Causas de
nossas impaciências. Necessidade de orar. O Sr. Le Prevost dá conselhos para a
correção dos defeitos. Palavras de encorajamento. Provações de saúde para dois
irmãos.
Vaugirard,
8 de fevereiro de 1866
Caríssimo
filho,
Sua
boa e cordial carta mereceria sem dúvida uma longa resposta. Receando que,
atrasando-a, fique muito adiada, faço-a curta, provisória, mas pronta.
Sua
abertura de consciência é franca e simples e apresenta bastante bem, acho, a
vista de seu estado presente. Parece-me que o bem domina o mal e que, com algum
esforço, você podia ainda diminuir este e aumentar aquele. O fundo de suas
disposições para o lado defeituoso é um pouco de tepidez para a piedade, provindo
de alguma moleza na aplicação do espírito e da vontade, e uma certa disposição
para a impaciência e a irascibilidade. Esse último defeito vem de um amor ainda
grande demais de si, de uma aversão extrema pelo que incomoda, de uma falta de
resolução e de coragem para sofrer.
Encontrado
o mal, é preciso achar o remédio. Você já tem o temor de ofender a Deus, é o
começo da sabedoria: Initium sapientiae timor Domini. Precisa
acrescentar o amor maior para com esse Deus: lembre-se de que ele é nosso Pai,
nosso benfeitor, a beleza, o bem supremo, o único objeto que pode preencher sua
alma. Aplique-se mais firmemente a Ele pela meditação e a oração sobretudo,
peça muitas vezes à Santíssima Virgem para conduzi-lo a Jesus, seu divino
Filho. Ela é a porta à qual é preciso bater. Bata, e lhe será aberta.
Para
a correção dos defeitos, sabe, caro filho, três meios devem ser usados:
vigilância, para se conhecer e vigiar sobre si, oração, para atrair a graça, a
ajuda de Deus que socorre nossa fraqueza, e enfim o trabalho, o esforço, os
pequenos sacrifícios cotidianos e reiterados, nas coisas pequenas em primeiro
lugar, porque estas nos conduzirão às grandes. Se for um pouco fiel a esse
regime, será logo, senão perfeito – quem pode jamais sê-lo? – ao menos terá
consciência de que a obra anda e que Deus está com você.
Adeus,
caríssimo filho, sofro muito com seus cansaços. Suportemo-los tanto tempo
quanto aprouver a Deus no-los deixar. Rezemos bem a Ele, é habitualmente nas
situações difíceis que Ele gosta de se mostrar. Estamos também provados de
nosso lado: o Sr. Lacroix, mal entrado, esteve tão gravemente doente, que foi
preciso dar-lhe a extrema-unção. Ele parece melhor e fora de perigo, mas a
convalescença será longa. O Sr. d’Arbois está lânguido e acabrunhado. Infelizmente,
nossas obras são rudes, e nós, muitas vezes, as complicamos demais, e somos
pouco fortes. Que Deus digne-se nos vir em auxílio!
Escreva-me
para me dar notícias de todos vocês, quando o Sr. Laroche não pode fazê-lo.
Pena que eu não possa, a cada dia, deitar ao menos um olhar até sua casa e em
outros lugares ainda! Como temos vista curta! Seja paciente e encorajador para
o Sr. Magnien. Acho que, assim, irá se ambientar e vão tirar bom partido dele.
Temo que não lhe seja dada bastante confiança em si mesmo.
Adeus,
minhas ternas afeições a vocês todos e a cada um
Le Prevost
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