Difícil
mudança de pessoal em
Sainte Anne. O conjunto das obras corre o risco de ser
prejudicado. Rezar ao Deus de caridade; Ele dilata o coração e dará os recursos
necessários.
Vaugirard,
25 de julho de 1866
Meu
excelente amigo,
Não
respondi logo à sua carta de 15 deste mês, porque sentia algum embaraço para
fazê-lo segundo meu desejo, quer dizer de tal modo que fique satisfeito e não
possa duvidar de nossa boa vontade em concorrer para o bem que deseja cumprir.
Tenho,
como você, uma grande rejeição pelas mudanças de pessoal. Por pouco que um
homem tenha faculdades e zelo, adquire, com o tempo, numa obra, uma posição e
influências que são bem favoráveis ao êxito de seus esforços. Se o deslocam,
seu sucessor necessita de uma longa aprendizagem para chegar ao mesmo ponto.
Daí um gasto de cuidados e de trabalhos, tudo em vão, se não é justificado por
uma evidente necessidade.
Até agora,
não percebo uma tal urgência na mudança do Sr. Derny. Durante mais de um ano,
após sua entrada em Sainte
Anne, seus serviços e qualidades foram bastante apreciados,
de modo que o Sr. de Coulonges, verbalmente e por escrito, me expressou toda a
sua satisfação, assegurando-me que seus serviços no patronato ultrapassavam
muito os do Sr. Moutier e não deixavam a desejar. Há 3 ou 4 meses apenas, o Sr.
de Coulonges, comunicando-me bondosamente os resultados obtidos em 1865 no
patronato Sainte Anne, constatava ainda um progresso extraordinário no pessoal,
na assiduidade, na disciplina, em uma palavra, em todos os fins essenciais da
obra. Há algum tempo, é verdade, o Sr. de Coulonges começou a se queixar das
insuficiências do Sr. Derny. Mas, não podemos pensar que essas queixas se
tornaram mais freqüentes à medida em que o Sr. de Coulonges, apoderando-se de
todo o movimento do patronato, apagou tanto toda iniciativa no Sr. Derny, que o
reduziu a uma passividade quase absoluta? Essa situação explica, talvez, não
alguma diminuição de zelo, que não se censura no Sr. Derny, mas uma eficácia
menor na sua cooperação. Há, em nossos esforços comuns, um equilíbrio a
guardar. Se a caridade não nos mantiver nele, as obras serão prejudicadas e,
mais cedo mais tarde, nossa união será quebrada.
Se
acha que, em todo o caso, se deve operar aqui uma mudança, duvido que haja
vantagem para Sainte Anne em substituir o Sr. Derny pelo Sr. Jean-Marie
[Tourniquet], mais amadurecido, sem dúvida, mais experimentado do que ele, mas
menos robusto em saúde, menos apto a dirigir os jogos e os divertimentos, que
não são sem importância na obra. Nem precisa dizer que Saint Charles, já bem
desprovido pela retirada do Sr. Faÿ, receberá um golpe perigoso pelo
afastamento do Sr. Jean-Marie. Acho, portanto, meu caro amigo, que se,
definitivamente, lhe parecesse oportuno fazer uma mudança, seria menos
prejudicial para o conjunto das obras substituir o Sr. Derny pelo Sr. Charrin,
por exemplo, ou de outra forma, mas sem repercussão infeliz para as outras
casas.
Você
reconheceu, acho, conversando com o Sr. Planchat, que não havia utilidade
essencial na mudança do Sr. Alphonse [Vasseur] e que se correria assim o risco
de perturbar a harmonia, atualmente bastante bem estabelecida, em Nazareth. Não
insisto, portanto, sobre essa combinação.
Quanto
ao desejo que exprime, sobre a instalação de um pessoal inteiramente estável
para a Obra de Sainte Anne, não nos recusamos a buscar os meios. Mas, se
observar, meu bom amigo, os encargos já assumidos por nós e as forças tão
restritas de que dispomos, ficará bem convencido de que, longe de sonharmos em
nos estender, deveríamos visar a nos restringir. Há muito tempo, recusamos
todas as ofertas que nos foram feitas para novos postos, e somos obrigados a
recorrer a expedientes, logo que surge o menor incidente nos que ocupamos. Não
poderíamos, com toda a franqueza, reunir nenhum elemento próprio a formar um
estabelecimento de certa consistência, nem de um auxílio definitivamente
estável e regular. Não perdemos de vista essa idéia, tenha perfeita certeza
disso. Vemos, a cada dia, tudo o que há de ser feito no bairro de Charonne,
ficaremos felizes em levar nossa parte de labuta e de zelo, se as circunstâncias
se tornarem, mais tarde, menos difíceis para nós.
Acrescento,
mas somente como testemunho de nosso desinteresse e sem nenhuma segunda
intenção, que, se a fraqueza de nossos meios fosse um obstáculo para o
desenvolvimento da Obra e se algum auxílio menos impotente lhe fosse oferecido,
acolheríamos, os primeiros, como um favor celestial, assistências menos
ineficazes do que as nossas e não ficaríamos menos dedicados por isso na
cooperação que nos fosse possível prestar-lhe em outros pontos.
Continuemos
confiantes, rezemos sem cansar, e o Deus de caridade nos dará, enfim, o
acréscimo de coração e de recursos que exigiriam as necessidades urgentes de
que estamos cercados.
Aceite,
meu bom amigo, os protestos costumeiros de meu afetuoso devotamento em N.S.
Le Prevost
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