1603.1 - do Sr. de Varax ao Sr. d’Arbois430
Notícias
das comunidades de Paris durante o sítio. Armistício do 28 de janeiro de 1871.
Paris, Nazareth, 30 de janeiro de 1871
Meu caríssimo e venerado Pai em N.S.,
É em nome de nosso Padre Superior que lhe escrevo. A
reabertura das comunicações, devolvendo-lhe a faculdade de corresponder com
seus filhos, não lhe dá, infelizmente, a agilidade de escrita exigida para
escrever ao mesmo tempo para todos os lados. Por isso, deu-me missão de
lhe fazer chegar imediatamente a expressão de sua ternura para com você e todos
os seus irmãos, com o desejo bem vivo que ressente de ter, o quanto antes,
notícias suas em grande detalhe. Seu telegrama tão precioso do mês de novembro
não deixou de ser bem breve, como todos os telegramas. Uma ou várias cartas,
cheias da história de cada um dos membros da família que lhe são confiados,
satisfarão melhor nossa legítima curiosidade. Aliás, não é provável que, logo,
as autorizações para entrar em Paris permitirão ao Sr. Hello entrar e nos
trazer de visu as narrações, com circunstâncias, de que nossa afeição é
ávida?
Aqui, nossa situação como obras não mudou no
essencial. O número, somente, sofreu mudanças. O espírito permaneceu o que era
em outros tempos em cada casa. Nenhuma foi suprimida. O próprio Círculo
funcionou com vinte ou trinta meninos ou estropiados, e aumentado, aliás, pelos
militares da ambulância. Nenhum dos nossos irmãos foi gravemente atingido pela
doença ou pelos acidentes da guerra. O Orfanato, dispersado no momento do
sítio, conta somente com umas 30 crianças, que foram conduzidas a Saint Charles
durante o bombardeamento e que vão retornar a Vaugirard amanhã, graças ao
armistício. Neste momento, 400 artilheiros estão alojados nos grandes prédios,
dos quais ocupam mais da metade.
Nenhum de nossos meninos de Nazareth foi atingido
pelas balas inimigas, embora houvesse muitos deles na Guarda Móvel e na Guarda
Nacional. É uma proteção maravilhosa.
Um só menino do Círculo, Bruneau, foi atingido na rua
d’Enfer por um obus do bombardeamento, em pleno meio-dia. O pobre menino sofreu
a amputação. Estima estar fora de perigo, está sendo tratado no Val de Grâce.
Vaugirard foi crivado de obuses. Um só penetrou no
prédio de habitação de uma maneira grave. Entrou no seu quarto, rolou no chão e
não estourou, embora tivesse feito seu buraco no muro da empena, perto do sino.
Outros acidentes sem importância foram causados por estilhaços. Os arredores e
o jardim receberam projéteis por dúzias. Esses Senhores, cinco ou seis no
total, se alojavam na cave. O Sr. Superior não quis afastar-se também. O resto
estava fora de alcance, em
Saint Charles.
Grenelle viu um obus rolar sem estourar ao pé do
outeiro onde a Santa Virgem está colocada no quintal.
Nazareth, cercado de projéteis, por cima, à direita e
à esquerda, recebeu também proteção da boa Mãe. Nenhum estrago. Uma só granada
penetrou no quintal e estourou a um metro na terra, no meio dos aparelhos de
ginástica, quase diante da estátua do Anjo da guarda. Nenhum cavalinho de pau,
nenhum escabelo, nenhum equipamento teve o mínimo dano.
O Círculo, tão exposto como nós e menos firme, não
recebeu nada também, salvo alguns estilhaços no pequeno alpendre de São José,
perto da avenida d’Enfer. Várias casas vizinhas foram perfuradas e o cemitério,
que mal dista de cem metros de lá, foi crivado.
Sofremos pouco pela dificuldade de ter alimentos.
Embora mal munidos em certas casas, recebemos providencialmente o necessário
até o fim. Na realidade, não se pode dizer que Paris tenha muito padecido pela
fome. A ausência de lenha foi bem mais cruel para os doentes e os pobres. Por
isso, a capitulação (decorada do nome de armistício) surpreendeu muita gente.
Para mim, a única explicação vem de considerações de política fáceis de
suspeitar, mas de que não falo aqui.
Como não gosta das cartas compridas, acho que farei
bem em fechar esta. Aliás, disse tanto quanto pode um enclausurado saindo de
sua fortaleza, após cinco meses de retiro. Só sabia o que aconteceu na
casamata.
Para mais tarde os mil detalhes de nossos longos dias
de sítio. Por enquanto, limito-me a voltar de preferência meus olhares para N.
D. des Champs, onde sabe que meu coração ficou quase inteiro. Abrace por mim os
dos meninos que ainda não se esqueceram de mim. Aperte as mãos do Sr. Pessard,
dos padres Fournier, Lecacheur, ofereça meus respeitos à Sra. de Villontrays,
ao Sr. Pavie... Acho que tornarei a vê-los um dia, pois, quanto mais me
reencontro em Paris, mais sinto que não sou feito para viver ali a vida das
obras. Tenho necessidade do barulho do interior. Se tivesse a ousadia de fazer
planos, ambicionaria ir tomar o lugar do bom Sr. [Ad.] Lainé perto de você. Mas
que sonho!
Escrevo ao excelente Sr. Jouin. Recebeu minhas cartas
nos primeiros meses do sítio de Paris?...
Todo seu, com respeitosa afeição em N.S.
Abraço nossos Irmãos.
B. de Varax
Padre SVP.
Abro de novo minha carta para enviá-la por terra.
Sempre tem o bom Gauthier? Abrace-o por mim, assim como Haffner, Bion,
Chanteau, Huet.