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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 401 - 500 (1856 - 1857)
    • 455 - ao Sr. de Lauriston
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455 - ao Sr. de Lauriston

Missão de ir novamente reconfortar o mesmo irmão. Exortação a romper as últimas amarras. Jogar-se de uma vez para sempre “nos braços de Deus”. O Sr. Le Prevost deixou Cannes para Grasse.

 

Grasse, 1o de março de 1857

 

            Caríssimo Senhor e filho em N.S.,

 

            Agradeço-lhe suas boas e caridosas intervenções junto ao irmão Jules; sentiu-lhes os bons efeitos desde o início; mas não parece que o demônio  que o tenta tenha, no entanto, totalmente desistido de seu intento. O irmão Jules acaba de escrever-me de novo que sente uma grande saudade e um tal desgosto de suas ocupações, que está decidido a procurar uma posição ou trabalho no mundo, se não se julgar possível chamá-lo para Vaugirard.

 

            Não posso, à distância, e pelos poucos detalhes que me dá esse pobre menino, julgar bem acerca de suas disposições. É uma tentação, é um sinal da insuficiência de sua dedicação e, consequentemente, de sua vocação? Não posso bem me dar conta disso. Parecer-me-ia, portanto, totalmente útil que o pequeno irmão Jules se abrisse em toda simplicidade ao nosso bom padre Halluin, que examinará seu estado e fará  tudo o que for melhor.

 

            Seja bastante bondoso, caro Senhor, para ver de novo nosso jovem amigo e para decidi-lo a tomar o quanto antes essa decisão. Ele não está longe dela, pois pareceu-me, em  sua carta, sentir, ele mesmo, sua necessidade, mas, se ele precisar, para tanto, de um pouco de impulso e de encorajamento, sua caridade saberá inspirar-lhe firmeza e resolução definitiva. Não peço desculpa por dar-lhe tanto trabalho. Toda obra de caridade lhe convém e, aliás, nessa família cristã que seu coração já adotou, todos os membros, mesmo os menores, têm direito a suas simpatias e condescendências. Você também está demais a par do preço de uma vocação para não estar convencido, como nós, de que se deve tudo fazer para sustentá-la, protegê-la e conduzi-la aos objetivos que o Senhor dignou-se determinar-lhe. No caso, pode ser que esse pobre jovem Jules, sem ter trabalho exagerado talvez, tenha uma responsabilidade grande demais e preocupações excessivas para sua idade e sua firmeza de espírito. Acontece-nos muitas vezes, nas nossas obras, ceder às necessidades do momento e atender aos serviços, sem pensar bastante nas forças e capacidades das pessoas que colocamos nelas. Nosso bom padre Halluin, sobretudo, neste inverno, deve ter-se encontrado mais de uma vez nessa necessidade; creio, portanto, que é o caso de prestar toda a atenção ao sofrimento do jovem irmão e de dar-lhe os auxílios que seu estado pode  reclamar.

 

            Sua querida carta foi para mim, por outro lado, bem agradável, porque encontrei novamente nela, com lutas e tribulações quase inevitáveis para você, suas boas disposições e uma resolução cada vez mais firme de obedecer à ordem de Deus. Digo de propósito “a ordem”, porque parece claro que,  no seu caso, não se trata de simples convite e apelo, mas intimação precisa e disposições decisivas da parte do Soberano Mestre. Procure, caríssimo Senhor, ceder de bom grado e acrescentar ao mérito de seu sacrifício pelo pleno consentimento de seu coração. Mas, sobretudo, caríssimo Senhor, exclua toda desconfiança. Parece-me que este é o lado pelo qual  está mais visivelmente tentado; você não conta bastante com Deus, olha demais sua miséria, não o bastante as misericórdias admiráveis de Deus, suas condescendências infinitas, suas ternuras sem medida; daí suas penas, suas inquietações e suas dúvidas. Oh! jogue-se de uma vez para sempre nos seus braços, como o nadador que se joga no meio da água e que se sente suavemente sustentado pelas ondas. Assim a graça do divino Senhor o sustentará e o preservará de todo perigo. Não é para você que Santa Teresa escreveu estas palavras: “Se tivesse a oportunidade de dar um conselho a alguém, eu não seria de opinião de que, quando Deus nos impulsiona a fazer alguma boa obra e que o faz repetidas vezes, deixássemos de empreendê-la por medo de não conseguirmos fazê-la; pois, se for empreendida por seu amor, Ele é todo-poderoso para ajudar-nos a executá-la. Que Ele seja bendito para sempre. Assim seja!” Portanto, caro Senhor, desconfie de si mesmo, mas acredite na palavra dos santos, confie-se ao Deus bom, terno e misericordioso.

 

Peço-lhe bem insistentemente para precisar suas possibilidades para sua vinda a Vaugirard. Devemos ter nosso retiro logo depois da Páscoa. Acho que o bom Deus o quer naquele momento no meio de nós, totalmente livre, sem que nada fique para trás,  para preocupá-lo e chamá-lo ainda para fora. Peço-lhe, então, em nome do Senhor, caro Senhor, corte com um pouco de coragem alguns mínimos obstáculos de detalhe, que não devem ser levados em conta numa situação tão grave, e responda dignamente à graça insigne que você recebeu. Eu mesmo estarei de volta nessa ocasião. Ficaria bem feliz se estivéssemos reunidos para esse retiro, que seria como que a preparação de sua nova carreira. Faça com que, caríssimo Senhor, conjuro-o, todos os seus negócios sejam bem completamente resolvidos para esse momento.

 

            Minha saúde, de que você tem a bondade de me pedir notícias, continua razoável; não foi tão comprometida como o tinha pensado um momento. O clima de Cannes, tendo-se mostrado pouco favorável para minha constituição, sofri, durante todo o inverno, mil mal-estares sucessivos, que tinham-me levado a acreditar num agravamento em meu estado, mas essas indisposições eram nervosas, sobretudo, e não atingiam minha constituição, que continua frágil, mas sem aumento do mal. Nunca cessei de sair todos os dias, não tenho tosse, nem cansaços maiores do peito; em uma palavra, não estou muito firme, mas ainda posso trabalhar um pouco nas obras que o Senhor dignou-se nos confiar. Estou há alguns dias em Grasse, cujo ar me convém melhor que o de Cannes, sem dúvida por causa da distância do mar que não mais está, como em Cannes, sob minhas janelas. Teria, sem dúvida, evitado muitos mal-estares, vindo logo de início para cá, mas o Senhor, cujas vistas são todas sábias, havia determinado as coisas de outra forma. Voltarei a Cannes no começo de abril para preparar minha volta a Vaugirard.

            Adeus, caríssimo Senhor e filho em N.S.

 

Eis a Quaresma, eis também o mês de São José, dupla causa de esperança, duplo motivo para redobrar nossas orações e para esperar delas preciosos resultados.

 

            Todo seu bem afetuosamente em Jesus e Maria

 

                                               Le Prevost

 

 




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