Levanta a
coragem do Sr. d’Arbois de um pessimismo mais acentuado do que de costume.
Todas as obras são imperfeitas. O essencial é fazer “com zelo e boa vontade o
que é possível, fazer sobretudo em união com Deus”.
Vaugirard,
15 de fevereiro de 1867
Caríssimo
amigo e filho em N.S.,
Não
vou escrever-lhe longamente. O mau tempo, as chuvas de inverno vindas depois das
de verão, diria, me diluíram o espírito. Minha cabeça e o resto do corpo estão
em mim verdadeiramente sem mola neste momento: não posso fazer quase nada.
Estaria
tentado a pensar que, em outros aspectos, você sofre também alguma influência
sombria, pois sua última carta é de um pessimismo bem mais acentuado do que de
costume. As obras, as pessoas, você sobretudo, seus empregados, suas contas,
sua administração, tudo é declarado detestável. Se, porém, caro amigo, jogasse
tudo isso para fora, tenha certeza de que não faltaria gente para apanhá-lo, eu
em primeiríssimo lugar, que saberia tirar grande partido de você e dos seus, se
não tivessem já muito para fazer em casa.
O
Sr. e a Sra. Pavie, que nos visitavam ontem, tinham uma linguagem bem diferente
da sua. Mas não é ruim perceber as imperfeições de seus atos para tender sempre
a torná-los melhores, e também para não ceder às sugestões da vaidade, tão
sutil, tão insinuante e da qual é tão difícil se desfazer.
Não
é de estranhar muito que, em estação tão feia, com as inundações e o
afastamento em que se encontra Notre-Dame des Champs, a prontidão da gente
diminua um pouco; mas, os primeiros raios do sol serão como que um apelo para a
multidão, e todo o seu mundo acorrerá. Faça com zelo e boa vontade o que puder,
faça, sobretudo, em união com Deus, e tenha plena certeza de que reencontrará
todas as suas vantagens. Você não me parece bastante persuadido de que, de
costume, os homens, em tudo o que operam, só agem imperfeitamente, só fazem
coisa indefinida. Há mais de trinta anos cuido das obras de Deus, nunca
vi algo verdadeiramente completo, entre nós em primeiro lugar, e nem nos
outros, quando me foi dado examinar de perto. Aceite, portanto, com humildade,
essa condição das realizações em que toma parte e console-se, pois, se está
imperfeito, se suas obras são também imperfeitas, muitos companheiros partilham
sua sorte.
Vamos aqui como de costume. O Sr. Philibert
parece, porém, declinar mais sensivelmente. Eu mesmo estou, há um certo tempo, sobretudo,
muito fraquinho. Minhas pernas são tão tolhidas que não posso, mesmo dentro de
casa, ir sem bengala. O que é pior, tenho grande dificuldade para dizer a Santa
Missa e tenho medo de ficar logo inteiramente impedido. Reze por mim, por nós,
reze também pela Comunidade, cujo pessoal não está em proporção com seus
cargos: o Conselho diz, a cada dia, o terço nesta intenção. Una-se a ele.
O
Sr. Derny retomou a direção de Sainte-Anne e o Sr. Charrin está no patronato de
Arras, do qual o Sr. Victor Trousseau, por causa de seus estudos, não podia
mais cuidar.
Adeus,
meu bom amigo, faça algumas boas afeições de minha parte aos nossos irmãos e
acredite, você mesmo, em todo o meu terno devotamento em N.S.
Seu
amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
Você
poderá ficar com o próximo envio de dinheiro que lhe fará o Sr. seu pai, se não
vir outro meio de atenuar o déficit acusado por sua carta. Não duvide, aliás,
que tenha direito de reter, para as necessidades reais de sua Comunidade,
alguma parte das esmolas que lhe são entregues sem designação de pessoas,
anônimas ou outras.
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