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Jean-Léon Le Prevost Cartas IntraText CT - Texto |
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385 - ao Sr. de LauristonSuspeitar de toda falsa humildade. Qualidades do Sr. de Lauriston. O pensamento da misericórdia divina é um remédio contra o desânimo. O Sr. Le Prevost lhe estabelece um programa para sua estada em Paris.
Vaugirard, 10 de julho de 1856
Caríssimo Senhor,
Os poucos instantes em Arras já haviam-me colocado numa relação cordial com você, mas sua boa e tão confiante carta completa o entendimento perfeito que nossos primeiros colóquios já tinham começado entre nós.
Não quero tentar destruir os sentimentos humildes que você tem de si mesmo, pois é o primeiro e o mais seguro indício do trabalho interior da graça nas almas. Porém, caro Senhor, parece-me que não devemos desconhecer os dons de Deus, que o reconhecimento nos obriga a isso e que corremos o risco, de outro jeito, de cair no abatimento e deixar sem utilização as faculdades e os meios de que sua graça nos muniu. Ora, não consigo deixar de achar, depois da leitura de sua carta, que você cede demais a algumas tentações de desânimo, que entristece como que sem motivo seu pobre coração pela vista de suas imperfeições e fraquezas; que distorce suas ações, mesmo as melhores, atribuindo-as a inspirações puramente naturais. Enfim, que desvia os olhos de tudo o que há de bom em você, para perscrutar e analisar minuciosamente os pontos defeituosos de seu ser, as poucas misérias de sua vida.
Ouso assegurar-lhe, caro Senhor, embora minha ciência espiritual seja bem pouco profunda, que estaria melhor na verdade e acharia muito mais paz se, humilhando-se diante do Senhor pelas fraquezas ou incapacidades de que pode, como todos os demais homens, censurar-se justamente, você visse, no entanto, com um olhar simples e confiante, aquilo que todos a seu redor enxergam em você: um coração amoroso e devotado, aspirações generosas, uma alma sensível e delicada, um espírito atento e penetrante, um desejo verdadeiro de glorificar a Deus, um zelo sincero pela salvação das almas. Não insisto nesta enumeração, que poderia tornar mais longa, para não ferir demais sua humildade; mas tive que fazê-la ao menos, em suma, para devolver a Deus aquilo que lhe pertence e registrar uma verdade de que você não me parece bastante consciente. Você não foi deserdado neste mundo e o Senhor lhe concedeu uma porção bem maior do que a de muitos outros, e enfim, mesmo se um pouco de imperfeição se tivesse misturado às suas obras de piedade e de caridade, permanecem, no entanto, meritórias diante do Pai de toda bondade e de toda misericórdia. Tenhamos, caro Senhor, uma confiança sem limites nesse divino Mestre, já que seu amor é infinito e, se curvamos a cabeça com a lembrança de nossas misérias, ergamo-la e firmemos nosso coração no pensamento do terno, do generoso e imenso amor de nosso Deus.
Desejo muito, caríssimo Senhor e amigo, que esse sentimento encha sua alma: não duvido então de que você se fixe definitivamente no pensamento de doar-se integralmente a Deus. Talvez, estudando bem suas faculdades e aptidões, achasse que todas as suas penas vieram do fato de que não era feito para andar isolado, de que sua alma afetuosa tinha necessidade de entender-se com outros, de que suas forças teriam sido aumentadas e confirmadas pela sua associação com eles, e de que é a esse fim que o Senhor queria conduzi-lo.
Vamos esperar desde já sua visita. Parta bem depressa, caro Senhor, e esteja seguro de que será acolhido por irmãos e amigos. Não lhe ofereço desculpas pela pobreza de nossa casa; sei que seu coração cristão provou bastante intimamente o espírito do divino Salvador, para não ficar chocado por uma condição que Ele mesmo escolheu. Tenho a confiança de que você irá se achar à vontade no meio de nós. Nem me preocupo também com o emprego de seu tempo. Examinará nossas obras e tomará parte um pouco em nossos trabalhos: desejaria que visse de um pouco perto as casas de patronato, que você conversasse com seus dirigentes. Assim, você poderia melhor, em seguida, mesmo de longe, se o bom Mestre o segurasse mais tarde entre nós, mandar a Arras algumas informações e conselhos verdadeiramente úteis. Enfim, para completar a recuperação de minhas forças, meus irmãos alugaram para mim uma pequena pousada em Chaville. Você virá lá comigo nos dias em que eu puder. Conversaremos bem à vontade nessa solidão, que favorece tão bem os movimentos interiores da graça divina; Deus falará a seu coração, você ouvirá sua voz e fará, filho dócil, tudo o que Ele lhe disser.
Adeus, caríssimo Senhor e amigo; uso esse nome porque tenho os sentimentos correspondentes. Tenho a confiança de que a caridade do divino Salvador aumentará ainda em nós para nos unir nele.
Seu bem afeiçoado amigo e irmão em N.S.
Le Prevost
P.S. --- Temos a adoração das Quarenta Horas em nossa casa de Nazareth, quarta, quinta e sexta-feira. Procure vir para esse momento, para adorar conosco.
Vou escrever hoje ou amanhã ao nosso bom padre Halluin; creio que nos entenderemos bem juntos. Estou atrasado também com os irmãos Loquet e Michel; vou procurar escrever algumas linhas para eles.
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