Providências
para a ordenação. Cuidados de saúde. Leitura dos jornais: cuidar de não perder
tempo. Renovar muitas vezes o dom de si a Deus.
Vaugirard,
30 de outubro de 1866
Meu
caríssimo amigo e filho em N.S.,
Acredito
que ainda não recebeu sinal algum de Roma nem de Autun a respeito da
excorporação, já que me fez nenhuma comunicação sobre o assunto. Essa espera é
uma ocasião para recolocarmos todas as coisas, mais uma vez, entre as mãos de
Deus. É preciso acrescentar também que, afinal, a decisão perde parte de sua
importância à medida em que as distâncias diminuem até a ordenação do dia 22 de
dezembro, pois, em breve, não haverá muito mais que uns vinte dias a ganhar
pela licença extra tempora solicitada. É o que torna dúbia a chance de
obtê-la. Monsenhor de Arras pôde motivar o pedido que fez nesse sentido pelas
necessidades de sua diocese e a urgência, para ele, de começar antes dos
grandes frios suas visitas episcopais. Mas, para nós, trata-se da conveniência
de um particular e de uma obra pouco considerável. Manter-nos-emos em nossa
pequenez se nos recusarem, pensando que é com toda a razão, e se, por acaso,
nos tiverem atendido, ficaremos maravilhados e confusos por tanta
condescendência.
Para
sua ordenação, se tivesse que ser feita após o dia 4 de novembro, acho que
seria possível dirigir-se ao Monsenhor de Amiens, muito bondoso para conosco, e
que, se fosse enviado de Arras um parecer favorável (senão um pedido formal),
Monsenhor de Amiens não se recusaria a ordená-lo em sua capela. Esta é uma
simples conjectura de minha parte, à qual não se deveria dar, em Arras, uma
tonalidade diferente, enquanto nenhuma diligência tiver sido feita junto a
Monsenhor [Boudinet] de Amiens, que não foi sondado de forma alguma. Se
recebesse, de última hora, uma autorização suficiente para sua ordenação,
poderia, parece-me, nos avisar por telégrafo, para que um de nós pudesse chegar
a tempo de assistir a essa consagração tão interessante para você e para nós.
Quanto
ao retiro, faça-o como lhe aconselhará o Sr. Roussel, que dizem ser um homem tão
judicioso e particularmente benevolente para com você. Suas obrigações em casa
lhe servirão também de regra. Você não me respondeu sobre estes pontos: não se
canse demais, sua saúde se firma? Tem um regime tal como sua natureza nervosa e
cansada pede? Sobra-lhe tempo suficiente para o estudo? Meu grande desejo é ser
edificado sobre todos esses pontos. Quantos alunos há no pensionato? As aulas
são dadas razoavelmente? Os professores cumprem sua função e os alunos parecem
apegar-se a seus mestres? Quantas perguntas! Não responderá a todas de uma vez,
se houver excesso de pormenores juntos. Enfim, sua pobreza não é excessiva?
Um
jornal, publicado duas ou três vezes por semana e que você somente percorreria,
não lhe seria fora de propósito, mas bem dificilmente você impedirá os
que o rodeiam de perder muito tempo nessa leitura. Já têm, sem dúvida,
alguns pequenos periódicos para o patronato, a Revue de la Presse ou outro, é bem
suficiente. Aconselho-o, portanto, a ter jornal político somente na medida em que
tiver certeza de impedir os irmãos e os professores de tê-los em mãos.
É, repito, coisa infinitamente difícil e que suporá, de sua parte, uma vontade
bem determinada, para fazer a proibição e para impedir que seja transgredida.
Em Vaugirard, estou firme nisso e, na prática, todo o mundo reconhece que é
sábio agir assim. Essa experiência de longos anos não deve ser esquecida,
sempre teve somente vantagens e nenhum inconveniente.
Temos,
em Vaugirard, um só Bouvier, e ainda assim, incompleto. Nossos Srs. me
asseguram que o volume das Diaconales se vende separadamente e que você
encontraria certamente em Arras, seja no seminário, seja no livreiro, o meio
fácil de adquiri-lo. Se não conseguir, o compraremos aqui e o mandaremos pelo
melhor modo que pudermos encontrar.
Eis
aí toda uma carta de negócios onde o bom Deus não aparece muito. Ele está aí,
porém, já que tudo aqui é para seu serviço, e espero que assim seja nas mínimas
parcelas de nossa vida. Não temos dado tudo? Sim, mas é possível retomar, e
aqui a coisa é, infelizmente, fácil. Os homens, uma vez possuindo uma coisa
dada, a seguram e não deixam que a tirem. Deus não resiste, de costume, porque
quer unicamente o que o coração dá, não num momento somente, mas em todos os
instantes. Tornemos sempre, portanto, a nos doar, e, se é possível, sempre mais
plenamente e mais generosamente. É também dessa maneira que é preciso nos
doarmos a nossos irmãos. Por isso, renovo, para você e para os seus, caríssimo
amigo, minhas ternas afeições em Jesus e Maria.
Seu
amigo e Pai
Le Prevost
O
Sr. Chaverot vai bem. Escreveu-me nestes dias uma pequena carta, boa, cordial,
como sempre. Os demais estão também em boa forma. O Sr. Camus, um pouco doente,
não bastante firme nem bastante claro em seus relacionamentos conosco, com boas
intenções todavia, mas sui generis.
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