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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 26 - ao Sr. Levassor
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26 - ao Sr. Levassor

A Sra. Levassor se opõe ao projeto de associação. A educação de que precisariam esses jovens. Lugar das instituições privadas após a Revolução. Convicções cristãs do Sr. Le Prevost.

 

Paris, em 3 de setembro de 1834

            As mágoas  que você experimenta, meu caríssimo amigo, tocar-me-iam  vivamente, mesmo se não me atingissem tão pessoalmente em algum ponto. Minha terna e sincera amizade por você seria  suficiente o bastante para fazer-me participar delas.Sua carta, portanto, afligiu-me e escrevo-lhe sem demora para que essa mágoa, bem colocada em comum, se alivie, se é possível, para um e outro. Fora disso, quanto à questão fundamental do assunto, tenho-o, de antemão, tão completamente abandonado à vontade de Deus, que qualquer que seja a solução que acontecer, saberei, espero, resignar-me. Deveria talvez, meu caro amigo, limitar-me a esses protestos de simpatias e de vontade igual à sua. Aconselhá-lo na situação grave na qual  se encontra parecer-me-ia ao menos ousado e pouco prudente. Limitar-me-ei, portanto, a examinar com você o obstáculo que encontra hoje nosso projeto e os meios que poderiam existir, cristãmente, de ultrapassá-lo.

 

            A extrema repugnância que manifesta a Senhora sua mãe pelo tipo de estabelecimento que nos propomos a empreender parece-me vir do fato de ela não ter uma idéia bastante precisa da natureza desse estabelecimento, dos deveres que impõe, da situação que confere na sociedade, nem, antes de tudo, dos meios e facilidades que oferece Paris para a direção de um tal empreendimento. Não duvido que, suficientemente esclarecida sobre esses diversos pontos, a Senhora sua mãe não o visse, com toda segurança e mesmo com alegria, seguir o caminho que parecia abrir-se tão naturalmente diante de nós. Ela objeta a responsabilidade, mas essa responsabilidade é bem menor que a dos professores, já que não se trata aqui de crianças, mas de moços já tendo força e razão quase suficiente para se dirigirem. O chefe de estabelecimento entre nós não é pai, é amigo,  irmão, já não prescreve mais, mas aconselha. Um conselho não dá responsabilidade, ou ao menos é um cargo somente para a consciência. Há, portanto, aqui pouca coisa a desembaraçar com os homens; é com Deus que se trata e a conta é mais fácil. Um jovem colocado sob nossos olhos, apesar de nossos avisos, sai do rumo e extravia-se, mas sua família é avisada por nós e assume a partir daí  toda responsabilidade, se houver. Não prometemos conservar os jovens constantemente sob nossos olhos, detidos e vigiados; prometemos segui-los com o olhar, enquanto for possível, informar suas famílias a respeito do rumo que estão tomando, de sua assiduidade e de seu progresso no estudo, prometemos afeição e conselho; feito isso (e o faríamos) nossa tarefa está cumprida, nenhuma responsabilidade sobra para nós. Quanto à doença, não iríamos recuar, nem você nem eu, diante do dever de cuidar de um ser que sofre, de assisti-lo, encorajá-lo na hora da morte.

 

     A direção de uma grande casa apavora a Senhora sua mãe. É porque ignora talvez que imensa diferença oferece Paris, a esse respeito, sobre o interior. No interior é preciso ver tudo, tudo indicar, tudo acompanhar, tudo fazer até, se precisar, pôr a mão em tudo. Aqui, nada é igual, os criados são preparados de outra forma, as facilidades para as produções e objetos de consumo são multiplicadas, de tal sorte que tudo funciona, tudo anda, senão sozinho, ao menos com um simples impulso, uma simples vigilância e direção. Assim, um eclesiástico aqui, como o padre Dufour, por estado, por gosto, estranho a todo cuidado de caseiro, assegura sem dificuldade, sem muito tempo nem cuidados, a manutenção de uma casa que assustaria a 4 das melhores donas de casa do interior. Mas, eu sei, tudo isso se persuade dificilmente, é preciso verificá-lo, é preciso tê-lo visto muito tempo e em cem lugares e em cem posições diferentes para acreditá-lo, para não mais duvidar. É também, você sabe, uma inquietude de bem pouco fundamento, a de ficar destacado, designado como carlista e Jesuíta. Quem ocupa aqui  Instituições privadas? Entre as pessoas interessadas, mal é conhecida a eminente e tão religiosa casa do Sr. Poiloup58; eu, que desde sempre acompanhei as coisas no campo da instrução, faz apenas três meses que sei de sua existência. Quem, sob a Restauração, foi mais metido nas coisas de partido, foi mais destacado do que o Sr. Bailly, diretor dos Bons Estudos, alma das Congregações? Ora, o Sr. Bailly foi inquietado após a Revolução? E nós, estranhos a tudo isso, fazendo o bem segundo as nossas forças, em algum humilde recanto, seríamos assinalados, atormentados? Não poderia acreditá-lo; e, para dizer a verdade, em todo o caso, não veria nisso para homens, para cristãos, de jeito nenhum, uma razão de recuar diante de uma resolução boa e tomada diante de Deus. Não insistirei sobre as mil razões que poderia acrescentar, seriam supérfluas, pois você e eu já tínhamos encarado de perto tudo isso, tínhamos visto, tínhamos conversado com homens encarregados de tais estabelecimentos, que não pareciam nem acabrunhados, nem apavorados pela responsabilidade, pela má sorte, pelos temores de desconfiança. Por isso, a verdadeira dificuldade não está em nós, não somos nós que é preciso convencer, mas, sim, a Senhora sua mãe, e, confesso, convencê-la  parece-me difícil, porque o espírito pega pouca luz de cada vez, e aqui, em todos esses pontos, precisaria montanhas, rios de luz. Que Dona Levassor relaxasse um pouco, se poderia esperar, mas que cedesse absolutamente, pelo que se antevê, não se pode contar com isso. Quanto à decisão a tomar definitivamente, acho como você, meu amigo, que deve-se orar muito, não melindrar sua mãe, esclarecê-la pouco a pouco, se possível, senão, abandonar absolutamente este assunto. A Sra. Levassor, você me disse, é muito piedosa, os eclesiásticos que têm acesso a ela e em quem ela confia não poderiam aconselhá-la utilmente, reduzir a seu justo valor a seus olhos  as objeções que opõe, livrar enfim sua resistência de toda exaltação, tirar dessa resistência toda intervenção das causas secundárias,  estranhas à razão pura, à ternura cristã e esclarecida de uma mãe pelo seu filho? Espero nesses meios, espero em Deus sobretudo; peçamos a ele e contemos com sua graça. Veja o Sr. Lecomte59 ou seu confesssor, o consentimento de seu pai, com calma e de modo racionalmente dado, me parece de um grande peso.

 

                        Adeus, seu amigo devotado.

 

                                               Léon Le Prevost

 

            Encontrei o Sr. Gardet; ele conta sempre com o jovem. Vamos mais ou menos bem na rua dos Grès.

 

 





58 O padre Poiloup dirigia uma instituição religiosa que se instalou em Vaugirard em 1830. O estabelecimento, retomada pelos Jesuítas em 1852, se tornará o famoso colégio de Vaugirard, onde o Pe. Olivaint, futuro mártir da Comuna com o Pe. Planchat, foi professor e superior de 1857 a 1865.



59 Diretor espiritual do Sr. Levassor.





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