5.4. Cristãos e judeus
Um dos domínios que exige particular exame
de consciência é a relação entre cristãos e judeus.41 A relação da
Igreja com o povo hebraico é diferente da que tem com todas as outras religiões.
42 Contudo, "a história das relações entre judeus e cristãos é uma
história tormentosa […] Com efeito, o balanço destas relações durante os dois
milénios tem sido predominantemente negativo".43 A hostilidade ou
a desconfiança de inúmeros cristãos para com os hebreus ao longo dos tempos é
um facto histórico doloroso e causa de profundo pesar para os cristãos
conscientes do facto de "que Jesus era um descendente de David; que do
povo hebraico nasceram a Virgem Maria e os Apóstolos; que a Igreja é sustentada
pelas raízes daquela boa oliveira em que foram enxertados os ramos da oliveira
brava dos gentios (cf. Rm 11,17-24); que os judeus são nossos caros e amados
irmãos e que, em certo sentido, são verdadeiramente os "nossos irmãos mais
velhos".44
A Shoah foi certamente resultado de uma
ideologia pagã, como era o nazismo, animada de um cruel anti-semitismo, a qual
não só desprezava a fé mas também negava a própria dignidade humana do povo
hebraico. Contudo, "deve-se perguntar se a perseguição do nazismo nos
confrontos com os judeus não foi facilitada por preconceitos antijudaicos
presentes nas mentes e corações de alguns cristãos […] Ofereceram os cristãos
toda a assistência possível aos perseguidos e, em particular, aos judeus?"
45 Sem dúvida que foram muitos os cristãos que arriscaram a vida para
salvar e assistir os judeus seus conhecidos. Parece, porém, igualmente verdade
que "ao lado destes corajosos homens e mulheres, a resistência espiritual
e a acção concreta de outros cristãos não foi aquela que se poderia esperar de
discípulos de Cristo".46 Este facto constitui um apelo à
consciência de todos os cristãos, hoje, exigindo "um acto de
arrependimento (teshuva)",47 e tornando-se um estímulo a
que redobrem os seus esforços para serem "transformados, adquirindo uma
nova mentalidade" (Rm 12,2) e para manterem uma "memória moral e
religiosa" da ferida infligida aos judeus. Nesta área, o muito que já foi
feito poderá ser consolidado e aprofundado.
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