Os sofrimentos
e a doença não são obstáculos ao acesso às ordens, a não ser que obriguem a
interromper completamente os estudos. Com sua delicadeza costumeira, o Sr. Le
Prevost mostra ao irmão Trousseau que as provações são penhores da bênção de
Deus e servem para a santificação.
Vaugirard,
25 de janeiro de 1867
Meu
caríssimo filho em N.S.,
Creio
firmemente que Deus o quer padre e religioso. Retome confiança e não receba as
provações que sua Sabedoria lhe manda numa perspectiva diferente daquela com
que Ele mesmo as olha. São, evidentemente, um trabalho pelo qual Ele quer
modelá-lo, aperfeiçoá-lo e torná-lo digno do grande privilégio, como das
grandes funções às quais aspira.
O
padre, o religioso têm que sofrer muito, imolar-se muito, curvar muito sua vontade
para o serviço de Deus e para o bem do próximo. A natureza impressionável, que
rejeita o sofrimento e a contrariedade, se prestava pouco, no seu caso, a esses
rompimentos necessários. E eis que o divino Mestre passou essa natureza
sob o martelo mortificante dos sofrimentos físicos e das contradições. Curve-se
sob essa mão divina, meu caro filho, pois traz a cura, a graça e a paz.
Parece,
de resto, que a paciência lhe escapa no momento em que Deus lhe mostra o
alívio, já que, sem levar em conta os imensos encargos que seguramos aqui para
nós mesmos, tudo dispusemos para mandar-lhe um ajudante que assuma, no seu
lugar, o cuidado do patronato. Não dependia de nós tirar instantaneamente os
obstáculos que se opunham à sua saída imediata. Mas acho que, daqui a alguns
dias, provavelmente no decorrer da semana que vem, poderá estar perto de você.
Será suficiente que você cuide de substituí-lo a você, sem precipitar
absolutamente a situação, para que a obra não tenha que sofrer por essa
mudança.
Não
vejo nisso razão para interromper seus estudos, a não ser que,
independentemente de todos os alívios trazidos a seu regulamento, sua saúde se
oponha absolutamente a que os suporte presentemente. Mesmo assim, você deveria,
nesse caso, reservar as disposições da Sabedoria divina para o futuro. É tão
bom, tão seguro, tão tranqüilizador nos entregarmos nas suas mãos! Quando nosso
divino Salvador explicava aos discípulos de Emaus a série misteriosa de seus
sofrimentos, acrescentava: Não era preciso o Cristo sofrer todas essas coisas,
e entrar assim na glória?390 Você, caro filho, a seu exemplo,
recordar-se-á, com doçura e consolação, da série de suas provações, e, chegado
ao nobre objetivo que entrevia, dirá: Discípulo de Jesus Cristo e seu
representante neste mundo, devia andar atrás dele e alcançar, como Ele, meu
objetivo pela pena e pelo sofrimento. Tenha certeza, caro filho, de que a
verdade está aí, que tais são as vistas de Deus a seu respeito. Seja dócil sob
sua mão, que o conduz ao repouso e à consolação.
Adeus,
meu caro filho, reze por nós, como rezamos por você. As dificuldades não nos
faltam também em nosso caminho, mas assumimos para nós mesmos também os
conselhos que lhe damos em seu nome.
Seu
amigo e Pai todo afeiçoado em Jesus e Maria.
Le Prevost
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