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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1001 - 1100 (1865 - 1866)
    • 1015 - ao Sr. de Varax
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1015 - ao Sr. de Varax

Impressões do peregrino da Salete. Lugar que a Virgem Maria tem na vida espiritual do Sr. Le Prevost. Breves notícias da Comunidade.

 

Allevard, 10 de agosto de 1865

 

Caríssimo amigo e filho em N.S.,

 

Não o procuro mais em Nossa Senhora dos Eremitas, porque já passou adiante. Assim vão todas as coisas neste mundo: o homem é um transeunte, não se detém nem nos lugares, nem nas coisas, uma voz imperativa lhe grita: “Anda”. Andemos, portanto, caro amigo, mas andemos rumo à pátria onde repousaremos enfim! (Estou escrevendo ao ar livre, nos joelhos; leia se pode, são esses meus costumes no campo). Na sua volta, você me dirá os piedosos incidentes de sua peregrinação a Einsiedeln. Eu lhe contarei os da Salete, será dupla ocasião de edificação. Não se deve procurar, nem sempre esperar, nessa visita dos lugares santos, emoções vivas, graças sensíveis e extraordinárias. A calma e a serenidade da alma na simplicidade da fé são um estado bem doce e que só Deus pode assentar em nós. Precisa, portanto, saber desfrutá-las e não lastimar disposições que são diferentes, sem dúvida, mas que não são melhores. Não saberia dizer que eu tivesse experimentado sentimentos desconhecidos, comoventes no Santuário e nas estações piedosas da Salete. Estava em paz, feliz como se está na casa paterna, que nada tem de agitação, mas onde a pessoa se compraz melhor do que em qualquer outro lugar. A despesa, o cansaço, outros inconvenientes nem eram percebidos e não contavam. Estávamos aos pés da Mãe, nos encontrávamos bem,  teríamos ficado de bom grado. Você sente isso como eu, caro amigo, a Santa Virgem, em nossa fé tão santa e tão perfeita, é a mãe na família; haveria algo a acrescentar? Tire a mãe da família, o fogo se apaga no lar, os bens que sobram ficam desfalcados e perdem quase todo o seu preço. A Santa Virgem ainda é essa lua doce e pura que ilumina as noites. Sim, o sol é radioso; sim, aquece e vivifica toda criatura, mas a lua vai bem aos aflitos, aos corações partidos. É a imagem da Mãe de misericórdia, auxílio dos miseráveis e refúgio dos pecadores. Enfim, Maria é o instrumento por excelência, escolhido pela mão de Deus para executar com o próprio Salvador a grande obra da reparação do mundo. Se tivéssemos, se você tivesse, caro amigo, o cálice que usava São Vicente de Paulo para o Santo Sacrifício, que tesouro, que felicidade! Maria é o cálice no qual foi oferecido o sacrifício pelo próprio doce Jesus: em seu seio virginal, a vítima estava sendo oferecida, imolada e aceita pelo Pai Eterno. E esse cálice não era material, insensível: vas spirituale, vaso espiritual, concorria pelo espírito e pelo assentimento para o grande sacrifício que se consumava. Por isso, através dos tempos, Maria ainda é, e antes de todos os outros santos, o instrumento nas mãos de Deus, o canal de suas graças e o órgão de suas misericórdias.

 

É bem visível que estou em pleno campo. Ponho-me à vontade e não economizo nem tinta nem papel; mas o irmão Paillé está aí e me chama a atenção. Será preciso deixar o lugar e ir às aspirações, diz-se as inalações, soa mais medical e científico, a confiança é maior. A minha não é muito robusta, sofro tudo isso passivamente, já quis voltar a Vaugirard várias vezes e não acho que minha paciência tenha prazos bem longos.

 

Não vejo fatos e gestos bem notáveis a lhe dizer sobre a Comunidade. Nosso amigo, o Sr. Chaverot, saiu de Chaville somente na segunda-feira, dia 7. Achava-se ali no seu lugar, afastava-se com pesar; queria também colaborar na distribuição de prêmios em Vaugirard, talvez? Ele pertence à família e tudo nela o interessa. Como o bom Deus é bom, que dá assim aos seus o gosto das coisas mais simples e as torna amáveis a seus olhos, porque Ele é quem as fez e lhes doa. Benedictus Dominus etc... Que toda a natureza O cante  e O louve conosco! Nosso amigo, Sr. Camus, é menos adiantado, ao menos pelo que está acontecendo. Seu pai, com furores inauditos, ameaças contra sua mulher, contra si mesmo, injúrias contra tudo o que está relacionado com a religião, injúrias violentas, jurou que daria sua maldição a seu filho, no dia em que entrasse em uma Comunidade. Infelizmente, lê le Siècle. Segundo o parecer do Pe. Millériot e o meu próprio, pareceu sábio temporizar um pouco e deixar passar o temporal. Esses tristes fatos têm seu lado bom: firmam e elevam a vontade de nosso amigo. Na sua volta das águas, seu pai declarou que lhe fechava sua casa, a não ser que se comprometesse a renunciar a todo projeto de vida religiosa. Recusou com bravura a tomar esse compromisso, ficou, portanto, em Paris, residindo em aparência no Hotel Fénelon, mas, de fato, quase sem cessar com os nossos. Seu desejo de fazer a vontade de Deus e de bem conhecê-la não mudou um instante. Continuemos, portanto, a rezar, e o Deus de misericórdia tirará dessa vocação um duplo bem: a santificação de um, a conversão do outro.

 

O Sr. padre Laroche está em Chaville, em retiro. Nossos Senhores se entendem maravilhosamente com ele: é, com efeito, um santo padre, um homem inteligente, de um grande zelo, de uma verdadeira piedade.

 

O padre Roussel, muito cansado, descansa um pouco e toma alguns banhos de mar. O Sr. Georges [de Lauriston] cuida da casa de Grenelle, e o Sr. Lantiez vai para lá aos domingos e às quintas-feiras para o espiritual. Estamos examinando a situação.

 

Não lhe digo nada de Allevard, seus bons pais viram o lugar, como você me disse. Essa região tem suas belezas, com certeza, mas vimos coisa melhor nos Pireneus e na Provence. Para os encontros sociais, numerosos aqui, como em todas as estâncias balneárias, ficamos absolutamente estranhos. Aliás, não tenho muito gosto pelas observações nesse mundo, para o qual não temos outra missão a não ser a oração e os bons desejos. Digne-se o Senhor aceitá-los. Até agora, fora a peregrinação a Nossa Senhora da Salete, não sei que lembrança boa teria para trazer dessa viagem, a última talvez um pouco longínqua que deverei fazer, a não ser a impressão de contentamento que ficou em mim pela amável e hospitaleira acolhida de Chalon. Nada faltou para torná-la agradável e delicada para nós: os cuidados atenciosos de sua boa mãe, a cordialidade franca de seu caro irmão, e também, bem particularmente, a presença do venerável Pároco de Saint Pierre, que desejava tanto conhecer e que, de antemão, você me levara a amar. Procure bem, caro amigo, alguma ocasião de agradecer por nós seus bons pais, da maneira mais expressiva; quiseram fazer uma boa ação, conseguiram mesmo. Que o Senhor queira recompensá-los!

 

Adeus, caríssimo amigo, os dias fluem, correrão rapidamente, e o que deverá nos reunir chegará sem demorar muito agora; será um dia abençoado para mim, pois, quanto mais envelheço, mais sinto a necessidade de ser rodeado por meus amados filhos.

 

Seu amigo e Pai em N.S.

 

                                         Le Prevost

 

Ternas afeições e boas lembranças do Irmão Paillé.

 




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