Chamada a uma
correspondência regular. Cuidar que os irmãos tenham uma direção espiritual
constante. Não se sobrecarregar com obras novas. Providências para a ordenação
do Sr. de Varax. Por que motivo não surgem mais vocações de Amiens.
Vaugirard,
25 de outubro de 1866
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Você
me prometera dar-nos notícias um pouco mais vezes, ou por si mesmo ou por um de
seus irmãos, mas suas ocupações tão multiplicadas o impedem sem dúvida de
seguir suas boas intenções a esse respeito. Escrevo-lhe, então, eu mesmo para
lembrá-las, esperando que encontre algum momento para nos responder.
Gostaria
de saber se, como era quase uma certeza sua, pôde achar um padre que desse um
pouco de direção espiritual a seus irmãos. Esse ponto é dos mais essenciais.
Deus o ampara, no seu caso, diretamente, mas nem todos estão no mesmo caminho e
seus irmãos não poderiam andar bem sem alguns conselhos, direções e exortações.
As
mudanças de funções e de lugares sempre foram uma provação penosa para o Sr.
Emile [Beauvais], porque dificilmente se acostuma a novos hábitos e a novos
rostos. Ficaria satisfeito se você nos escrevesse, para nos dizer se ele se
entrosa bem, se parece feliz ali e se está bem com todos os que o cercam.
Nossos
irmãos do Conselho temiam um pouco que a presença do Sr. Emile, e talvez o
próprio desejo dele o levasse a apressar a abertura da casa de Saint Jacques.
Todos aqui pensamos que seria pena que se precipitasse o início dessa nova
fundação. Já estamos tão carregados, fazemos tão imperfeitamente as obras de
que estamos encarregados, você mesmo está tão dividido entre tantas
preocupações, que pareceria mais sábio temporizar e aguardar circunstâncias
menos difíceis. Tal é o sentimento de todos nós. Exorto-o, portanto, meu bom
amigo, a não adiantar nada sem nos ter consultado, para não tentar a
Providência, e também para que seu caminhar fique de acordo com o nosso.
Foram
feitas várias cópias da ata de nossa pequena assembléia de Chaville após o
retiro. Faremos chegar-lhe uma. Se o Sr. de Varax for ordenado nos primeiros
dias de novembro, como temos esperado, um de nós, indo a Arras e passando por
Amiens, poderá levá-la à sua casa.
A
respeito dessa ordenação do Sr. de Varax, eis uma dificuldade que se pode
prever: Monsenhor de Arras recebeu licença de Roma para fazer uma ordenação de
vários padres (extra tempora), quer dizer por antecipação sobre a época
ordinária que é, você sabe, o sábado antes do Natal. O Vigário Geral de
Monsenhor avisara o Sr. de Varax de que se contava incluí-lo, porque a ausência
de um padre é para eles uma ocasião contínua de transtorno e de dificuldades.
Mas Monsenhor, na sua chegada, verificou que a licença vinda de Roma era
aplicável exclusivamente aos padres de sua diocese. Pediu-se, em último lugar,
a Roma uma licença especial para o Sr. de Varax, mas um pouco tarde e, se
chegar, é possível que a ordenação de Arras, marcada para o dia 4 de novembro,
já tenha sido realizada, e Monsenhor o Bispo deve partir imediatamente depois,
para uma visita episcopal. Um outro Bispo podendo substituí-lo, será que você
presume que Monsenhor Boudinet, a pedido de Arras e com requerimento nosso,
consentiria em ordenar o Sr. de Varax em Amiens, na sua capela ou em qualquer
outro lugar que lhe conviesse? Faço esta pergunta a você exclusivamente, pois,
as coisas ainda estão absolutamente incertas e seria totalmente imprudente
divulgar, por pouco que fosse, essa idéia que, mais provavelmente, não terá
conseqüência. É, portanto, um parecer, um sentimento puramente pessoal que você
poderia me dar.
Não
vejo nada de novo aqui, tudo e todos andam como de costume. Nosso recrutamento
foi fraco há um ou dois anos, só nos mantivemos, reparando nossas perdas, mas
sem aumento sensível. Há muito tempo, não recebemos mais novos irmãos de
Amiens, em
particular. Atribuo isso ao afrouxamento de nossos
relacionamentos e de nossas correspondências. A Comunidade é também muito
apagada em Amiens, pelo fato de você ser o único conhecido e em vista. A ausência de um
padre se faz também sentir e prejudica a influência que a família poderia ter
no ponto de vista íntimo, em que podem ser conhecidas e amparadas as vocações.
Deus despertará todos esses meios quando achar bom em sua sabedoria.
Adeus,
meu caríssimo amigo e filho em N.S., acredite em meus mais ternos sentimentos
por você e pelos que o rodeiam, nos Corações sagrados de Jesus e de Maria.
Seu
todo afeiçoado amigo e Pai
Le Prevost
P.S.
Acabo de receber do Sr. Emile uma pequena carta satisfatória. Acostuma-se em
Amiens e se estabelecerá ali para o bem. Tem grandes possibilidades, mas deve
ser acompanhado, para não tomar iniciativas demais sem consultar os que têm a
responsabilidade das obras.
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