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JUÍZO HISTÓRICO E JUÍZO TEOLÓGICO
A determinação das culpas do passado que
devemos reconhecer implica, antes de mais, um correcto juízo histórico que
esteja também na base da avaliação teológica. Deve-se perguntar: Que aconteceu
realmente? Que foi propriamente dito e feito? Só quando for dada resposta
adequada a estas questões, fruto de rigoroso juízo histórico, se poderá também
perguntar se o que aconteceu, o que foi afirmado ou feito, pode ser
interpretado como estando conforme ou não ao Evangelho e, caso não esteja, se
os filhos da Igreja que agiram desse modo, poderiam ter-se dado conta disso a
partir do contexto em que agiam. Apenas quando se chega à certeza moral de que
quanto foi feito contra o Evangelho por alguns filhos da Igreja e em seu nome,
poderia ter sido compreendido por eles como tal e evitado, pode ter significado
para a Igreja de hoje reconhecer os erros do passado.
A relação entre "juízo histórico"
e "juízo teológico" é, portanto, tão complexa quanto necessária e
determinante. Por isso, deve ser posta em prática sem erros de uma e outra
parte; é necessário evitar quer uma apologética que queira tudo justificar,
quer uma indevida culpabilização fundada na atribuição de responsabilidade
historicamente insustentável. João Paulo II, referindo-se à avaliação
histórico-teológica da acção da Inquisição, afirmou: "O magistério
eclesial não pode certamente propor-se levar a cabo um acto de natureza ética,
como é o pedido de perdão, sem primeiro estar rigorosamente informado acerca da
situação daquele tempo. Mas também não pode apoiar-se nas imagens do passado
veiculadas pela opinião pública, pois estão frequentemente sobrecarregadas de
uma emotividade passional que impede a diagnose serena e objectiva […] Por
isso, o primeiro passo consiste em interrogar os historiadores, aos quais não é
pedido um juízo de natureza ética - que ultrapassaria o âmbito das suas
competências -, mas, antes, que ajudem à reconstrução o mais rigorosa possível
dos acontecimentos, costumes e mentalidade de então, à luz do contexto
histórico da época."33
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