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Jean-Léon Le Prevost Cartas IntraText CT - Texto |
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415 - ao Sr. PailléConselhos ao Superior da casa de Nazareth: “o bem se fará através de você, porque o próprio Senhor o fará em você”. Descrição de Cannes, seus recursos espirituais, a propaganda protestante. Ele está satisfeito ali porque a Providência o mandou para lá. Os dois campanários de Vaugirard e de Grenelle. Predileção pela casa de Nazareth. Sua saúde melhora.
Cannes, 8 de novembro de 1856
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Já dei notícias nossas aos irmãos de Vaugirard; escrevi também aos de Amiens e de Arras; só restam nossos bem-amados filhos de Nazareth que não tenham recebido um testemunho de nossa constante lembrança. Não quero negligenciá-los, pois me são queridos entre os outros. Eis porque, caríssimo amigo, traço-lhe estas poucas linhas, desta região onde, no ano passado, sua caridade me cercou de tantos cuidados afetuosos e tornou meu exílio tão suportável quanto possível. Se precisasse das circunstâncias exteriores para recordar-me todas as marcas de amizade e de dedicação cristã que você me deu, a vista dos lugares, sob muitos aspectos parecidos com as regiões de Hyères, renovaria minhas impressões passadas e as faria reviver; o mar e suas ilhas, pois a cidade de Cannes também tem as suas, as montanhas, as oliveiras, as figueiras, o sol lindo, os verdes perpétuos me devolveriam a lembrança destes passeios quotidianos, em que você falava muito pouco, muitas vezes nada, mas em que sua vigilância e seus cuidados nunca me faziam falta. Aproveito desta ocasião, meu bom amigo, para agradecer-lhe, uma vez mais, e para pedir ao Deus de caridade e de terna dileção que recompense esses atos generosos e bons que Ele mesmo tinha inspirado.
Noto que foi depois dessa prova que o Senhor julgou bom nomeá-lo para a conduta de nossa querida casa de Nazareth. Quando outrora o divino Mestre colocou São Pedro à cabeça de sua Igreja, Ele perguntou-lhe por três vezes: “Pedro, você me ama?” Parece que Ele tenha querido agir assim com você, antes de confiar-lhe uma de suas obras muito queridas na ordem da caridade e da misericórdia. Confiou-me aos seus cuidados, doente, impaciente, muitas vezes pouco reconhecido por sua terna afeição, e, bem seguro, depois de tê-lo provado assim, de que você teria as generosidades e condescendências tão essenciais a todo governo cristão, Ele o encarregou de velar por seus irmãos, de amá-los, de rezar, de trabalhar e de se dedicar por eles. Por isso, caríssimo amigo, estou, desse lado, muito tranqüilo; sei de seus defeitos naturais, de suas insuficiências sob muitos aspectos para arcar com um cargo de conduta e de direção; mas o Senhor pareceu visivelmente tê-lo escolhido. Ele cobrirá todas as suas fraquezas. Suprirá todas as suas impotências, o bem se fará através de você, porque o próprio Senhor o fará em você. Encontre neste pensamento, caro amigo, sua segurança e sua consolação e diga com o apóstolo: Eu só sou fraqueza e miséria, mas posso tudo naquele que me fortalece252.
Você quer, tenho certeza, caro amigo, ter alguns detalhes sobre nossa situação, sobre a região em que estamos, sobre como estamos instalados, sobre as observações que, à primeira vista, poderíamos ter feito e as conjecturas que poderíamos formar. Só teríamos, no conjunto, respostas positivas a fazer a essas diversas perguntas.
Acho Cannes menos amável que Hyères pelo aspecto: os campos me parecem menos vicejantes, menos acessíveis, menos variados em suas paisagens, mas, no entanto, é uma região admirável e muito linda. O clima parece quase sempre ameno, o ar é puro, o sol radiante, o mar é magnífico; o que se pode desejar de melhor? Tudo isso não vale, para mim, nosso recinto de Nossa Senhora da Salete e a vista de nossos dois campanários de Vaugirard e de Grenelle, mas estou satisfeito aqui, porque Deus me enviou a este local, e prefiro Cannes a qualquer outro lugar, porque não o escolhi e porque me foi designado.
Temos um pequeno alojamento, mais ou menos como o de Hyères, um pouco melhor disposto e melhor situado, por um preço mais ou menos igual. Encontramos nele facilmente tudo de que precisamos, as delicadezas mais atenciosas, preparadas pelas recomendações do bom padre Taillandier, aplainaram para nós todas as dificuldades da inexperiência das pessoas e dos lugares; Deus nos queria aqui, Ele fez aqui nosso espaço, que sua bondade misericordiosa seja mil vezes bendita por isso. Temos também espiritualmente, e é isso que deveria ter-lhe dito em primeiro lugar, todas as comodidades possíveis. Não temos aqui a admirável igreja de Hyères, os homens eminentes que ali encontramos no clero; mas o pároco e seus três vigários parecem ser homens de espírito sólido, piedosos e dedicados. A igreja elevada, infelizmente empoleirada muito longe, é ampla e celebra-se bem nela. Temos, além disso, na cidade baixa, duas capelas onde se diz a missa todos os dias, e em uma das quais se conserva o Santíssimo Sacramento. Como estou menos indisposto que no ano passado, posso gozar melhor dessas vantagens e espero refazer por aqui minhas forças espirituais, se o Senhor dignar-se de me atrair um pouco a Si; sinto também o sincero desejo disso. Esta região é muito atormentada pelo protestantismo. Os Ingleses, atraídos pela beleza do clima e das paisagens, abundam aqui e possuem todos os castelos e as casas de recreio. Vários entre eles são ardentes em proselitismo, construíram três templos ou capelas e chamam para lá pregadores famosos entre eles; eles têm mulheres pagas para atrair os pobres e os camponeses: vão a todo lugar onde há penúria e sofrimento e fazem incríveis sacrifícios para comprar almas por ouro. Até agora, seus sucessos decisivos são imperceptíveis, mas todos esses artifícios abalam a fé em muitas famílias, lançam a dúvida e a suspeita e preparam ou abandonos ou uma indiferença quase tão funesta.
Há pouca resistência entre os católicos, o fervor é quase nulo nos homens. Algumas mulheres, como em todo lugar, são mais empenhadas e defendem o terreno da melhor maneira possível. Uma Conferência de São Vicente de Paulo poderia, acho, concentrar e firmar os poucos homens de boa vontade. Não sei se poderemos estabelecê-la. Como nada se faz sem orações, na ordem espiritual sobretudo, peço insistentemente as de sua pequena comunidade, as de meu bom padre Hello, sobretudo, que a oblação da Vítima santa torna mais poderoso do que nós.
Escreverei sucessivamente a todos os meus bem-amados filhos de sua casa, que me é tão particularmente cara, já que me recorda as obras às quais dei mais afeição: a Santa Família, os pobres idosos e nossos meninos aprendizes. Faça com que nossos bons idosos se lembrem de mim e recomende-me às suas orações. Vi-os pouco durante minha estada em Vaugirard: devia guardar minha posição de doente e poupar minhas forças, mas se ainda agradar a Deus que o sirva, voltarei entre eles e procurarei mostrar-lhes que os amo sempre.
Mil ternas afeições aos nossos excelentes amigos, Sr. Decaux, a quem escreverei logo e que conhece bem minha cordial dedicação por ele; mil boas lembranças também a todos os outros, aos membros sobretudo da Comissão de Nazareth, que se mostram tão benevolentes e caridosos por nós; encarregue, por favor, o bom Sr. Leblanc de meus respeitos para nosso R.P. Milleriot e de meus sentimentos de afeição pela Santa Família; estou tranqüilo, sabendo que ela está nas mãos do bom Padre e de nosso amigo, o Sr. Leblanc.
Dou-me conta de que nada lhe disse sobre minha saúde. Não é pior do que na minha partida; o tempo, que é aqui admirável, contribui para mantê-la; o ar do mar, embora menos vivo, acho, que em Hyères, irrita-me sempre o peito, tusso um pouco de manhã ao levantar, mas acho que esse mal-estar desaparecerá depois que estiver bem aclimatado. Nosso jovem irmão, Ernest Vasseur, vai bem e se mostra muito atencioso por mim, me dá todas as assistências possíveis; ele não tem nostalgia; seu tempo é pautado, quase como em Vaugirard, entre o trabalho e os exercícios de piedade, que faz muito fielmente. À noite, faço-lhe um pouco de instrução, espero que se manterá bem. Quis, por esses detalhes bem minuciosos, tranqüilizar sua preocupação, que sei cheia de ternura cristã por mim; diga-os aos afeiçoados irmãos que o cercam e que são mil vezes bondosos demais para minha indignidade; os pago amando-os e rezando ardentemente por eles. Digne-se o Senhor abençoá-los e ajudá-los em seus trabalhos. Abrace-os por mim: meu bom padre Hello, meu filho Manrice [Maignen], meu corpulento Émile [Beauvais] e meu pequeno Jean-Marie [Tourniquet].
Adeus ainda, caro bom amigo; acredite no profundo devotamento em J. e M. de seu afeiçoado amigo e Pai Le Prevost
Vou escrever ao nosso bom padre Beaussier; espero que ele vá melhor. Conto muito com seus cuidados para amparar espiritualmente nossa cara família.
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252 Cf. Fl 4,13. |
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