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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 101 - 200 (1843 - 1850)
    • 177 - aos Srs. Myionnet e Maignen
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177 - aos Srs. Myionnet e Maignen

O Sr. Le Prevost faz um balancete da vida de sua comunidade e procura comunicar aos seus irmãos seu zelo missionário que decorre de um coração que é um só com Deus.

--- A vida de família e a união fraterna têm de se firmar mais, apoiadas no  amor de Deus: ter a coragem de se amar e de se suportar como Deus nos suporta. Seguir o “passo de Deus, e entrar em seu compasso, sem pressa nem moleza.”

--- O Sr. Le Prevost aparece como que tomado pelo “espírito do Cenáculo”; o desejo e a esperança são o sinal e a força de sua missão: não desesperar de seu tempo...

--- “Hino à caridade”: o ardor espiritual que anima o Sr. Le Prevost em seu amor por Deus e seus irmãos: “é a caridade que nos impulsiona e nos pressiona...”

 

 

Duclair, 26 de agosto de 1847

            Caríssimos e bem-amados irmãos,

            Alguns dias já se passaram desde minha saída, e vocês esperam sem dúvida uma carta que me aproxime alguns momentos de vocês. Eu já a teria escrito, caros amigos, se, desde minha chegada, não estivesse constantemente sofrendo. Apenas desembarquei, tive acessos de vômito e desde esse momento fiquei muito enfraquecido. Observo a dieta e permaneço amarrado ao lado do fogo. Sim, do fogo; choveu constantemente desde minha chegada; a temperatura esfriou tanto que, na beira do rio onde estamos, sente-se um frescor excessivo e precisa-se, pelo menos quando se fica inativo como eu, de se esquentar um pouco. Se isso durar assim, minha estada no campo não me será muito proveitosa, pois, mesmo retomando, como espero, mais forças, não poderei pôr os pés fora. A roça é insuportável para nós, pobres parisienses, nos dias de chuva. As estradas estão encharcadas e tão enlameadas que não se tem coragem de entrar nelas. Estou um pouquinho abatido por esses contratempos que me impedem de fazer festas, como gostaria, aos que me rodeiam e de tomar o descanso de que acreditava necessitar; mas, no fundo, tomo as coisas como devem ser e acho bom e perfeito tudo o que o Senhor resolveu.

            Muitas vezes por dia, caros amigos, transporto-me para o meio de vocês. Seguindo o menos mal possível meus exercícios, faço-os em união com vocês. Percorro pelo pensamento nosso pequeno mosteiro de Grenelle e os acompanho em seus trabalhos costumeiros. Sentindo no fundo do coração uma suave e pura alegria com todas essas recordações, bendigo a Deus, que já se digna formar em nós o espírito de família e consolidar no  dia-a-dia nossa união. Distante e momentaneamente separado de vocês, posso melhor avaliar nossa situação; julgo-a boa, providencial e tal como podíamos desejá-la. Vejo os elementos de um bom futuro, se soubermos acomodar-nos em tudo de nossos pequenos inícios, temporizar e não exigir de nossas obras, nem de nossa constituição, nem de nós mesmos o que somente um desenvolvimento sucessivo deverá trazer. Dependeria, sem dúvida, do Senhor que colocou em nós um germe de vida, fazê-lo crescer e florir de repente, Ele poderia consolidar nossas obras, aumentar nossas forças, lançar-nos mais sensivelmente na perfeição, mas não lhe apraz proceder assim. Empregou, desde o começo, seis dias para configurar o mundo e, desde então, só  realiza algo, na maioria das vezes,  por um trabalho lento, medido, que avança, mas que a gente não vê andar. Entremos nesse compasso, caros amigos, sem pressa como sem moleza, seguindo o passo de Deus. Com Ele, iremos com segurança e atingiremos nosso fim. Não sentem como eu, no coração um certo poder, um tipo de anseio pelo futuro, um grande desejo, uma grande esperança? Pois bem, o sinal e a força de nossa missão estão aí. Deus colocou em nós o desejo para que oremos, a esperança para que ajamos. Oremos com todo o fervor de nossa alma, trabalhemos com uma santa coragem, e caminhemos com confiança, porque estamos no caminho; cada passo nos conduz ao fim. Não temos desesperado de nosso tempo, de nosso país, de nossos irmãos, temos pensado que, neste movimento, vago e fraco ainda, do povo para a fé, havia algum impulso, alguma promessa fecunda. Não seremos iludidos. É a caridade que suscita tudo ao redor de nós; é ela que desperta as almas, as impulsiona e as unifica. É ela também que nos leva e nos envolve na sua ação. A caridade não fraqueja e não fica no meio da jornada. Uma vez acesa, é preciso que  se espalhe, brilhe e leve longe seu calor. Tudo também lhe serve de alimento. Não tenhamos medo, portanto, queridos amigos, não olhemos demais à nossa indignidade, que nos freia freqüentemente e nos torna tímidos. A caridade, como a chama, consome e purifica; por ela seremos penetrados, vivificados, por ela seremos transfigurados. Oh! que esse pensamento nos anime e nos console. É a caridade que nos impulsiona e nos pressiona, somos movidos por ela; por ela tão ardente, tão poderosa; por ela, que é força, vontade, amor, amor infinito, amor de Deus!

            Uma vez ali, como descansamos e como confiamos! Que importam nossa fraqueza e nossa pobreza? Amor de meu Deus, vós sois rico e forte por nós dois; ó meu Senhor, fazei que vossa santa vontade seja feita. Nossa alma vos abraça, pois Vós a escolhestes; ela não mais treme, pois vosso coração está junto ao coração dela. Permaneço neste pensamento que me fortifica, me reanima e me conserva, caros amigos, tão estreitamente unido a vocês. Rezo todos os dias por vocês, pelas almas dos pequeninos que vocês estão cultivando, pela santa obra que temos empreendido juntos; e vocês também oram por mim; Deus nos ouve e nos ama assim.

Adeus, caros amigos, escrevam-me logo, ambos, com simplicidade e abandono, e como conversamos juntos nos melhores dias; tendo o Senhor nos dado bem definitivamente uns aos outros, não saberíamos entrar melhor em sua perspectiva a não ser adotando-nos bem ternamente, bem fraternalmente; tenho certeza de que, se tivermos a coragem de nos amarmos e de nos suportarmos uns aos outros com caridade, Deus também nos suportará, nos amará, nos confirmará em nossa missão, quaisquer que sejam as qualidades que nos possam faltar por outro lado. Parece-me, caríssimos amigos, que, de minha parte, chegarei a isso sem dificuldade, procurem fazer também a  metade do caminho!

Se tiverem a oportunidade, apresentem-me à lembrança do nosso ótimo Sr. Beaussier e à de todos os nossos amigos; agradeço ao Sr. Lecoin por sua assistência tão preciosa para mim, assim como ao Sr. Leleu, Mézière e a todos os nossos zelosos cooperadores, tanto no patronato como na Santa Família.

Digam também duas palavras de lembrança ao Louis que, espero, só lhes dá satisfação.

            Seu amigo e irmão em N.S.

                                   Le Prevost




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