1605 - ao Sr. J. Faÿ
Primeira
carta após o fim do sítio de Paris. Notícias da Comunidade.
Vaugirard, 6 de fevereiro de 1871
Meu caríssimo amigo e filho em N.S.,
Posso, enfim, romper esse longo silêncio e
escrever-lhe, esperando que, desta vez, a carta lhe chegue. De todas as nossas
misérias, a mais dura era essa quebra absoluta de toda relação com todos
aqueles cuja vida é fundida com a nossa para constituir uma só na divina
caridade.
Pôde, por sua correspondência com nossos irmãos do
interior e com o Sr. Mitouard, acompanhar mais ou menos de perto nossos
movimentos. Mas, para nós aqui, a barreira era intransponível, estávamos
separados do mundo. Significa que teríamos muitas perguntas a lhe
fazer e poucas coisas novas a lhe informar431. Em poucas palavras, no
que nos diz respeito, apesar do dilúvio de obuses e de seus estilhaços, ninguém
dos nossos foi atingido. Alguns danos nos prédios de Vaugirard, alguns
prejuízos mais notáveis em Chaville são, no conjunto, nossas perdas materiais.
Não falo da fome, do alojamento nas caves, nem sobretudo da miséria dos pobres,
da mortalidade mais do que dobrada, da desorganização completa de nossas obras.
Estão aí aflições comuns.
Acrescento, quanto às nossas obras, que se acham
diminuídas, mas que ficam de pé em todo lugar, suscetíveis de serem restauradas
e reanimadas com um pouco de esforço. O Sr. Mitouard pôde vir nos visitar há
três dias e viu, assim como os Srs. Jean [Maury], Louis [Boursier], Arsène
[Briscul] (chegado em Chaville desde o começo do sítio), lado a lado com os
Prussianos que são, para falar a verdade, bem mais do que nós os donos da casa.
Recebi ontem uma carta do padre Hello, que quer chegar logo perto de nós.
Espero que consiga, embora não sem dificuldade. Carta também ontem do Sr.
Trousseau, que deseja, por sua vez, nos visitar, se as vias não lhe forem
fechadas.
Em Vaugirard, 400 artilheiros, cujo número vai ainda
ser aumentado, ocupam o prédio de nossas crianças. Estamos refugiados, com 25 grandes
e pequenos que nos ficam, nos locais da comunidade. As ambulâncias, que
tínhamos estabelecido em todas as nossas casas, estão para se fechar.
Nenhuma das informações que pude receber me disse alguma
coisa a respeito de vários de nossos irmãos. O Sr. Coquerel está sempre perto
de você?
O que aconteceu com os Srs. Lemaire,
Caron, Allard, Garreau, Manque, Emes, Pappaz, Piquet?
Onde estão, enfim, os Srs. Blanchetière, Trouille, um
jovem operário de Saint Jean, os irmãos Lazaristas, os das Missões e do Santo
Espírito, em uma palavra, todos aqueles que formavam a 7a
ambulância?
As comunidades me mandaram pedir informações sobre
seus sujeitos, não pude responder nada. O Sr. Risse me escreveu, há três dias.
Ele e seus irmãos vão bem. Os Srs. Magnien e Pradeaux têm lições particulares
de teologia da parte dos Srs. Sulpicianos. O Sr. Hubert parece ter voltado para
você e o Sr. Bonnet, convalescente, à sua vez, vai também se juntar a você. Que
poderá fazer deles? Seu rebanho está se tornando evidentemente numeroso demais.
Todavia, não pareceria muito conveniente mandar de volta ninguém antes das
eleições e da formação da Assembléia Nacional. Por enquanto, essa sobrecarga
pode pôr suas finanças em déficit. Embora pouco ricos nós mesmos,
poderíamos lhe enviar 200 ou 300f
atualmente. Está vendo outra via fora de um mandato sobre um bancário de
Tournay para fazê-los chegar?
Espero que me escreva logo, assim como meu caríssimo
padre Lantiez. Sua presença em Tournay foi um grande apoio para todos vocês.
Ele está bem restabelecido de seus cansaços da ambulância? Que rude
empreendimento! Que Deus se digne abençoar esse movimento de nossa pequena
família, até então tão quieta. O Sr. d’Arbois, escreve-me o Sr. Hello, está em Berlin. Pôde
chegar até os prisioneiros e lhes fez chegar os auxílios que trazia. Que acham,
o Sr. Lantiez e você, do projeto do Sr. Baumert para um estabelecimento em
Londres, e que pensar também de um posto definitivo a formar em Tournay? Espero
que o Sr. Jean-Marie [Tourniquet] tenha fortalecido sua saúde, que estava
cansada, assim como o Sr. Bouchy e os outros. Quereria nomeá-los a todos, que
me falem ou que outros me falem deles: tenho necessidade de sentir que estão
vivos e em paz.
Tinha-lhe recomendado, em caso de penúria de dinheiro,
recorrer ao Sr. de Caulaincourt. Teve alguma ocasião de vê-lo?
Vou terminar esta carta por hoje, não querendo atrasar
sua saída. Mas, se Deus nos mantiver vivos e se os Prussianos, os agentes de
sua justiça junto a nós, nos deixarem a liberdade, nossas correspondências,
agora reiniciadas, não serão mais interrompidas.
Aguardando com grande impaciência notícias suas e de
todos os nossos irmãos, abraço-os de coração com todos aqueles que me cercam. O
Sr. Ladouce, que acaba de me servir de secretário, o assegura bem
particularmente de suas mui vivas afeições.
Na sexta-feira, 10, o retiro mensal nos reunirá em Vaugirard. Como
falaremos de você e como rezaremos por você! As lágrimas sobem a meus olhos. A
reunião, um dia, será bem mais numerosa quando Deus, em sua misericórdia, tiver
se dignado nos congregar a todos, para bendizê-Lo a uma só voz e de um só
coração.
Seu devotado e afeiçoado Pai em N.S.
Le Prevost
P.S. Não saberei dizer-lhe quão viva é nossa gratidão
pela admirável bondade de Monsenhor o Bispo e dos Srs. do seminário, e do Sr.
Desclée. Que Deus digne-se devolver-lhes todo o bem que lhes fazem e aceitar as
orações que fazemos a Deus por eles.