natureza dos empregos que
oferecia procurar-lhe, respondeu-me que não tinha nenhum dado preciso a esse
respeito, que somente presumia, a partir das próprias palavras que havia-lhe
transmitido seu pai, que esses empregos eram suaves e fáceis; talvez se possa
presumir que são alguns negócios de palácio. Ele espera, aliás, sua resposta
impacientemente para, ele próprio,responder de maneira decidida. Ele me repetiu
que, de vez em quando, outros negócios lhe eram também oferecidos, que os
recusava habitualmente por causa de sua repugnância pela prática, mas que lhos
transmitiria se você mesmo quisesse dar-lhes um pouco de seu tempo. Poderia
parecer-lhe esquisito que o Sr. Gardet não tivesse tomado informações mais
precisas sobre o assunto. Eis a explicação que me deu a respeito: o
escrivão que fez a oferta para ele a seu pai é um antigo amigo de sua família
que lhe demonstrou, a ele pessoalmente, muita benevolência durante sua
infância, mas de quem suas ocupações o afastaram há vários anos. Ora,
parcimonioso como é de seu tempo, o Sr. Gerbet não gostaria de reatar laços com
o escrivão em questão nem retomar relações que o obrigariam, depois, a um
intercâmbio constante, se essas relações não hão de ser proveitosas a ele ou a
você. Assim, se sua resposta for afirmativa, ele irá ver o escrivão, se for
negativa, ele o fará agradecer gentilmente por seu pai e ele mesmo ficará
quieto. Procure se contentar com isso.
Não tinha descuidado também do negócio dos aluguéis, apesar de não entender por
que motivo você desejava que o seu fosse pago tanto tempo antes do vencimento.
Passei pela casa de sua porteira para entregar-lhe o dinheiro, o dono estava
por alguns dias no campo e não tinha deixado o recibo; na sua volta deviam
trazê-lo para mim e receber a importância. Não vieram, passarei por ali de
novo.
Faz alguns dias que não vejo Dona Meslin. Eu a verei também antes do vencimento
do prazo. Necessitei dar-lhe até agora 25f para viver, mas ela me prometeu que durante
todo o mês de outubro, graças à generosidade do irmão de você, ela não teria
necessidade de recorrer à sua bondade. A boa Sra. Dorne vem visitar-me de vez
em quando; ficou muitas semanas sem trabalho, mas enfim agora encontrou. Além
disso proporcionei-lhe um pequeno trabalho de faxina de 8f por mês, que a ajuda um
pouco. O jovem artista não me devolveu até agora os 10f que devem prover o seu
aluguel. Sentia alguma repugnância em ir ter com ele, propositalmente para
pedir-lhe esse dinheiro, mas, se o julgar bom, irei. Você me dirá isso na sua
resposta. Caberia a mim responder a todas as boas e graves coisas que contém
sua carta de ontem, mas, além de que me falta o espaço, teria o receio de que
uma matéria tão séria não seja conveniente no meio de um casamento; portanto,
limito-me, para tranqüilizá-lo ao menos desse lado, a dizer-lhe, meu querido
amigo, que eu, de jeito nenhum, entenderia que sua associação comigo pudesse
privá-lo de qualquer vantagem futura, menos ainda o impedisse de realizar
alguma resolução santa, que, em todos os casos, as coisas se ajeitariam entre
nós diante de Deus, segundo a caridade e a justiça e com tanto menos pena,
espero, que os sentimentos tão afetuosos que nos unem tornariam, de ambos os
lados, os sacrifícios suaves e fáceis. Tenha, portanto, meu caro Adolphe, o
espírito descansado para tudo o que me diz respeito; desejo bem sinceramente,
ao tornar-me seu associado, não deixar de ser ao mesmo tempo seu amigo e seu
irmão. Esses títulos reunidos saberão tudo aplainar e conciliar entre nós,
tenho a firme convicção disso.
Adeus, até logo, abraço-o cordialmente e sou todo seu em J.C.
Le Prevost
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