Julgamento
do Sr. Le Prevost sobre os Srs. Carment e Beldame. Sua aptidão à vida
religiosa. O resgate do serviço militar do jovem Allard encontra dificuldades.
Vaugirard,
1o de maio de 1866
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Não
acho, de jeito nenhum, que você faltou com a obediência nem com a deferência,
que observa tão bem de costume, ao intervir caridosamente para pedir
indulgência e longanimidade em favor de dois irmãos, um antigo, outro
postulante, e cuja situação e disposições lhe pareciam dever ser estudadas com
um pouco de tempo e de atenção. Testemunhei-lhe, efetivamente, que estava longe
de reprovar esse bom movimento aderindo à sua dupla proposição. Agora, você
pergunta o que deverá ser feito a respeito de um e de outro, se insistirem em
permanecer ligados à Comunidade.
Parece-me,
no que concerne ao Sr. Carment, que será um verdadeiro serviço a ele prestado,
se for convidado a viver com sua excelente irmã, assim como seu pai, pouco
antes de sua morte, lhe tinha recomendado. Parece-me ser bem mais feito para a
vida de família, com sua irmã sobretudo, do que para a vida de Comunidade,
cujas exigências nunca serão bem observadas nem respeitadas por ele. Se, no
entanto, persistisse, assegurando que se submeterá a tudo, talvez tivéssemos de
tentar ainda, mas é impossível que seja chamado de volta para Vaugirard nem
para perto de Paris, e só vejo você que, conhecendo-o bem, poderia acompanhá-lo
nessa nova experiência e julgar se, ao mesmo tempo, é possível fazê-lo viver
como religioso e tirar algum bom partido de seus serviços. Veja, se assim for,
se poderia cuidar disso.
Para
o Sr. Joseph [Beldame], temos dúvidas ainda bem mais fundadas sobre suas
aptidões para a vida religiosa. Já passou da idade conveniente, tem idéias
pouco demais formadas sobre a gravidade das obrigações do religioso para que
tenhamos chance de ligá-lo seriamente à Comunidade. Permaneceria no limiar da
Congregação, sem nunca entrar intimamente no seu seio. Essa perspectiva não é
muito própria para nos decidir a prolongar suas experiências. Porém, como você
o viu com mais folga do que nós, tente, se acha desejável, dar-lhe ainda um
pouco de trabalho a realizar sob sua vigilância. Mas você terá como ocupá-lo
utilmente em casa? Aí está a dificuldade.
Para
o Sr. Allard, embora ainda não tenhamos podido cuidar disso cabalmente,
conseguiremos, espero, achar, como você fará em Amiens, alguém que empreste 500f sem juros, reembolsáveis
em 5 anos.
Para
os 200f a
pagar cada ano, você diz que consentiria, assim como nós mesmos fazemos, em dar
50f cada
ano. Você espera que o padre Allard dê também 50f, assim não sobraria mais do
que 50f a
arranjar. Nós os procuramos, mas solicitamos tantas vezes que fica difícil
obtê-lo, não teríamos muita certeza de consegui-lo. Dividiremos com você, como
propõe generosamente, esta última diferença, se não conseguirmos cobri-la com a
ajuda de nossos amigos.
Há
ainda, é verdade, uma importância de 100f que não providenciamos, visto que o preço
da exoneração é de 2.100f
e que nossas previsões chegam a realizar somente 2.000f. Nosso jovem Allard,
iludindo-se e tomando seus desejos por uma certeza, me declarara que você tinha
dito na sua presença: se se conseguisse juntar os 2.000f, se teria confiança
para prover aos 100f
restantes. Daí tinha concluído que você entrevia algumas pessoas caridosas para
cobrir o complemento. Mas ele não tinha pensado, com certeza, que, afinal, de
um modo ou de outro, quase todo o conjunto do encargo recairia sobre nós.
Não
seria o caso de instigar um pouco o pai Allard a encontrar ao menos esses 100f? Não posso deixar de
ficar um pouco descontente com a nulidade absoluta de seus esforços nessa
ocasião. Só vê a si mesmo, seu filho, dando-se a Deus, não lhe produz nada. Mas
não deve ter alguma preocupação com sua alma, já que é cristão? Ele imagina que
seu filho, após ter passado 7 anos no regimento, lhe voltará em bom estado, do
ponto de vista da fé e dos costumes? É o que pediríamos a Deus, sem dúvida, mas
esses tipos de milagres são comuns? Veja, caro amigo, se, conscienciosamente,
esse pai não deveria ser incitado a se mostrar menos indiferente.
Adeus,
caríssimo amigo, acredite em todos os meus sentimentos afetuosos e ternamente
devotados em N.S. Mil
afeições a nossos irmãos.
Le Prevost
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