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Jean-Léon Le Prevost Cartas IntraText CT - Texto |
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132 - ao Sr. MaignenÀ cabeceira de sua mãe que está morrendo. Em seu abatimento, o pensamento do Sr. Maignen o reconforta. Paternais repreensões ao seu jovem irmão por demais sensível.
Duclair, 28 de novembro de 1845 Escrevo-lhe outra vez, caríssimo filho, sem ter nada de novo a lhe dizer sobre o estado de minha pobre mãe; durante dois dias, ela tinha sofrido um pouco menos e deu-nos uma leve esperança, mas recaiu depois em uma fraqueza ainda maior do que antes e sua dolorosa agonia recomeça. Pediu que a extrema-unção lhe fosse administrada e recebeu esse sacramento com a piedade e a resignação as mais edificantes. Até aqui, ela guarda habitualmente sua presença de espírito e ainda pode elevar seu coração a Deus; mas, de resto, sua fraqueza e seu esgotamento são tais que ela permanece indiferente a tudo o que se faz a seu redor; não mais se mostra sensível aos nossos testemunhos de afeição e não aspira senão ao descanso, o sono suspendendo um momento seus sofrimentos. Ela não aspira menos, todavia, ao grande e eterno sono que porá enfim um termo aos seus males; desde ontem, me pediu várias vezes para dizer-lhe as orações dos agonizantes; a dissuadi, ainda não vendo nada que anuncie a aproximação certa do último dia. Recitei somente por ela as ladainhas da Santa Virgem, saúde dos enfermos e consoladora dos aflitos. No entanto, o resto de suas forças esgota-se visivelmente, as poucas colheradas de refrigerante que ainda aceitava se-lhe tornam insuportáveis, ela não toma mais nada senão com desgosto e quase à força. Eis aí, caro filho, a situação de minha pobre mãe; seu estado é, como você está vendo, bem triste, bem doloroso para os que a amam tão ternamente. Quase não deixo nossa pobre doente, mas, caro filho, você pode ficar sem inquietude acerca de minha saúde; fora de alguns instantes mais penosos no serviço de nossa boa mãe, o que lhe é preciso são cuidados assíduos antes do que cansativos, e se a vida por demais fechada que estou constrangido a levar não me desse um pouco de inflamação, não teria quase nenhum sofrimento. Quanto às noites, minha irmã deita-se perto da cama de nossa mãe e a serve, quando é necessário. Não pude decidi-la a ceder-me seu lugar, embora esteja muito cansada, porque em muitos cuidados eu não posso substitui-la. Se você me perguntar sobre o espírito como sobre o corpo, confessar-lhe-ei, caro filho, que me sinto, há alguns dias, triste e abatido. Rezo da melhor forma possível e faço algumas boas leituras, mas a tribulação atormenta meu miserável coração e, nessas longas horas passadas na cabeceira de minha pobre mãe, as preocupações já pesadas de minha vida se apresentam a mim ainda mais angustiantes. Reze por seu velho pai, meu bem-amado filho, a fim de que essas cruzes se tornem salutares para ele e que as carregue em união com a adorável cruz do Salvador.
No meio de minhas aflições, sua doce e consoladora afeição, querido filho, me acalma e põe um pouco de bálsamo sobre minhas feridas. Por isso, sinto-me bem comovido por isso e faço-lhe uma grande parte em meus mais ternos pensamentos. Nos primeiros dias de minha chegada, minha mãe, menos absorvida do que hoje, me forçava, por ela mesma, a deixá-la alguns instantes para tomar um pouco do ar de fora; quando subia em nossas ladeiras e que, dominando ao longe o Sena e suas sinuosidades, contemplava as paisagens, tão lindas ainda neste fim de outono, um certo desabrochar fazia-se em mim e me dilatava o coração; como a imagem do filho voltava então rápido para mim, e como teria querido tê-lo ali para gozar comigo um tão belo espetáculo! Desviava meus olhos, não mais encontrando encanto, porque estava sozinho e não sei mais nada apreciar sem ele.
Em minhas leituras também, nunca deixo de lhe fazer sua parte; anoto as melhores passagens para lhe mostrar mais tarde e associá-lo aos bons pensamentos que me sugerem; enfim, em minhas orações, na igreja e em todo lugar, o filho me acompanha e se mistura com o mais íntimo de minha vida. Por que, então, ele se queixa e procura, nas expressões simples e verdadeiras de minha afeição, subtilidades que não existem? Não lhe escrevi na hora de partir, embora tenha muito pensado em fazê-lo, porque não tive tempo. Se ele quisesse se pôr no meu lugar, representar-se o estado de perturbação onde me colocou a triste notícia que me foi trazida, a precipitação de minha partida que se efetuou na mesma hora sem preparação, sem adeus nem na minha casa, com o pensamento constante que um instante de atraso me privaria de abraçar mais uma vez minha pobre mãe, creio que me agradeceria a terna lembrança que tive dele mesmo nesse momento e que ele não exigiria mais nada. Escrevi duas cartas às pressas, uma à minha administração, a outra ao Sr. Dufresne, porque, dos dois lados, havia dever absoluto. Não concedi nada às afeições porque, na falta de atos exteriores, elas sempre podem, no fundo do coração, encontrar a parte que as compensa. Que o filho se acostume, portanto, a ler melhor no meu coração, e verá que nenhum outro o prejudica e que ele não tem motivo para se queixar. Evitarei, meu doce filho, todas as ocasiões de contristá-lo, mas, com um pouco mais de confiança você descobrirá que você mesmo pode poupar a si próprio essas pequenas feridas que perturbam muitas vezes a paz de seu coração e a serenidade de sua fronte.
Esforço-me, caro filho, por escrever-lhe estas linhas que interrompi ontem, de tanta emoção dolorosa que sentia pelo estado de minha pobre mãe; ela não toma mais absolutamente nada e enfraquece a olhos vistos; se alguma reação não se realizar, é impossível que subsista além de alguns dias. Vamos experimentar o gelo como último meio de devolver aos órgãos um pouco de energia, mas o médico declara que o efeito, fosse ele feliz, só pode durar alguns momentos, apenas. Reze sempre, caro filho, com o irmão, a fim de que o Senhor ampare nossa pobre mãe e a nós também nestas últimas provações. Abrace ternamente o irmão por mim, nunca o esqueço, sobretudo nos melhores tempos. Peça, por favor, ao Sr. Roudé para passar na casa de Dona Carlier (rua do Bac, 97) que me escreveu, a fim de avisá-la sobre minha ausência e para verificar se aquilo que desejava de mim é urgente.
Queira entregar o lembrete anexado ao meu porteiro. Sou bem ternamente, caro filho, nos corações de Jesus e de Maria Seu devotado pai e amigo
Le Prevost
Diga-me o resultado de seu exame e sua posição em seu emprego.
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