3.3. Necessidade de contínua renovação
Sem ofuscar esta santidade, deve
reconhecer-se que, devido à presença do pecado, existe a necessidade de
contínua renovação e constante conversão no povo de Deus: a Igreja na terra
está "aureolada de uma santidade verdadeira" embora
"imperfeita" (LG 48). Observa St. Agostinho contra os pelagianos:
"A Igreja no seu conjunto afirma: Perdoai-nos os nossos pecados! Ela,
portanto, tem manchas e rugas. Mas, mediante a confissão as rugas são
removidas, mediante a confissão as manchas são lavadas. A Igreja está em oração
para ser purificada pela confissão, e enquanto os homens viverem na terra isto
será assim."25 E S. Tomás de Aquino precisa que a plenitude da
santidade pertence ao tempo escatológico, enquanto a Igreja peregrinante não se
deve enganar a si mesma afirmando ser sem pecado: "Que a Igreja seja
gloriosa, sem mácula nem ruga, é o objectivo final para o qual tendemos em
virtude da paixão de Cristo. Isto apenas existirá, no entanto, na pátria
eterna, e não já na peregrinação; aqui […] enganar-nos-íamos se disséssemos não
ter qualquer pecado."26 De facto, "embora revestidos da veste
baptismal, não cessamos de pecar, de nos afastarmos de Deus. Ora, com o pedido
'perdoai-nos os nossos pecados', regressamos a Ele, como o filho pródigo (cf.
Lc 15,11-32), e reconhecemo-nos pecadores diante d'Ele, como o publicano (cf.
Lc 18,13). O nosso pedido inicia-se com a nossa 'confissão', com a qual
confessamos a um tempo a nossa miséria e a Sua misericórdia" (CIC 2839).
Por isso, é a Igreja inteira que, mediante a
confissão dos pecados dos seus filhos, confessa a sua fé em Deus e celebra a
sua infinita bondade e capacidade de perdão: graças ao vínculo estabelecido
pelo Espírito Santo, a comunhão que existe entre todos os baptizados no tempo e
no espaço é tal, que nela cada um é ele mesmo, mas ao mesmo tempo está
condicionado pelos outros e exerce neles uma influência no intercâmbio vital
dos bens espirituais. Deste modo, a santidade de uns influencia o crescimento
no bem de outros, mas também o pecado deixa de ter apenas relevância
exclusivamente individual, pois pesa e opõe resistência ao caminho da salvação
de todos e, nesse sentido, toca verdadeiramente a Igreja na sua totalidade, por
meio da variedade dos tempos e dos lugares. Esta convicção leva os Padres da
Igreja a afirmações claras como esta de St. Ambrósio: "Estamos bem atentos
a que a nossa queda não se torne uma ferida da Igreja."27 Esta,
sendo santa pela sua incorporação em Cristo, não se cansa de fazer penitência;
e reconhece sempre como seus, perante Deus e os homens, os filhos
pecadores" (TMA 33), os de hoje e os de ontem.
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