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Jean-Léon Le Prevost Cartas IntraText CT - Texto |
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88 - ao Sr. PavieCompaixão por ocasião do falecimento do pequeno Joseph Pavie. Oração por Maria. Mistério e fecundidade do sofrimento. “As horas de aflição são bem escolhidas para se ler mais grandemente nas coisas de Deus”. Sua própria família também passa por provações.
Paris, 19 de novembro de 1841
Caro Victor,
Não sei que instinto de terna afeição me preocupava a seu respeito estes dias e parecia me avisar que sua alma aflita chamava a si os que lhe são devotados. Não sentia nada de preciso, porém, a não ser a necessidade de lhe escrever, e o teria feito, caro amigo, mesmo se sua carta não tivesse chegado, com suas tristes revelações. Mas o que dizer a tais penas? Como impedir as entranhas de gemer? Como esgotar tantas recordações graciosas e amargas que sem cessar voltam e tomam o lugar das doces ilusões do futuro? Tenho medo, caro amigo, de não saber, mesmo com a ajuda de minha terna simpatia por você, penetrar bastante nessas profundezas. Há na sua carta expressões tocantes, que são para mim como uma luz sobre essas potências da alma, que são fonte de amor e de sofrimento; mas sinto que não acompanho sua querida esposa e você até o fim último: um coração de mãe tem abismos que só Deus pode sondar.
Oh! Possa o Senhor descer bem intimamente nas suas duas almas que ele fez e redimiu, e tocá-las com sua mão divina para consolá-las e curá-las. Sim, caro amigo, fiz-lhe esta prece e, como hoje é um dia de Maria, véspera de um outro dia dedicado também à sua memória, rezei a Maria, mãe também, para que o gládio que os traspassa manifeste ao Senhor todo o amor, toda a resignação de seu sacrifício e o torne precioso diante dele. Nas horas de piedosas efusões você disse várias vezes: “Ó Deus, o que lhe retribuiremos? O que há em nós de caro e íntimo, fosse no fundo de nossas entranhas, que não lhe ofereçamos? E o Senhor estendeu a mão, pegou o dom oferecido. Não o lamente, caro amigo, ele o tomou para si, isso é para a eterna felicidade. Que pena que ele não tome ainda tudo o que somos, e tudo aquilo que temos, pois a vida está nele e procuramos a vida, pois Ele é o amor e nossas almas suspiram só pelo amor. O doce anjo o sabe agora: que ele o revele àqueles que deixou, que paire sobre vocês e seja como o anjo da guarda de seu lar, que ele o torne ainda mais santo e os faça aspirar pelo céu que é sua morada e onde seus ternos carinhos os esperam.
É assim que você encara, vejo-o bem, este ato da vontade divina. É um passo a mais, diz você; sim, todo sofrimento, toda dor é um passo. Arrastamo-nos, não se anda de outro jeito. Mas nesta via, após alguns degraus ultrapassados, os olhos se abrem e mergulham na imensa verdade. O mistério da cruz revela sua sublimidade e a alma entra na posse da felicidade prometida. Bem-aventurados os que choram, sim, bem-aventurados pela alegria do sacrifício, pela alegria do despojamento, do amor submetido e dedicado, que se imola por aquele que ele ama e o glorifica submergindo tudo nele.
As horas de aflição são bem escolhidas para se ler mais grandemente nas coisas de Deus. Permita-me, caro amigo, sugerir-lhe, para leitura íntima, um livro que foi indicado a mim mesmo por um homem grave e santo, e cuja substância, creio, lhe irá bem. É o Intérieur de Jésus et de Marie, pelo Pe. Grou. Esse título não é muito atraente, mas não pare aí. Conheço-o mal, ou essa pura e santa contemplação da alma do divino Mestre lhe convirá. Para abreviar, vou passar no livreiro e encarregá-lo de remeter um exemplar dessa obra à casa do Sr. Leclerc, com pedido de lho fazer chegar. Aceite, caro amigo, este dom singelo de seu irmão afeiçoado. Você tem tantas penas, caro amigo, preciso lhe dizer também as minhas? Minha boa e venerada mãe, com perto de oitenta anos de idade, está abatida. Recupera-se penosamente de uma doença e começa a se levantar um pouco cada dia. O marido de minha irmã, de cama há quatro meses, sofre de um problema cardíaco que apresenta os sinais mais alarmantes. Minha irmã, entre minha mãe e seu marido, fraca e franzina como é, não se deitava mais estes últimos tempos. Ela vigiava numa poltrona, indo de um à outra. Em todo o caso, uma tão longa interrupção faz um prejuízo irreparável a meu cunhado, para sua carreira, e o embaraço se introduz em seus negócios. A educação dos filhos reclama sacrifícios; ajudarei nisso um pouco, mas eu mesmo não tenho tanta fortuna e saúde.
À minha vez, caro amigo, peço suas orações por minha família e as também de sua querida amiga. Esta terna troca de orações fará crescer a caridade entre nós e nos aproximará de Deus, estreitando ainda mais nossos laços. Minha mulher toma uma terna parte em suas penas, nas da Senhora Pavie, sobretudo. Que pena, não poder lhe prometer também suas orações. Oh! caro amigo, imploro a você, peça por ela essa graça que nos leva a orar. Respeitosa lembrança a seu pai, e a vocês dois minhas mais caras amizades.
Seu irmão em J.C. Le Prevost
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