973 - ao Sr. Decaux 364
Com
cortesia mas firmemente, o Sr. Le Prevost expõe os princípios necessários para
salvaguardar a autoridade do irmão Diretor sobre as crianças que lhe são
confiadas. Essa autoridade não poderia ser contrariada por outras medidas em
sentido contrário, que tomariam os Confrades. Tais condições estão sendo
aplicadas desde as fundações. O Sr. Le Prevost procura somente na verdade a
união cordial entre as duas Sociedades.
Vaugirard,
[6] de dezembro de 1864
Meu
bom amigo,
Você
manifestou o desejo de saber mais precisamente qual era o objetivo da visita
que projetara fazer-lhe e que você achou dever adiar. Não tinha outro
pensamento que não fosse apresentar-lhe de novo os embaraços sérios que nos
causariam as mudanças que você projeta fazer na condição dos irmãos que dirigem
os patronatos. Na falta dessa entrevista, e para prevenir mal-entendidos
lamentáveis, escrevo-lhe, com a idéia de uma cordial explicação. Como lhe escrevi
há algum tempo, desejo deixar intactas a influência e a ação da Sociedade de
São Vicente de Paulo nos patronatos, mas parece-me que as disposições da
situação atual proveram isso suficientemente: o Conselho Geral de todas as
casas que você preside mensalmente, o Conselho particular de cada casa que
realiza também, todos os meses, o Presidente de cada patronato, a cooperação
zelosa dos Confrades, enfim, os subsídios que você dá à obra formam com certeza
um conjunto de intervenções bem notáveis; visto que o Presidente de cada casa,
atraindo-lhe os apoios e as marcas de benevolência, ajudando o Diretor por seus
pareceres e suas observações, mantendo você mesmo a par de todos os movimentos
da obra e de tudo o que a interessa, a religa constantemente a você e a mantém
verdadeiramente em suas mãos. Posto isso, do lado da Sociedade, a parte do
Diretor, cuja tarefa, você sabe, não é sem dificuldade, havia também de ser
determinada. Parece-me absolutamente necessário que, para conduzir e manter em
disciplina reuniões de 250 ou 300 crianças aprendizes, durante dias inteiros e
em todas as circunstâncias, o Diretor tenha uma autoridade firme e bem
alicerçada, que nunca seja diminuída aos olhos das crianças, nem contrariada
pelas medidas que tomaria em sentido diverso uma outra direção. Vi, há muitos
anos, que prodigiosa energia, que gasto de forças é preciso fazer para
assegurar a manutenção da ordem durante esses longos dias do domingo, e me
convenci de que, acrescentando algumas dificuldades a mais a essa tarefa tão rude,
esta tornar-se-ia intolerável. Parece-me, portanto, indispensável que somente o
Diretor se entenda no domingo com aqueles que o auxiliam nas ocupações e
serviços do dia, e que lhe seja permitido também ter com eles, durante a
semana, um pequeno Conselho para concertar de antemão os meios de execução.
Trata-se de simples detalhes de ação cotidiana nos quais o Presidente não tem
que intervir. Pertence ao Diretor, encarregado da direção das crianças e do
andamento dos exercícios, determinar por si mesmo sua operação. Senão, falta o
dinamismo suficiente, falta a unidade e a coerência nos movimentos, falta a
ordem e o bem real no dia do domingo. Enfim, acho que se deve, como sempre foi
feito, deixar ao Diretor a faculdade de expulsar as crianças indisciplinadas ou
que prejudicam o bem dos outros. Pode ser vantajoso que essa expulsão seja
considerada como provisória e que se tenha de examinar sua utilidade no pequeno
Conselho semanal: nisso reside uma garantia contra a irreflexão de um primeiro
movimento. Mas se, após exame e observação, o Diretor acha definitivamente que
a expulsão é necessária, ele não poderia ser obrigado a manter um sujeito que
desafia sua autoridade ou que ele sabe ser perigoso para os outros. Se
perguntam onde reside assim a autoridade, respondo: em você mesmo, para a alta
direção do conjunto dos patronatos; no Presidente de cada casa, para as
disposições gerais concernentes ao espírito, às regras e aos interesses dessa
casa; e, enfim, no Diretor para a direção das crianças, o andamento dos
exercícios, e todas as medidas de execução, seja dentro, seja fora. Para o
espiritual, o domínio exclusivo pertence de direito ao capelão.
Essas
condições, em sua substância principal, me parecem tão essenciais, meu bom
amigo, que me seria absolutamente impossível aceitar outras, ao menos para as
casas de Nazareth e de Notre-Dame de Grace, que foram suscitadas e formadas por
nossa Comunidade e constantemente dirigidas por ela. Mantemos ali vários padres
e vários irmãos antigos e experimentados. Necessitam de um pouco de iniciativa
e de liberdade de ação para manterem o bem que se faz ali, felizmente. Essas
disposições, de resto, não são, de modo nenhum, contrárias às tradições que
você está justamente cioso de conservar. Nazareth teve só dois Diretores: o Sr.
Myionnet, que lançou as primeiras bases de uma obra séria, e o Sr. Maignen, que
lhe deu a forma definitiva. Notre-Dame de Grace foi igualmente criada por este
último e confiada em seguida a nossos irmãos, que a dirigem atualmente. Mas, em
todo esse período, que dura mais de 15 anos, os Diretores guardaram
constantemente o direito de fazer, eles próprios, com todos aqueles que
cooperam habitualmente na obra, um pequeno Conselho semanal para preparar o dia
do domingo. Tiveram também o privilégio de presidir seus exercícios, de dar os
avisos habituais às crianças, e, enfim, tiveram a faculdade de excluir os
sujeitos que já não tinham esperança de corrigir. Você está vendo, meu
caro amigo, se surgisse, o que Deus não permita, algum triste dissentimento entre
nós sobre esses pontos, não se poderia imputá-los a nós, já que nos limitamos
em pedir a manutenção das condições em que sempre fomos colocados.
Quanto
às demais casas (fora de Nazareth e de Notre-Dame de Grace), Sainte Anne, por
exemplo, ou outras, onde gostariam de nos chamar, eu não me recuso, no
interesse da paz, em experimentar, se quiser, o regime que propõe e que daria
um espaço ainda mais amplo à ação do Presidente. Por aí se julgaria, na
condição diferente em que estão essas casas em relação a nós, se a obra se
organizaria convenientemente e segundo os desejos de ambas as partes.
Escrevendo
estas linhas, não quis, como você fala, meu bom amigo, persegui-lo por minhas
queixas, mas manifestar-lhe uma vez mais quanto uma cordial união entre nossas
duas Sociedades me parece desejável, diria necessária, para tirar de nossos
trabalhos resultados verdadeiramente louváveis, verdadeiramente úteis para
nossa edificação, para o bem dos membros de nossos patronatos e, acima de tudo,
para a glória de Deus.
Peço-Lhe
para inspirar a você, assim como a nossos Confrades, o espírito de
conciliação, sem o qual não chegaremos a esse fim.
Sou,
como sempre, com um afetuoso devotamento em N.S.
Seu
amigo e Confrade
Le Prevost
P.S.
Não repito aqui o que já lhe disse numa precedente carta, sobre a cooperação
dos Confrades no patronato. Somos convencidos, como você, de que um dos pontos
essenciais da obra é atraí-los e interessá-los a ela. Não basta que seja útil aos
aprendizes, ela deve também dar aos Confrades a ocasião de exercer a caridade.
Sempre se tendeu a isso em Nazareth, onde muitos dos melhores membros da
Sociedade pegaram o gosto por essa obra e prestaram, depois, grandes serviços
em outras casas. Se, em Grenelle, fomos menos felizes nestes últimos tempos, é
contra a nossa vontade: o Sr. Pároco afastou violentamente a Conferência do
patronato. Ficaremos felizes quando tiverem reaproximado uma do outro e quando
a ajuda dos Confrades voltar a ser freqüente e constante.