P.S.
do Sr. Le Prevost
É com instrumentos
desfalcados que Deus faz suas obras-primas. Simplificar as obras e diminuir as
festas.
Vaugirard,
30 de janeiro de 1866
Festa
da Oração de N.S. no Jardim das Oliveiras
Meu
bom irmão,
Recebo
de Jules e de sua mãe, conjuntamente, uma encantadora carta, muito singela e
afetuosa para Vaugirard e para Angers ao mesmo tempo. Espero muito ter-lhe
dado, assim, dois corações dedicados. Faz bem armando a pobre mãe de um pouco
de dureza aparente contra seu filho primogênito. O pobre menino, de resto, é um
pouco menos digno de compaixão: achou um trabalho provisório, que lhe rende uns
cinqüenta centavos por dia, e o momento se aproxima em que o cobrador
aposentado de Vaugirard espera lhe achar, numa Receita das finanças, uma
colocação análoga à que tinha gerido, em todo bem toda honra, como provam seus
certificados. Você não tem algumas relações nas Finanças? Se, realmente, o bom
comportamento e a dedicação cordial, parece-me, da mãe e do filho, lhe agradam,
não seria melhor poupar um pouco a pobre mulher? Na carta a seu filho que me
diz ler, ela exagera sem dúvida de propósito as coisas, para lhe tirar, segundo
nossas convenções, toda esperança de achar recurso nela. Mas enfim, diz duas
coisas, que, mesmo atenuadas, merecem atenção de sua parte:
1o
- Deito-me à meia-noite e me levanto às 4h15. Aí está, evidentemente, um
trabalho acima, como ordinário, das forças da mais robusta camareira que possa
jamais encontrar em Angers intra limites aetatis...
2o
- Minhas pernas estão inchadas.
Você
recomendará à Sra. Guillot a economia de suas forças, como a da manteiga e do
carvão. Dê, antes, alguns remendos a fazer fora. Você me disse que Jules
ajudaria sua mãe. De fato, pode, na cozinha, preparar e limpar muitas coisas.
Não vejo que se fale disso.
Nenhuma
palavra também da folga deixada à Sra. Guillot, para rezar e freqüentar os
sacramentos. Disse-lhe que estaria bem livre a esse respeito. Se deve ser assim
moralmente, deve ser também materialmente.
Veja
como tomo a licença de lhe dar avisos, eu, pobre soldado raso, a um coronel de
dois regimentos, a um Superior pelo Bispo e por nosso Pai! Você me perdoará, em
favor da intenção, não é?
Mil
coisas a todos os vossos bons irmãos, um beijo a meu pequeno Jules, tão feliz
de ser seu clérigo. Cuide de sua saúde, dormindo mais e mexendo-se menos. Feche
algumas vezes sua porta a essa onda de visitantes que maravilha a Senhora
Guillot.
Adeus,
caríssimo amigo, não esqueça de rezar pela Comunidade, pelas obras e por Santa
Ana mais do que nunca.
Todo seu em N.S,
Padre Planchat
Caríssimo
amigo e filho em N.S.
Você
tomará, como devem ser tomados, os avisos do Sr. Planchat que, de resto,
refletindo bem, captou bem o sentido das palavras da Sra. Guillot, a qual não
apresentava como ordinários os cansaços que tivera de suportar, mas somente
como acidentais e como resultado de um pouco de atraso, seja nos seus negócios
próprios, seja nos da casa. Ela parece satisfeita, aliás, e se louva muito dos
bons procedimentos de toda a família de Angers.
Como
vai, caro amigo? Este tempo quente e úmido é bem prejudicial às saúdes débeis.
Aqui, o Sr. Lacroix, mal entrado, tem uma pequena doença, resultado de seus
cansaços da ordenação. Está melhor, mas o esgotamento resultante de seus cinco
anos de vida enclausurada é bem manifesto e será longo a consertar. Ele se dá
bem até agora no meio de nós. O Sr. Braun ampara bastante bem seus jovens, mas
sua saúde é dez vezes mais frágil do que a sua. É com esses instrumentos
desfalcados que o grande Mestre se compraz em fazer suas obras-primas. Assim, é
mais manifesto que a grande arte do Operário tem seus triunfos, apesar da
imperfeição dos instrumentos.
Adeus,
caríssimo amigo, comprazamo-nos em nossas fraquezas e incapacidades, se servem
para a glória de nosso Deus. Abrace seus irmãos, que eu mesmo abraço aqui em
sua pessoa e nos Corações sagrados de Jesus e de Maria.
Seu
amigo e Pai
Le Prevost
31
de janeiro P.S. Estamos recebendo sua carta neste instante.
Infelizmente, quantas cargas para os dias de carne, e como esse meio de
restabelecer sua saúde deve ser pouco eficaz! Presumo bem que não pôde suprimir
nada; é, porém, bem complicado. Dizem-me que em Nantes, onde o patronato está
entre os melhores, há somente duas festas um pouco notáveis por ano. Se, com o
tempo, pudéssemos, em todas as nossas obras, simplificar um pouco nossos meios,
estaríamos certamente progredindo. Você, tenho certeza, está convencido disso
como eu. Talvez, com perseverança, o consigamos.
Adeus
ainda, caro filho, não deixe de nos dar muitas vezes notícias suas, mesmo que
seja por uma palavra.
Seu
todo afeiçoado Pai
Le Prevost
|