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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 401 - 500 (1856 - 1857)
    • 412 - ao Sr. Halluin
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412 - ao Sr. Halluin

Desejo de ir em peregrinação a Roma. Orações junto dos monges de Lérins, na ilha de Santo Honorat, para obter a união habitual em Deus. Importância do recreio tomado em comum, para que se abram os corações e se mantenha o espírito de família. Aproveitar a doença para o progresso espiritual. Falecimento de Dona Taillandier.

 

Cannes, 7 de novembro de 1856

 

            Caro Sr. padre e filho em  N.S.,

 

            Você não mais acreditará muito na minha palavra, pois me tinha feito o propósito de ir visitá-lo antes de deixar Vaugirard, se estivesse forçado a afastar-me ainda durante esta estação de inverno. Mas tinha contado sem meu hóspede, quer dizer sem o parecer do médico, que recusou-se a deixar-me experimentar minhas forças ao menos durante um  mês, como estava pedindo-lhe, e que me obrigou a partir de improviso, sem nem me despedir de nossos amigos e benfeitores em Paris. Comprometeu-se em poupar-me de toda nova ausência para o futuro, se eu me mostrasse dócil e me resignasse ainda para este ano a um tão rude sacrifício, enquanto considerava como comprometida a melhora sensível já conseguida, se eu corresse os riscos de uma estação rigorosa e dos cansaços que teria causado à minha frágil saúde. Nossos irmãos insistiram para que seguisse esse parecer. Resignei-me e eis-me, de novo, mais uma vez a 300 léguas de você e de nossos bem-amados irmãos. Nem tive a consolação de escolher o local de meu exílio. Teria desejado ir a Roma, que teria sido ao menos uma causa de edificação e uma piedosa peregrinação. Pensou-se que ali o ar é pouco saudável e convém mais ou menos aos doentes. Estou aqui num lugar que não tem nada notável, a não ser a beleza de sua paisagem e a doçura de seu clima. Percebe-se, porém, a pequena ilha de Santo Honorat, onde estão as ruínas ainda imponentes da célebre abadia de Lérins249. Irei visitá-la, procurarei nessa terra que habitaram outrora tantos santos religiosos alguns vestígios dessa fé profunda, dessa abnegação absoluta que inspiravam  então os servos de Deus. Pedirei-lhes, no mesmo local onde tanto rezaram, para que obtenham para mim e para toda a nossa pequena família um pouco do fervor que animava suas almas, e dessa união a Deus em que temos tanta dificuldade para nos manter. Como seria feliz, caro Senhor padre, se minhas pobres orações pudessem contribuir para um tão precioso resultado! Eu seria bem consolado de minha inação forçada, e acharia ter servido bem nossa querida Comunidade. O que me dá boa esperança para nossa casa de Arras é que o vejo bem cheio dessa convicção de que não faremos nada sem a graça, e que não teremos a graça, senão rezando incessantemente; é que você tem sobretudo interesse em levar a Deus nossos irmãos e nossas crianças; é, numa palavra, que você conta pouco sobre si mesmo e muito sobre o amor do nosso Pai celeste,  que você encarrega Maria, nossa Mãe, de todos os seus interesses, e gosta de deixar-lhe o governo de sua casa. Tudo irá bem enquanto andarmos assim; digne-se o Senhor manter-nos em tão bom caminho.

 

            Suas últimas cartas, caro Senhor padre, não me davam notícias do Sr. Cousin250. Ficarei satisfeito se tiver a bondade de me dizer algumas palavras sobre ele em sua próxima carta. Espero que esteja melhor. Se você tivesse alguma razão em pensar que as ocupações que ele poderia assumir em Vaugirard e a mudança de ar lhe fossem mais favoráveis do que a estada em Arras,  poderia conversar sobre isso com o Sr. Myionnet e combinar com  ele o que se deveria fazer para dar esse alívio ao bom jovem. Se ele tem, como creio, o sincero desejo de consagrar-se ao serviço de Deus, devemos tratá-lo como um irmão e fazer por ele tudo o que pudermos.

 

            Não sei como está nosso caro Sr. de Lauriston; esperava que me escrevesse. Até agora, está silencioso comigo. Continuo rezando por ele, e espero que terá a força de fazer o que Deus me parece pedir.

 

            Esqueci de falar-lhe antes sobre a cerimônia da renovação dos votos, que se faz habitualmente nas comunidades no dia da festa da Apresentação, no dia 21 de novembro, e que está também em nossos usos. Farei chegar-lhe a pequena fórmula e lhe indicarei na minha próxima carta como fazemos, em grande simplicidade, esse ato de piedade.

 

            Desejo muito, caro Senhor, que você deixe intacto seu recreio da noite, em toda a medida do possível. A experiência nos convenceu de que  é bem necessário, para dilatar um pouco os corações, manter a união e o espírito de família entre os irmãos. Insiste-se em todas as comunidades para que esse exercício seja considerado como essencial e não seja mais negligenciado que os próprios exercícios de piedade. Não vejo, às 7 horas, tempo para seu recreio, outro exercício no regulamento fora do jantar e do recreio dos alunos. Parece-me que, revezando-se, algum dos irmãos vigiando-os, os demais poderiam fazer seu descanso em comum. Você fará, tenho certeza, tudo o que puder para conseguir isso. O espírito de sua obra, como o da comunidade, só poderão ganhar.

 

            Peço-lhe insistentemente, caro Senhor padre, assim como aos nossos irmãos, para não se esquecerem de mim nas suas orações. Estou no retiro, é verdade, e mais livre de cuidados detalhados do que de costume. Mas fico privado dos apoios e edificações da vida comum e, para aqueles que estão acostumados a esse apoio, é um grande socorro a menos. Devo, aliás, por isso mesmo que trabalho menos exteriormente, fazer melhor e mais na vida de oração e de união a Deus; é uma coisa grande e que o homem não pode fazer sozinho. Queira, portanto, pedir ao Senhor para que queira me assistir a fim de que eu responda a suas vistas adoráveis.

 

            Sou, caro Senhor padre, com uma terna afeição,

 

            Seu todo dedicado amigo e Pai em Jesus e Maria.

 

 

                                               Le Prevost

 

            P.S. Recomendo insistentemente  à sua querida comunidade uma santa alma que Deus acaba de chamar para Si. Perdemos nela251  nossa amiga mais dedicada e a protetora mais afeiçoada à nossa casa de órfãos. Peço-lhe para se unirem todos a nós; peço-lhe também, caro Senhor padre, para oferecer por ela o Santo Sacrifício.

 





249 Outrora habitada por monges e bispos célebres (Saint Césaire d’Arles, Saint Loup, bispo de Troyes, Saint Vincent de Lérins). Os Cistercienses da abadia de Sénanque se reinstalarão ali em 1869.



250 Cf. cartas 378 e 720. O irmão François Cousin (1833-1859) tinha parado seus estudos em vista do sacerdócio por causa de sua saúde. Dedicava-se no orfanato do Sr. Halluin. Fez seus votos no Instituto no dia 8 de dezembro desse ano 1856. Mas sua saúde ruim piora depressa e morre com 26 anos de idade, no dia 6 de setembro de 1859.



251 A morte da Senhora René Taillandier não foi somente um luto para a pequena família dos Irmãos de São Vicente de Paulo, o mundo da caridade todo inteiro ressentiu essa perda, e as Conferências de Paris consideraram como um dever de gratidão unirem-se para rezar na sua intenção. (VLP, t.1, p.547). Cf. infra cartas 416 e 421 (ao Sr. Decaux).





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