5.3. Uso da violência ao serviço da
verdade
Ao contratestemunho da divisão entre os
cristãos é necessário acrescentar o das várias ocasiões em que, ao longo deste
milénio, foram empregues meios duvidosos para atingir fins justos, que são quer
a pregação do Evangelho quer a defesa da unidade da fé: "Outro capítulo
doloroso sobre o qual os filhos da Igreja não podem deixar de reflectir, com
espírito aberto ao arrependimento, é a condescendência manifestada,
especialmente nalguns séculos, perante métodos de intolerância ou até mesmo
de violência no serviço à verdade." (TMA 35) Referem-se aqui as formas
de evangelização que utilizaram instrumentos impróprios para anunciar a verdade
revelada, ou que não operaram um adequado discernimento evangélico dos valores
culturais dos povos, ou não respeitaram a consciência das pessoas a quem a fé
era apresentada, além das formas de violência exercidas na repressão e
correcção dos erros.
Análoga atenção é reservada às possíveis
omissões das quais os filhos da Igreja se tornaram responsáveis nas mais
diversas situações da história, respeitando à denúncia de injustiças e
violências: "Há, depois, o falhado discernimento de não poucos cristãos a
respeito de situações de violação dos direitos humanos fundamentais. O pedido
de perdão é válido por tudo quanto foi omitido ou calado, por fraqueza ou
errada avaliação, pelo que foi feito ou dito de modo indeciso ou pouco
idóneo."40
Como sempre, é decisivo estabelecer,
mediante a investigação histórico-crítica, a verdade histórica. Estabelecidos
os factos, será necessário avaliar o seu valor espiritual e moral, como também
o seu significado objectivo. Só assim será possível evitar toda a espécie de
memória mítica e aceder a uma justa memória crítica, capaz - à luz da fé - de
produzir frutos de conversão e renovação: "Desses momentos dolorosos do
passado deriva uma lição para o futuro, que deve induzir todo o cristão a
manter-se bem firme sobre aquela regra áurea ditada pelo Concílio: 'A verdade
não se impõe de outro modo senão pela sua própria força que penetra nos
espíritos de modo ao mesmo tempo suave e forte' (DH 1)." (TMA 35)
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