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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 401 - 500 (1856 - 1857)
    • 417 - ao Sr. de Lauriston
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417 - ao Sr. de Lauriston

Empenho do Sr. Le Prevost pela vocação do Sr. de Lauriston. A vida comum desenvolve as aptidões de cada um. “A primeira obra e a tarefa essencial entre nós é amar a Deus e glorificá-lo em seu interior”. Sem cessar, doar-se novamente, doar-se mais plenamente, sem nunca recobrar o dom de si, tal é a alegria do dom total.

 

Cannes, 12 de novembro de 1856

 

            Caríssimo Senhor e irmão em N.S.,

 

            Sua boa epístola me veio encontrar no Sul, para onde me mandaram pela segunda e, espero, última vez. Lamentava não ter tido há muito tempo já, diretamente, notícias suas; mas sabia, por nossos irmãos de Arras, que você ia bem e que seu coração estava sempre em união conosco. Estava, portanto, em paz e esperava a hora do Senhor, bem assegurado de que não poderia demorar muito para chegar. Com uma alegria muito grande, caro Senhor, li os pormenores tão tocantes que  me dá sobre seus movimentos interiores e sobre a ação, tão visível em você, da graça e das misericordiosas bondades do Senhor. Ele o tinha atraído a Si desde sua tenra idade, mas, por razões que sua sabedoria divina conhece, Ele limitara-se então a chamá-lo e a marcá-lo com o selo de sua eleição, reservando-se para retomá-lo mais tarde para o seu serviço. Estava nos seus desígnios, talvez, que a experiência dos homens e das coisas amadurecesse suas faculdades, firmasse sua vontade. Ele queria também, sem dúvida, por uma longa espera, fazer-lhe melhor apreciar o imenso favor da vocação religiosa. Você terá correspondido, tenho convicção disso, aos seus desígnios.

 

            Hoje, com efeito, bem assegurado da vaidade das coisas do mundo, bem certo de que a paz e o descanso de nosso coração estão em Deus unicamente, é numa escolha plena e sem hesitar que você abraça a melhor parte, não querendo mais outro bem nem outra herança. Digo “sem  hesitar”, pois não me preocupo com esses poucos momentos de volta da fraqueza humana que, só vendo sua impotência, entra em  dúvida e sente a água ceder sob seus pés. É Deus ainda que permite esta pequena provação, mas para estender-lhe amorosamente sua mão, dizendo: Homem de pouca fé, por que duvidou?254 Oh! Sim, caro Senhor, você está presentemente num momento muito precioso,  pois a graça o conduz, o apelo interior o impulsiona, e a palavra do Esposo bem-amado o encoraja e o atrai: Audi, filia,  et vide et inclina aurem tuam, et obliviscere populum tuum et domum patris tui; et concupiscet Rex decorum tuum, quoniam ipse est Dominus Deus tuus255. Que terno apelo e como é suave ouvi-lo no fundo do seu coração! Como, logo, você dirá a este bom Mestre, caro Senhor: “Como foi muito tarde, ó meu Deus, que eu Vos conheci; como foi muito tarde que Vos amei e me dei a Vós!”256

 

            Por isso, acho que você não deverá temporizar por sua culpa. Quando seu bom e sábio diretor, iluminado pelo bom Deus, tiver dado o consentimento definitivo, que sua resposta tão benevolente nos faz pressentir, você deverá, parece-me, pôr corajosamente a mão à obra e tudo preparar para cumprir os desígnios de Deus a seu respeito. Não assinalo o que me diz sobre esse medo, que a natureza lhe sugere às vezes, de não convir às obras, ou de não perseverar na sua vocação. Você convirá às obras num ambiente todo favorável para sustentá-lo e fortalecer todas as suas faculdades, já que você já convinha a elas, apesar de seu isolamento e das condições desvantajosas em que se acha. Aliás, de modo geral, é bem aceito em comunidade todo homem simples e de reta vontade, que se dá francamente e do fundo do coração; e, com vinte vezes menos faculdades e talentos do que esses que você recebeu de Deus, tira-se ainda grande proveito dessa pessoa, porque a vida comum, colocando cada um em pleno desenvolvimento de todos os seus meios, duplica, ou melhor, centuplica sua potência de ação.

 

            Enfim, a primeira obra e a essencial tarefa entre nós é amar a Deus e glorificá-Lo em seu interior. Você não estará, neste aspecto, desprovido de recursos, pois tem um coração amoroso, inclinado à piedade e que se compraz em todos os exercícios da religião. E isso é resposta também a seus medos, quanto à sua perseverança. Para dizer a verdade, abraçando definitivamente o serviço de Deus, você apenas fará o que já vem fazendo hoje, não mudará sua condição, apenas a simplificará e a tornará mais regular, desembaraçando-a de todo obstáculo; você a tornará mais santa, acrescentando-lhe o mérito da oferta absoluta e da consagração de todo seu ser a Deus.

 

            Não é um grande atrativo, com efeito, para uma alma generosa e terna, doar-se sem medida? E a quem entregar-se assim todo inteiro, senão Àquele que é todo amor, toda bondade, toda santidade, toda perfeição? É uma coisa tão agradável perder-se assim no amor infinito que, depois de se ter dado, se quer doar-se de novo, sem nunca recobrar o dom de si, mas doando-se mais plenamente. É para satisfazer essa necessidade que, todos os anos, na festa da Apresentação, fazemos a renovação de nossos votos, revigorando-nos assim na felicidade de nossa primeira consagração.

 

            Não tome, caríssimo Senhor, todo o conteúdo desta carta como uma exortação ou uma incitação de que eu acharia que você poderia precisar; é uma simples efusão de minhas convicções e meus sentimentos a seu respeito, é uma segurança que lhe dou porque eu mesmo a hauri ao conversar com você, ao estudar os caminhos do Senhor para você. É enfim um grito do meu coração que diz: Felizes os que Deus chama; já que ouve sua voz, não hesite a responder: eis-me aqui.

 

            Tinha esperado que minha saída para o Sul não acontecesse, ou pelo menos fosse adiada o bastante, para que estivesse em Vaugirard, para  recebê-lo na sua chegada, mas será sem dúvida diferentemente. Nossos irmãos o acolherão no meu lugar e, mais tarde, será você mesmo que me receberá na minha volta. Até lá, mantenhamo-nos bem unidos no Coração do divino Senhor; é um meio suave de consolar-se da separação exterior e de aguardar em paz o momento em que se poderá reencontrar-se, trabalhar e rezar juntos.

 

            Adeus,  caríssimo Senhor e irmão em N.S.; nossos irmãos rezam por você fielmente em Vaugirard, o padre Louis257, em particular, se empenha nisso. O encarreguei disso, você pode contar com sua exatidão, e nós aqui, em nosso exílio, pensamos constantemente em você. Assegure nosso caro Sr. Halluin e todos os nossos irmãos de minha terna afeição.

 

            Abraço-o com eles bem cordialmente.

 

            Seu amigo e irmão em Jesus e Maria

 

                                               Le Prevost

 

            P.S. Você terá sido informado da morte da santa mãe de nosso bom padre Taillandier; recomendo-a às suas orações.

 





254 Mt 8,26.



255 Sl 44,11-12 “Escute, filha, veja e incline seu ouvido, esqueça seu povo e a casa paterna; o Rei vai se encantar com sua beleza. Ele é seu Deus”.



256 Cf. supra, carta 400.



257 O irmão Louis Boursier (1809-1876). Tendo entrado em Comunidade no dia 15 de abril de 1853, permanecerá mais de vinte anos ao serviço das crianças do Orfanato de Vaugirard. Deixa a seus irmãos uma reputação de santidade. Sua união a Deus e sua oração eram contínuas, a ponto das pessoas recorrerem muitas vezes a ele para obter uma graça. “Ajamos da melhor forma possível, com humildade, e o Senhor fará o resto” (Carta 1416)





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