Apreciações
do Sr. Le Prevost sobre o povo de Allevard. Detalhes sobre a vocação do Sr.
Charrin e do Sr. Camus. Os jovens filósofos.
Allevard,
17 de agosto de 1865
Caríssimo
amigo e filho em N.S.,
Minha
última carta cruzou com a que você me escrevia. Pode ser que não seja a mesma
coisa para esta que será, sem dúvida, a última escrita de Allevard, pois, meu
irmão Paillé e eu contamos partir na segunda-feira próxima para ir pousar em
Lyon, de onde, no dia seguinte, sairemos para Paris. Chegaremos pelas 7 horas
da noite. Você, caro amigo, quer bondosamente exprimir o desejo de que minha
saúde tenha sido beneficiada pela estância das águas. Não saberia dizer qual
será o resultado. Passei os 15 primeiros dias experimentando essas águas que
não me davam resultado e, sobretudo, suportando comidas menos simples do que eu
precisava. Há oito dias, sinto-me melhor e um pouco descansado. No conjunto,
esta região nos agrada pouco, os habitantes são pobres e levam penosamente sua
vida rude e laboriosa. Não se sente entre eles a calma e a consolação que Deus
dá aos que trabalham sob seu olhar. Não posso dizer que não sejam bastante
cristãos, por não tê-los visto com bastante folga, mas o receio. Um grande
número também se acham desfavorecidos pela natureza, com papeiras que parecem o
indício de uma deformação também no espírito. Encontram-se freqüentemente os
cretinos e é um espetáculo dos mais entristecedores. Entre os estrangeiros, se
vêem muitos padres que a pregação cansou, muitos religiosos e religiosas
esgotados pelos trabalhos do ensino. Há alguns parques que dizem dignos de
serem visitados, mas, a certas distâncias um pouco longas. Não fomos para lá
até agora. Citam-se em particular as ruínas do convento de Santo Hugon, a duas
horas e meia de Allevard: é o primeiro asilo preparado para os Cartuxos por São
Bruno antes da fundação da Grande Cartuxa.
Passando
por Lyon, veremos, talvez, um momento nosso amigo, o Sr. Charrin. Antes de sua
saída de Paris, fez um retiro sério nos padres Jesuítas e se assegurou
decididamente de que estava sendo verdadeiramente chamado para o serviço de
Deus em
nossa Comunidade. Escreveu-me aqui para me dar essa notícia e
pedir sua entrada no meio de nós. Trabalha presentemente para obter o
consentimento de seu pai; espera muito que não receba recusa, esse pai sendo
sinceramente cristão e tendo declarado antes que não poria obstáculo à sua
vocação, se a tivesse. Mas o momento decisivo sempre tem suas dificuldades,
reze, portanto, por esse excelente amigo de quem conhece as amáveis qualidades.
Nosso
querido Sr. Camus está sempre na luta e nas rudes provações. Está sendo
aconselhado a entrar um ano em Issy, para ganhar tempo, deixar as iras se
apagarem e encontrar um pouco de descanso no meio da perseguição. Consenti
nisso como expediente, com um pouco de pesar, mas o pai acha que Issy é ainda
perto demais de São Sulpício, onde sabe que há irmãos de São Vicente de Paulo.
Ele rejeita, portanto, Issy. Há negociações sobre esse particular. Você vê como
esse pobre menino tem necessidade de ser assistido; reze por ele todos os dias.
Até agora ele está de uma coragem exemplar.
Nenhuma
notícia ainda do amigo Chaverot. Receio que ele também tenha suas provações a
experimentar.
As
notícias diversas de Paris e outros lugares não nada têm de notável.
Ainda
não sei muito bem quais as disposições a serem tomadas para os jovens
filósofos. Em minha chegada, vou providenciar isso, espero que seja para o
melhor. Obrigado, caríssimo filho, por seu terno e caridoso interesse por eles.
Como seu venerado avô é bondoso, delicado, generoso! Como essas almas são
amáveis na terra e como brilharão no Céu!
O
Sr. Paillé me arranca esta carta para a saída; ele e eu o abraçamos em Jesus e
Maria
Le Prevost
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