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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1401 - 1500 (1869 - 1870)
    • 1484 - ao Sr. de Varax
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1484 - ao Sr. de Varax

Encorajamento a firmar suas boas disposições. Não “se deter nos poucos momentos de abatimento e até de dúvida”. Levar em conta o contexto desfavorável: “os tempos são maus, a família é quase destruída, o Governo tende a apoderar-se das almas...”. Necessidade e utilidade de nossas obras, concebidas para ajudar os pobres que os meios ordinários da Igreja não podem atingir. O Sr. Le Prevost consciente das forças e fraquezas do Instituto. Confiança para o futuro.

 

Chaville, 6 de dezembro de 1869

 

Meu caríssimo amigo e filho em N.S., 

 

Respondo à sua carta do dia 2 deste mês, senão longamente, o que os movimentos e perturbações aos quais estou constantemente obrigado não me permitem muito, ao menos para lhe dizer que li com atenção e interesse as aberturas de consciência que me faz, em continuação a seu último retiro.

 

Parece-me que o resultado definitivo desse tipo de inventário de suas disposições interiores é, em muitos pontos, satisfatório. Alguns progressos em mansidão, em desprezo e desconfiança de si mesmo, uma vontade mais firme para a obediência, um amor mais marcado para os pequenos e os fracos, tudo isso é mesmo no espírito cristão e bem essencial na vida de perfeição à qual aspiramos. Quanto aos ímpetos da imaginação, dos sentidos, da expansão às vezes excessiva, é sobretudo desse lado que temos de vigiar em nossa existência de todos os dias. As ocasiões de faltas se renovam sem cessar, mas o benefício de seu retiro será especialmente o de levá-lo a redobrar os cuidados e a mortificação para submeter todas as suas faculdades inferiores à razão elevada divinamente inspirada e que é a rainha de todo interior bem ordenado. Tudo isso bem visto, bem sentido, bem aceito, como parece ter feito, dará uma boa e frutuosa conclusão ao trabalho de seu recolhimento espiritual em Saint Acheul.

8 de dezembro. Imaculada Conceição. Vaugirard.

 

Retomo aqui minha carta interrompida, sem ter grande certeza de concluí-la, a grande festa do dia tendo trazido ao orfanato a maioria de nossos irmãos de Paris e de Chaville.

 

Não estranho, meu caro amigo, que tenha às vezes alguns momentos de saudade, de abatimento, e mesmo de dúvida sobre a via em que se engajou. Deus providenciará e esses mal-estares de espírito passarão, se já não estão longe. A casa e as obras onde está sempre foram consideradas entre nós como sendo das mais rudes. O pessoal das crianças e dos jovens, por si já bastante difícil, nunca foi cultivado com bastante persistência e continuação para que tenha sido possível formar ali um espírito e obter frutos completamente sérios. Para nossa situação em geral, é preciso considerar que os tempos são ruins. Tudo concorre para tornar o trabalho espiritual pouco produtivo. A família, esse primeiro e tão admirável meio da Providência para modelar as almas, é quase destruída, falando cristãmente, e não vive mais a não ser nos sentimentos naturais que exagera. O Governo, que tende, per fas et nefas, a apoderar-se das almas, as extravia e as perverte, e a Igreja mal basta, em seus meios ordinários, para as necessidades dos fiéis que ainda sabem o caminho da paróquia. O que sobra fora dela é imenso, o pobre povo sobretudo está errante como um rebanho sem pastor. Desejamos, de  nosso lado, dar-lhe um pouco de assistência; por esse primeiro ponto ao menos, não se poderia negar que nossa vocação seja santa e bem fundamentada. As necessidades a satisfazer sendo imensas, as assumimos audaciosamente (demais talvez) em toda a sua extensão: abraçamos todas as idades, desde a criança até o idoso. Acompanhamos o pobre e o operário em sua educação, em seu trabalho, em suas necessidades espirituais e temporais e até em seus divertimentos. Nos fizemos pobres para eles, partilhamos nossa casa com eles e vivemos como eles. Se estivemos longe demais, Deus no-lo dirá, mas ao menos o fundo essencial de uma verdadeira vocação religiosa não nos faltou, aceitamos cordialmente a renúncia e a imolação. Nossas obras, assentadas nessa base, podem se modificar com o tempo e segundo a luz que nos vai trazer a experiência, mas a Congregação, posta em cima desse solo sólido, permanecerá, tenho confiança. Se estivéssemos extraviados, como o desânimo o sussurrou no seu ouvido, o bom Deus, que deu êxito e benção a quase todas as nossas obras e que nos colocou em mãos recursos que nossa indústria, com certeza, não teria criado, os Bispos que constantemente encorajaram nossos esforços e o Santo Padre que os aprovou e abençoou, atenuariam muito nosso erro. Acho que podemos banir essa inquietação.

 

Sua apreciação sobre o pessoal da Congregação me parece também se ressentir da disposição de espírito em que o puseram as dificuldades e os cansaços que sofreu. Voltando a um sentimento mais justo, observará que temos bastante sujeitos, tanto eclesiásticos como leigos, de uma virtude sólida para que, excluindo tudo o que pareceria fraco demais, sobrasse ainda uma sociedade consistente com bastante vida e valor espiritual para constituir um foco de um verdadeiro poder. Direi mais, os pouco adiantados mesmo têm, ao menos, salvo exceções bastante raras, as qualidades das pedras que se esconde na terra nas construções: suportam os cansaços, as privações de uma vida severa, muitas vezes bem pobre e sempre laboriosa. Pobres meninos! Faltaram,  na maioria das vezes, de cultura intelectual, das disciplinas do Noviciado. O pouco que têm lhes é próprio, pois, nesse caso, a Congregação não lhes deu quase nada. Mas é talvez essa falta da Congregação que você lhe censura e que o colocou em dúvida sobre seu futuro. Pois bem, como estava escrevendo-lhe estas linhas, neste mesmo instante, veio me ver o R.P. Sturm, Jesuíta, que está na chefia das obras mais importantes de Lille e que goza de uma grande estima. Cheio do pensamento que me ocupava ao responder a você, consultei-o a esse respeito. Estivemos errados, falei, por ter cedido a circunstâncias que nos pareceram imperiosas, assumindo mais postos, talvez, do que a prudência teria aconselhado? Devemos nos inquietar de que um certo número de irmãos, de segunda classe, estão bastante fracos e faltaram de cultura? Respondeu-me corajosa e nitidamente: “Não. Do ponto de vista da prudência humana, seria um erro, mas agiu com reta intenção e para as obras de Deus. Conte bem que Deus está comprometido em sustentá-lo e que Ele o fará. Nós mesmos, acrescentou, muitas vezes, ainda hoje, estamos obrigados a agir como você. Quando assumimos a Bélgica, foi preciso ocuparmos ao mesmo tempo um grande número de postos, para tomarmos as posições. Faltávamos de sujeitos. No entanto, avançamos, estávamos fracos em todo lugar, insuficientes, inferiores à nossa tarefa. Mas, com o tempo, nos fortalecemos, colégios e residências se estabeleceram, e a Bélgica nos deverá, em muito grande parte, a fé e a vida cristã que a animam. Tenha, então, boa coragem, me disse ao terminar, não há um só Instituto que, em sua origem, não teve que atravessar as fases difíceis de que me fala. Sua Congregação é da época. Com todos aqueles que a conhecem, a considero como essencial e querida por Deus”. Essa autoridade, acrescida a muitas outras, me pareceu responder aos pensamentos que o agitaram e de natureza a tranqüilizá-lo.

 

O jovem Eugène [Dufour] tem, com efeito, muitas vezes dores de dentes. Fora disso, é bastante robusto e deve seguir o regime comum. É preciso não ceder sobre isso. Bom menino e manso de caráter, ele é um pouco fraco, necessita de ser amparado por uma direção contínua. Se se confessar a você, será bem.

 

Fizemos hoje nosso encerramento do jubileu após três dias de exercícios preparatórios, e festejamos ao mesmo tempo a Imaculada Conceição. A abertura do Concílio nos preocupava com razão. Nossos irmãos eclesiásticos ofereceram nessa intenção o Santo Sacrifício. O dia passou de modo feliz, lamentava-se somente a ausência do Sr. Lantiez e a do Sr. Planchat que tem, para amanhã, dia 9, a primeira comunhão de 85 adultos e o batismo de um israelita. Você rezará, senão pela primeira comunhão, ao menos pela perseverança dos que a fazem.

 

Tomo parte no cansaço de saúde de nosso irmão Trousseau. Gostaria de lhe escrever muitas vezes. Infelizmente, o tempo e as forças me faltam. O Sr. Ginet não me disse qual havia sido a resposta de sua tia e quais [eram] também seus próprios sentimentos no tocante aos estudos. Assegure bem toda essa casa, como a em que está, de todos os meus afetuosos sentimentos.

 

Não sei se lhe disse que o Sr. Gresser, enfim livre de seus laços, está todo entregue à vida religiosa e às obras. Um novo seminarista [Sr. Perthuisot], já bastante adiantado em teologia, tomou lugar em Chaville; pertencia à diocese de Troyes. Talvez já lhe tenha escrito isso. Parece ser inteligente e bem disposto. Seis seguem, portanto, as aulas de Versailles [Srs. Cauroy, Pradeaux, Vernay, Frézet, Castellan e Perthuisot].

 

Adeus, meu excelente amigo e filho em N.S., acredite em todos os meus sentimentos mais afetuosos em Jesus e Maria.

 

Seu amigo e Pai em N.S.

                                               Le Prevost

 

 




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