Na provação, o Sr. Le
Prevost abandona-se à vontade de Deus. Freqüenta sempre seus amigos. Fidelidade
indefectível a Pavie: enquanto seu fio durar, quer que se teça com o dele.
31 de
dezembro de 1834
Embora lhe deva por sua excelente carta, meu caro Victor, uma longa e grande
resposta, você é homem capaz de se contentar com algumas linhas que virão, ao
menos no primeiro dia do ano, unir minhas ternas afeições às efusões que vão
chover sobre você, tão amado e também tão amante. Ando, portanto, e depressa,
para chegar a tempo.
A primeira parte de sua carta me entristece vivamente e me afligiria mais
ainda, se não estivesse acostumado a reviravoltas contra toda esperança e se,
quase contra a minha vontade, não guardasse alguma confiança no futuro. Para
dizer a verdade, no entanto, não estou bem certo de que uma separação
definitiva me parecesse como uma infelicidade real. Por inclinação, por
dedicação absoluta a tudo o que você quer, me entreguei sem reserva a essa
idéia; mas era, eu o sentia em certos momentos, por abnegação e fé cega, antes
do que por convicção. Uma vida toda inteira resumida em um momento, é, talvez,
ambição exagerada, é o martírio, e aqui, meu amigo, seria mesmo o martírio por
Deus? Para mim, não sei outro que eu possa aprovar, e, como bem sei, passadas
as horas de febre, você mesmo não saberia pensar e querer diferente. De
qualquer jeito, a Providência está aí, ela tanto fez por você em todo o resto,
que haveria gritante injustiça em não esperar também nela para esse grande
assunto. É meu último recurso, quando minha pobre cabeça se cansa e não mais vê
as coisas claramente. Descanse também ali, meu caro Victor, e tenhamos
confiança de que o final, qualquer que seja, será o melhor.
Seria cruel, caro amigo, quando você procurasse se refazer um pouco com a
felicidade que me diz respeito, por compensação daquela que, em parte, lhe
falta, seria verdadeiramente covarde para mim se me recusasse a isso: porém,
caro Victor, não conte demais, o digo a você, com esse frágil apoio, ele
poderia faltar-lhe. Nunca futuro esteve menos assegurado que o meu, e esse
futuro não se calcula por anos, mas por dias: à véspera não saberia dizer onde
o amanhã me encontrará, aqui ou bem longe; há alguns que têm uma moradia, um
lar transmitido com lembranças e esperanças, que se enquadram e se firmam
nele dizendo: morrerei ali. Quanto a mim, morrerei com certeza, mas onde? Não
sei. Essa incerteza, que sempre me mantém alerta, não teria nada que repugnasse
meus sentimentos, se proviesse de simples abandono de coração, de resignação
confiante e calma, mas não posso dizer que seja assim. Aceitá-la tal qual,
talvez seja o melhor. Inclino-me a isso, consegui-lo-ei, espero, estará aí
minha felicidade.
Estou interessado de coração por tudo o que você me deu e não abrirei mão de
mínima coisa. Marziou e eu nos vemos fielmente. Gavard igualmente, até Godard,
sendo que ele é um pouco ligado a você. Fique tranqüilo, amigo, tudo o que você
tocou me é caro, coisas e pessoas, nada disso será
perdido. Vejo o pequeno C., vou fazer força para que
venha à casa no dia dos Reis. Sai, aliás, como quer, disse-me, em casa de um
correspondente. Estão bem contentes com ele no colégio. Recomendei-o ao padre
Buquet, diretor, que conheço, e a seu professor, que também estou conhecendo
particularmente. Este último o considera como um de seus melhores alunos e se
interessa muito por ele. Você está contente, meu mestre?
Adeus, querido amigo, lute, peleje da melhor forma possível este ano com os
dias, com as horas; o tempo passa, e se chega ao fim. Coloque-me sempre um
pouco por dentro de tudo. Enquanto meu fio durar, quero que se teça com o seu.
Quando quebrar, continue indo sempre, mas ainda me ame.
Léon
Le P.
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