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Jean-Léon Le Prevost Cartas IntraText CT - Texto |
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378.1 - ao Sr. padre Timon-DavidO que se faz na obra de Amiens. O Sr. Le Prevost responde às suas objeções. O Regulamento, ainda experimental, corrigirá uma disposição sobre a pobreza segundo as indicações da Providência. Segurança lhe é dada quanto ao funcionamento da obra de Marseille. “Em tudo e acima de tudo a caridade é nossa regra e nossa suprema lei”. O Sr. Le Prevost dá-lhe como exemplo a união com o Sr. Halluin. As imperfeições do Sr. Timon-David não serão obstáculo.
Amiens, 14 de junho de 1856
Caro Senhor padre,
Não tenho sob os olhos sua boa e tão confiante carta, mas se as palavras podem escapar-me, o espírito e os sentimentos dela ficaram em mim. Aproveito, portanto, para responder-lhe, de alguns momentos de liberdade que me deixam, durante a visita que vim fazer à nossa pequena família de Amiens. Ela se compõe neste momento de três membros apenas, os quais dirigem um orfanato no interior e a obra do patronato fora. Conseguem, apesar dessas ocupações imperiosas, determinar ainda uma parte para seus exercícios de comunidade, que são seguidos com bastante regularidade. Encontrei tudo em bom estado: sua casa, que é bastante linda e bem disposta, é perfeitamente mantida; suas crianças bem conduzidas e bem tratadas. Enfim, a própria comunidade está em boas disposições: é piedosa, unida e sinceramente dedicada ao serviço do Senhor. Não é preciso dizer que, para o patronato, sobretudo, que é muito numeroso, eles são bastante ajudados por pessoas de fora, mas ainda assim realizam uma outra obra: encorajar para o bem muita gente que se santifica e adquire méritos pela prática da caridade. Esses pormenores não lhe parecerão sem interesse, pois são concernentes a uma parte da família à qual você se associa, e cujos membros todos o consideram doravante como um irmão.
Paris 17 de junho de 1856 --- Não se faz em Amiens tudo o que se quer. Comecei, sim, esta carta, mas terminá-la não me foi permitido. As corridas, as visitas, as conferências com os Irmãos que devia ver em apenas alguns dias, absorveram todos os meus instantes. Aqui, chego em cima da hora para a Confirmação de nossos órfãos. Monsenhor o Bispo de Angers, que nos concede uma benevolência toda particular, teve a bondade de fazer essa interessante solenidade; amanhã, ele volta aqui para ver e exortar especialmente a comunidade. Assim os dias se seguem, e deixo, por demasiado tempo, sem resposta sua afetuosa epístola.
Começo constatando aqui, desde as primeiras linhas, que doravante nos olhamos como ligados a você e verdadeiramente membros de uma mesma família. Toda a nossa pequena comunidade adotou de todo o coração o Irmão de Marseille, com todas suas queridas crianças e o fará participar de suas orações e suas obras, esperando o mesmo retorno de seu lado. Ela trabalhará sinceramente para consumar efetivamente essa união, procurando sem interrupção os meios de fazer em Marseille uma pequena colônia, que se agrupará ao redor do irmão tão dedicado e tão perseverante, que constitui como que o primeiro assentamento da fundação. Eis aí, portanto, nossos sentimentos e disposições: correspondem aos seus, se não me engano. A coisa me parece, portanto, bem entendida, somos irmãos e andaremos doravante lado a lado no serviço do divino Senhor.
Você me faz hoje, caro Senhor padre, uma única observação no tocante ao nosso regulamento, ou seja, no que diz respeito, para você, à consumação real da pobreza. Lendo-o de novo, encontrará nele muitas outras observações a fazer: ele contém lacunas e imperfeições notáveis, mas respondemos, no seu conjunto, às justas críticas que se podem fazer dele, dando-o por aquilo que é de fato, isto é, um simples levantamento de nosso estado presente, e prometendo realizar sucessivamente os melhoramentos e correções desejáveis, à medida em que a Providência, da qual seguimos, passo a passo, a conduta, nos fornecerá as luzes de que precisamos.
Quanto ao artigo concernente à pobreza, teve que ser enunciado, achamos, de um modo absoluto, porque foi nosso desejo estabelecer-nos no sacrifício generoso e completo de tudo e de nós mesmos. Mas a experiência nos mostra, por nós mesmos e pelas outras Congregações, que a execução pode, em certos casos, ser bastante difícil. Por isso, nosso regulamento autoriza o Superior a admitir condescendências, quando as crê verdadeiramente motivadas. Acho que as circunstâncias em que você está, caro Senhor padre, em relação às suas empresas e aquisições, constituem realmente um caso típico, e que podemos aceitar, quanto ao presente, seu sacrifício tal como você o encara, ou seja, só dispor e só usar de alguma coisa com licença. Aí está com certeza um primeiro grau de pobreza bem notável e bem meritório diante de Deus. Não veríamos, aliás, vantagem alguma em mudar de nome suas posses, já que, não sendo legalmente autorizados, não pudemos, nós mesmos, nos separar do que faz o fundo temporal da Comunidade, a não ser constituindo uma associação em que o capital dos que morrem passa para os que ficam, sobre a cabeça de 3 dos mais firmes (em aparência pelo menos) dentre nós. Mas o conjuro, caro Senhor padre, a consumar bem cordialmente em si mesmo o desapego, para que, interiormente, o princípio seja salvo, mesmo se o efeito continua sendo imperfeito. Parece-me que você poderia considerar, para firmar-se nesse sentido, que, tendo confiança suficiente na Comunidade para abandonar a ela a disposição de suas faculdades e de sua pessoa, poderia muito bem, um dia, se a Providência tornasse sua situação mais desimpedida, ter a mesma confiança no tocante a seus bens temporais. Pois, se você acredita que, andando na presença de Deus, não iríamos dispor nunca temerariamente de você e não iríamos comprometer voluntariamente a obra tão interessante que dirige, pode, por isso mesmo, ficar bem certo de que não lhe tiraríamos também os recursos que servem para a sua manutenção. Aí está uma regra de equidade e de constante prática nas Congregações: que fiquem guardados para cada obra os recursos que serviram à sua criação e à sua manutenção. As diversas instituições dependentes de uma mesma Congregação podem ajudar-se fraternalmente, mas não se absorvem nem se devoram nunca umas às outras. Esse princípio de caridade continuará sendo essencial entre nós, pois, em tudo e acima de tudo, a caridade é nossa regra e nossa suprema lei. Disse essas poucas palavras, caro Senhor padre, para manifestar-lhe, sobre esse ponto, nossos sentimentos e deixar em perfeita paz o seu espírito.
Introduziremos de bom grado na Comunidade a piedosa prática dos 15 sábados e começaremos sua aplicação com você, a partir do próximo sábado, 21 deste mês. É muito bom só considerar como sólido o que a oração sancionou. É consolador também reservar para as grandes ocasiões algum meio poderoso, que faça um apelo mais insistente aos misericordiosos auxílios de Deus. Não será, espero, o único empréstimo feliz que receberemos de sua obra. Teremos talvez, da nossa parte igualmente, algo a retribuir-lhe, para que essas trocas mútuas sejam proveitosas à caridade.
Consumamos, como lhe tinha anunciado de antemão, caro Senhor padre, nossa união com o Sr. padre Halluin, que dirige em Arras um estabelecimento para órfãos, digno do maior interesse. O Sr. Halluin é uma dessas almas generosas que não hesitam também diante dos sacrifícios, e que, como você, não acham que se sirva verdadeiramente a Deus sem se dar todo a ele. O Senhor abençoou seus esforços, sua casa reúne 130 crianças, cuja alma e corpo, sem ele, teriam estado em perigo de se perder. Assim, é bem menos a importância de sua obra que me toca do que o zelo ardente e generoso que o incitou a fundá-la. Se, como espero, alguma circunstância aproximar você dele no futuro, vocês não terão problema para se entenderem, pois a caridade é essa língua maravilhosa que falavam os Apóstolos depois da descida do Santo Espírito. Todas as almas inspiradas a entendem, qualquer que seja seu país, de norte a sul. Das comunicações e trocas benévolas que poderemos realizar entre nós à medida em que nossa união se tornar mais íntima e mais efetiva, espero grandes bens para nossas obras e para nós.
Mas ouço-o, caro Senhor padre, perguntar-me se nos foi possível preparar, para Marseille em particular, alguns meios, para dar-lhe um pouco de ajuda e começar, como você o deseja, seu pequeno lar de comunidade. Espero, daqui a pouco, ter a esse respeito algum projeto mais preciso. Aguardamos a chegada de um novo irmão. O Sr. Halluin, por sua vez, deve enviar ao noviciado, em nossa casa, um de seus jovens. Desses movimentos todos resultará, sem dúvida, algum reforço que nos daria mais facilidades. Em todo caso, é somente uma questão de adiamento. Estamos sinceramente resolvidos a tratar sua obra como nossa. Ela não será sacrificada a nenhuma outra, porque em si e por causa de você, ela se torna para nós verdadeiramente querida.
Desejamos sempre que nada se oponha à visita que você propusera nos fazer, mas sinto que não lhe seria muito possível antes dos trabalhos de sua capela estarem mais perto de seu acabamento. Não creio, aliás, como você, caro Senhor padre, que suas poucas imperfeições impeçam nossos Irmãos de amá-lo e de apegarem-se ternamente a você. Não sei se o laço que nos une já me torna cego a seu respeito, mas acho naquilo que você traz à família que está adotando muito mais coisa boa do que ruim. O bem, eu não o menciono e falo nele somente a Deus para lhe agradecer. O mal, no seu entender, é que, em lugar da dedicação ardente e generosa que me parece ser a alma de sua vida e de sua obra, haveria um tipo de tenacidade natural, que endurece contra o obstáculo e se firma pela dificuldade. Se tal é, com efeito, sua natureza, é felizmente dotada e oferece grandes recursos. Por pouco que a graça a domine e a conduza, atingirá suave e fortemente o fim que o divino Mestre lhe tiver determinado. Mas, havendo força, ainda diz você, não haveria certamente mansidão, já que a impetuosidade dos primeiros movimentos manifesta-se muitas vezes pela aspereza e rudeza das palavras. Não tive que notar esse defeito, que só se revela a mim por sua confissão. Mas São Francisco de Sales nos é testemunha de que se pode corrigi-lo; a vida comum terá, para ajudá-lo nisso, apoios que seu isolamento não lhe fornecia. Além disso, rezaremos juntos e o Deus de mansidão dignar-se-á render-se aos nossos pedidos.
Esta carta ressente-se das cem interrupções que sofreu; se você não encontrar nela, caro Senhor padre, o acento de terna afeição, de cordial simpatia que ansiava colocar, é a isso que é preciso atribui-lo. Mas esses sentimentos mesmos estão bem profundamente em mim como em todos os meus irmãos; a continuação de nossos relacionamentos ser-lhe-á, eu espero, um constante testemunho disso. Queira oferecer minhas respeitosas lembranças ao Sr. Guiol, sinto-me em perfeita união de coração com ele. Acredite também em meu respeito e devotamento sincero em N. S.
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