A cólera em
Amiens. É possível, em tais circunstâncias, aceitar uma sobrecarga passageira
de trabalho, (acolhimento de órfãos), mas não se deve assumir compromisso com
empreendimentos definitivos que não se poderia sustentar.
Vaugirard,
5 de junho de 1866
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Acompanhamos
com um doloroso interesse as fases da epidemia que desola sua cidade. Esperamos
que Deus afaste logo esse terrível flagelo e Lhe dirigimos orações nesta
intenção. Rezamos as missas que pediu e continuamos, se necessário, a oferecer
nossos sacrifícios diante do Senhor, para que ponha fim, segundo sua
misericórdia, a essa penosa provação.
Agradecemos-Lhe,
ao mesmo tempo, por sua casa ter sido poupada até agora. Não saberia censurar o
zelo caridoso que mostrou para socorrer os órfãos nessas graves circunstâncias.
Todavia, acharia melhor se tivesse pedido um prazo de um ou dois dias, para
combinar conosco o que você poderia aceitar. Neste caso, julgaria conveniente
que só aceitasse esse encargo novo provisoriamente e até que as Conferências
tivessem pensado com as autoridades em achar agentes dignos e seguros, para
lhes confiar definitivamente essas crianças órfãs. Não vejo, com efeito, como
poderia, sem prejuízo para as obras já absorventes que tem, cuidar de maneira
contínua de meninos órfãos residentes em sua casa. Teve, após uma primeira e
longa tentativa, que renunciar a reunir em sua casa alunos e jovens operários.
Vai se reencontrar com as mesmas dificuldades, sem novos meios para
remediá-las. Aliás, não posso julgar inteiramente a questão, já que sua carta
não contém detalhe nenhum sobre o número dos meninos adotados e sobre as condições
para serem admitidos em sua casa. Uma sobrecarga temporária é aceitável em
circunstâncias imperiosas, mas uma longa experiência nos ensinou muito como
obras diversas e complicadas se prejudicam uma a outra e criam, com o tempo,
tristes embaraços.
Agradeço-lhe
pelo envio do tecido que pedi. Não o vi, mas me disseram que já chegou. O Sr.
Georges [de Lauriston] se entenderá com você para o pagamento da nota.
O
Sr. Laroche continua cansado e sem condições de cuidar de sua casa. Somos
obrigados a mandar, daqui alguns dias, o Sr. Chaverot para ajudar o Sr. Victor
Trousseau. O Sr. de Varax, restabelecido de sua saúde esgotada por dois
anos de seminário, irá, à sua vez, passar algum tempo em Arras. Somos tão
poucos e tão pouco fortes, que os menores acidentes no meio de nosso pessoal
nos causam dificuldades.
Adeus,
meu caríssimo amigo, recorramos a Deus e contemos com suas misericordiosas
bondades. Ele, até agora, nos assistiu bem; seu socorro não nos faltará também
no futuro.
Mil
afeições para você e para nossos irmãos.
Seu
amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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